Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2019

Carência

Eu não quero ser um monopolista da sua atenção, do seu afeto. Você sabe que eu exijo pouco, muito pouco, não lhe dou muito trabalho. Você bem que poderia fingir que se importa, demonstrar algum afeto, mesmo que insincero; migalhas são melhores do que nada, pelo menos a princípio. Você me olha, mas não me vê; sou apenas um estereótipo pra você, a imagem idealizada e sintética que facilita a sua falta de vontade de saber quem eu realmente sou. No seu universo umbigocêntrico não há muito espaço para mim; orbito o seu ego por inércia, por medo de perder o que talvez nunca tenha conquistado, por uma falência total do meu suposto amor próprio. E o pior de tudo é olhar para o espelho e notar que não está mais lá a minha face, pois é você neste instante que vejo.

melancolia

Eu sinto que não sinto mais nada, mas eu sei que isso é falso; há uma angústia, um desespero, um não sei quê que ronda silenciosamente, que vasculha, que oprime. Finjo, portanto, que está tudo bem. A vida é isso mesmo, caminho sem volta, algo insípido, doloroso, prolongado. Não há pessoas que gostaria de voltar a ver, e as que vejo não me animam muito. Falta alguma coisa, inteligência talvez, mas não é só isso, falta afeto, falta empatia, falta um olhar que não seja ensimesmado, absorto ou perdido em divagações sobre aquilo que o mundo supostamente nos deve. 

Palavras ao vento

Nada traz mais infelicidade do que a busca incessante pela felicidade. Não quero ser a opção que preenche a sua falta de opções. Por que o seu silêncio é tão cheio de enunciados? Não escolhemos quais desejos teremos, apenas decidimos o que fazer então com tais desejos. Quero deitar, dormir e só acordar no próximo século. É tão dolorido desejar alguém que não nos deseja. Você nunca se cansa de si mesmo!? Filosofias, ideologias, política… Prefiro muito mais o silêncio. Todo mundo está falando ao mesmo tempo, mas ninguém tem o que dizer. Morte: desejo de não desejar mais nada. Você não vale nada, ponto. Não se preocupe, vou continuar falando apenas aquilo que você quer ouvir. E que fique o dito pelo não dito.

Confissões de um homem blasé

Tenho medo de me perder: tudo tem que ser controlado, regrado, sistematizado, elevado à enésima potência. – Mas não há potência alguma! Só mesmo uma vontade de não me afetar nunca, de não demostrar coisa alguma, de ser, aos olhos dos outros, perfeito. Estou à deriva, criando defesas, flanando pelo mundo sem me sentir parte de algo. Tudo vazio, incompleto, desconcertante... Reflexo de mim mesmo, um simulacro, uma cópia barata; ser serviente tentando ressignificar o nada. 

Mentiras que contamos para nós mesmos

Minto para lhe agradar, para que você me ame. Faço das tripas coração, de abismos pontes, de medos versos. Crio narrativas, invento mundos, deixo a vida em banho-maria. Digo algo, depois desdigo. Sou constante em minha inconstância, sol da meia-noite, antítese de mim mesmo. Minto, minto mais uma vez; sinto, muito. 

Compartilhe: