Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Romantismo

Vislumbre

Só tive um vislumbre de você, quando parei de pensar apenas em mim mesmo, quando deixei que a vida me levasse por caminhos que antes nunca trilharia.   Sinto agora em meu peito uma afeição crescente, uma vontade louca de estar sempre ao seu lado e de me perder, de uma vez por todas, no oceano sem fim do desejo.   Não consigo colocar em palavras tudo aquilo que sinto, mas o pouco que consigo pôr no papel me traz tanto alívio.   A sua ausência me corrói, destrói, me tira o chão, me faz em pedaços… E a sua presença me faz existir, resistir.   E tento, mais uma vez, compor um outro final feliz para uma história ainda sem título, para mais um romance de folhetim.

Felicidade

Tua face dourada ao sol da campina; és remanso, orvalho, neblina. *** No relvado florido de sonhos ilhados, cultivas desejos e jogas os dados. *** Talvez tenhas apenas uma vontade: ser a luz para além da idade.

Relicário

Palavras ao vento, perdidas no tempo; resquícios e relíquias de almas que não se encontram, de vidas que não se cruzam. Palavras de desalento e desencanto, ferinas, amargas, sinônimas de cicatriz, dor e pranto. Palavras sussurradas ao pé do ouvido, com carinho e cuidado, que reverberam nos sedentos corações. Palavras secretas, inconfessáveis, guardadas a sete chaves. Palavras de gratidão e prece, inaudíveis, transcendentes. Palavras e seus significados semânticos e românticos. Palavras: Caos e Silêncio.

Soneto de Recordação

Um banco, uma praça, em uma tarde dourada, eis que te vejo do nada, com luz, perfume e graça. *** Uma memória emoldurada: uma conversa que enlaça; pássaros a fazer arruaça; vida, sinais e uma nova florada. *** De tudo, o que fica é a saudade, que cresce sempre à tardinha, lânguida, contida e evanescente. *** Cresci nesta simpática cidade, – com sua grama bem cortadinha –, contemplando o mesmo sol poente.

Poeminha contraditório

Quero escrever um poeminha à toa, um poeminha vagabundo, desses que não dizem nada, que estão aí só por estar, sem pretensão alguma, sem razão de ser: – Que poeminha bom é estar junto a você! –

Relvado

Quero encher o seu cabelo de flores, fazer do meu empedernido coração um quê de louvor e prece; diante da relva molhada, quem sabe numa manhã emoldurada, transladar argênteo sonho, jovial e alvissareiro, para o mundo cá em baixo; ouvir sua voz edulcorada, sentir seus dedos deslizando suavemente, ousadamente... *** Uma doce sensação, mistério e paixão; eco renitente de uma antiga (e sempre nova) rima.

Nefelibatas & Selenitas

Mesmo nos ares, distraído, sonhando acordado, eu fito continuamente o abismo. Dentro da casa do claustrofóbico saber, um quê de irremediável agonia. Ah, uma janela, ei-la: uma abertura para o infinito não-ser. Debruço-me sobre ela, ébrio, e pressinto sensações multicolores, um esmorecimento da lógica e da razão. Nuvens, luas de Saturno, véus e cristais, ledos crisântemos e pássaros de fogo, cataratas, valsas, principados, amores, fogos-fátuos e fiordes...

Em tua companhia

Em nossas tardes deleitosas, o surgimento de afinidades eletivas, a fusão de almas que se atraem. Um souvenir na penteadeira, um antigo livro na estante; uma agradável reminiscência, uma poética dedicatória. Ao som da tua voz equidistante, uma sucessão de ideias, sensações e sentimentos;   perto mesmo que longe, vida além-horizonte. Ermos sítios do espírito à espera de uma luz; tu és para mim aquilo que nunca se traduz.

Dolce far niente

Alegria de nada fazer, de repousar nos teus braços, de ouvir tua voz. És remanso acolhedor, luz benfazeja, sacrário de ternura. Com teu toque delicado, afastas a noite perene, desanuvias meu humor. Mergulho de cabeça no leito das horas, flutuo em meio a um céu de doces sensações; desejo ardentemente  que o dia não termine . Absorvo mais uma vez o aroma de tua essência indecifrável, deixo teu olhar aquecer minh’alma; diante de ti, no silêncio da passagem inexorável do tempo, sinto a quase completude do ser. 

Fino Amor

Teodolinda, Leonor, Heloísa, iluminuras de um passado descontente, doutas mulheres de uma ímpar tessitura, fazedoras de sonhos e sofrimentos. Quisera eu viver provençais amores, com seus êxtases, sais e olores. Quisera poder me arrastar pelo mundo, ungido por um amor premente, dizendo a toda gente que culpado sou. Ah, e pelo menos uma vez, ao som do alaúde, contemplando tal formoso semblante, conseguir me aproximar num rompante e confessar meu  anacrônico  flagelo: um amor cortês sem castelo.

Hipótese temerária

Descrevê-la como corajosa, espontânea, autêntica, é de uma obviedade ululante. Por certo, caso eu lhe dissesse algo do gênero, ela me responderia: "diga-me algo novo, por favor, alguma coisa que eu ainda não saiba". Eu ficaria então perdido, atônito, sem palavras. Meu encantamento por ti me faz emudecer; sou um escravo da beleza e do desejo. Depois do susto, faria de tudo para lhe agradar, diria o que não sinto, multiplicaria palavras sem necessidade. Ela perceberia o simulacro, leria sagazmente as entrelinhas, abria as asas e voaria para longe.

Sinestesia

O sabor da tua voz A cor do teu perfume O som da tua pele O cheiro dos teus olhos castanho-esverdeados Mergulho fundo Sinto torrentes, espasmos, trepidações por todo o corpo A brisa reverbera uma suave melodia O Bem-te-vi me dá as boas-vindas Seguro firme a tua mão E as aleias se fecham após a nossa passagem. 

De cor

Conheço bem a tua decoração, cada fita, vestido ou penduricalho. Conheço de cor o teu sorriso, o jeito como me olhas, a forma como ajeita as madeixas. Conheço o teu jeito de me repreender, de mostrar que estás zangada. Mas, por mais que tente, só arranho a superfície do que tu és: esfinge amorosa, flor deleitosa, bálsamo, tormenta e orvalho. És arte e música barroca, luz e sombra, harmonia e contraponto, som e fúria. Bem, tu és o que não sei dizer, o que não ouso descrever, aquilo que está para além de minha compreensão. ... Só sei, ainda que imprecisamente, sobre o que sinto: júbilo e lamento de amor.

“A luz dos olhos teus”

Estou diante de ti – um abismo se abre à minha frente –, procuro palavras, mas não as encontro. Diante dos teus olhos, do teu sorriso, o tempo desacelera, percebo então cada nuance, cada gesto, e de repente não te vejo mais; mergulho em mim mesmo, faço de ti o ideal perfeito, pintura renascentista, estátua grega. Estremeço diante dos teus olhos, diante da obra-prima por mim criada; tu continuas a me fitar, sorrindo, e eu não enxergo é mais nada.

O outro

Eu não sei quem tu és. Acho que nunca saberei. Eu sei que gosto de ti, que aprecio as tuas virtudes, que percebo os teus defeitos, mas não posso, através do que vejo e sinto, alcançar o âmago do teu ser. Talvez nem você possa. Tu és, para mim, a imagem que faço de ti,  e isso me é suficiente, não que eu fique contente com isso, mas não posso fazer nada para mudar tal realidade. Quero apenas a tua presença aqui, quero que me fales sobre as tuas angústias, sobre o que agita a tua alma, sobre o que aquece o teu coração. Eu estou contigo, e tu comigo estás, mesmo que estejamos apartados, seguindo caminhos opostos. 

Ode à alegria

Um acorde dissonante rasga as trevas do coração, uma luz inesperada revela formas desconhecidas, e o que outrora parecia ser o fim de um mundo seguro e confortável revela-se como o indício de uma primavera interior. Estamos diante do esfacelamento do real. Algo se quebrou, não há mais como voltar atrás! Angústia, caos, isolamento, um grito de desespero; amor, ternura, solicitude, um ato de verdadeira transfiguração. Alquimicamente, sem que percebamos, o ciclo da vida se renova; não somos mais os mesmos, a vida não é mais a mesma, mas temos em mãos outra paleta de cores. (O real nunca é o real-real, mas sim o real filtrado, adornado, transubstanciado.)

Anjo da Manhã

Vejo-te em tudo, em todas as coisas. Quando estou perdido, tua luz me guia. Quando estou triste, tua voz me conforta. Nem sempre digo o que penso; em certas horas as palavras me fogem. Nem sempre digo o que sinto; muitas vezes não consigo explicar aquilo que se passa comigo. Sei apenas que um vazio perpassa toda a minha alma, e sei também, certeza antiga e arraigada, que não há horizontes, razões, sentido... Bem, só sei agora que tudo isso não é nada  quando aqui comigo tu estás; és a força vital que me renova, és o meu  sol florescido .  

Desiderato (Poemeto)

Não há palavras, só sensações, um quase nada, um sentimento difuso, algo que vai crescendo, crescendo, tomando conta de tudo, fazendo de você o meu mundo.

No Jardim de Vênus

Linda, linda moça, ouça o seu coração! Saiba que não há amanhã, não há caminho de volta. Aqui uma conversa moderna : você é minha alma, você é meu tudo, e por isso eu vivo em chamas, sem fôlego, sonhando, desejando. Estou em queda livre, mas você não vê! Perco-me constantemente, mas você não me encontra. O amor é um oceano, e eu um barco à deriva. – Então, quer bailar comigo!? 

Em sonhos...

Deslizo suavemente a ponta dos meus dedos sobre a sua pele macia e agradável, sinto o seu rosto abrasado, a sua silhueta sedutora, a umidade irresistível dos seus lábios... Perco-me, de repente, no oceano dos seus olhos; não quero mais voltar a nenhum porto seguro ou cais, pois o não estar apoiado em nada, náufrago de mim mesmo, é-me tudo. O seu perfume me faz desejar ser o que não sou, ir além daquilo que posso. E seus cabelos, ouro nativo, me faz sonhar com glórias futuras e presentes, me faz querer ser rei de um mundo desconhecido, um altivo explorador. Sinto, então, uma vibração profunda por todo o meu corpo, como se estivesse, talvez porque realmente esteja, em sintonia com o universo, múltiplo e uno em você.

Compartilhe: