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Mostrando postagens com o rótulo Realismo

Imperiosa vontade

Quero ser mais sincero comigo mesmo. Quero começar e terminar muitas coisas. Quero pisar na relva molhada e ter um pouco de paz.  *** Não quero sondar os pensamentos alheios. Não quero viver acorrentado aos desejos de terceiros.  *** Quero estar na fronteira última do mundo, atravessar o fogo que nos separa, flutuar no vazio da infinitude.  *** E, sobretudo, quero um querer que não esfrie.

Tudo e Nada

Você vive em minhas memórias, habita o recôndito sagrado dos meus pensamentos, perscruta o abismo do meu ser. *** Tudo é igual e ao mesmo tempo diferente; é tão difícil agora seguir em frente.  *** Aqui é Tudo; após, o Nada que assombra o Mundo. *** Caminho, desnorteado, por entre narrativas confusas, visões utópicas e mentiras descaradas. Caminho… e descaminho.

Foto instantânea

Demorei muito pra chegar até aqui: anos de sofrimento, quedas e silêncio. Posso agora tocar os astros, ouvir o som das esferas, ultrapassar o mar da solidão. Posso olhar para trás sem remorsos e para frente sem ansiedade. Posso, enfim, ceder; ser derrotado mas mesmo assim vencer.

Disparate

Debaixo do sol ofuscante do meio-dia, segredos que não posso ver, verdades que não posso tocar. Nas retas curvilíneas das perguntas sem respostas, fantasmas e sombras, correntes e grilhões. Estilhaços por todos os lados; reflexos de uma existência sem sentido. O absurdo vai crescendo aos poucos, como um musgo, tomando conta de tudo. *** E o caminho está fechado, obliterado, pra nós.

Selvagem até o âmago

Uma delicadeza transgressora Uma carícia displicente A Flama, a Lama, o Medo Solo agreste da Alma *** Muitas vezes a poesia não flui, e as musas se calam: insipidez e escuridão *** Sofrimento, cinzas, mais sofrimento Palavras em um dialeto estranho Flores murchas no canto da sala Imagens, sons, cheiros – inquietude – *** sonhos dispersos e papéis avulsos

Ciclos

Silêncio. Eu tentei, juro que tentei, mas você não me ouviu, nem mesmo disfarçou a sua indiferença.   Desespero. Nas tristes horas da noite, eu vislumbro o açoite da desesperança, dilacerando sonhos e expectativas.   Solidão. As cortinas estão fechadas, e meu corpo, definhando, angustia-se com o nada que me consome.   Aurora. São tantas as portas, tantos os caminhos da solidão, ou do coração; tento apenas quebrar o ciclo uma última vez.

Casa vazia

É o fim. É o fim de tudo, eu sei. Quando eu voltar, você não estará mais lá; casa vazia, coração em pranto, e nas mãos o açoite da realidade. Eu me arrastarei por entre cômodos e incômodos, calado, ouvindo palavras que você nunca disse, tentando, em vão, me iludir. Nas estantes, livros cheios de traços e traças; nas paredes, fotografias em preto e branco. As gavetas estarão vazias, a cama estará desarrumada, minha vida, desaprumada. O tempo começará a desmoronar, e eu me sentirei despatriado, perdido dentro de mim, caminhando rumo a lugar nenhum.

Praticidade

Eu espero um pouco mais, tento não me desesperar. Horas se tornam dias, dias se tornam anos, e o silêncio reverbera, e luzes rarefeitas escoam pelas frestas do tempo. Lá fora o vento frio do outono sopra indiferente, já aqui dentro sinto uma solidão dilacerante. Estou tentando ser mais paciente, menos intransigente, mas não está sendo fácil. *** Desidealizar o amor, as amizades, a vida; é preciso ser aquilo que se precisa.

Incivilização

Nas asas da loucura, seguindo na contramão, eu estou à beira do meu leito, quase caindo em mim, quase achando alguma solução. Todo dia as mesmas notícias: necrose, ignorância e incivilização. Tomo mais trago deste mal ardente; em devaneio, penso no próximo carnaval. Não quero mais isso nem quero mais aquilo. Anacronicamente, e de uma vitrola improvável, ouço a voz renitente de Sérgio Sampaio: “silêncio na tarde dos homens, silêncio”

Desencanto

Caminho para lugar nenhum Um olhar vazio, distante Você nunca está lá Os salões cheios de passageira esperança Festiva loucura que não termina A angústia como uma lâmina afiada Quinquilharias que junto pouco a pouco Triste, pálido (e contínuo) dia de inverno O grito não sai O odor permanece Só agora começo a entender a sua doce insensibilidade.

melancholia

Vagando entre as criaturas da noite, com um coração petrificado, vejo lúgubres figuras, sonhos terríficos, o passar dilacerante do tempo. *** Tento – sem nunca conseguir – acabar com tudo, com a viscosa esperança que me persegue, com a consciência de que não há caminho de volta. Até agora nenhum sintoma aparente, febre ou loucura; a normalidade se mostra em toda a sua triste magnificência. *** À sombra de um cipreste, longe de qualquer presença humana, contemplo o vasto e indiferente céu outonal.

Vidas inexatas

O cadafalso à espreita a busca por um sentido viver é, antes de tudo, impreciso Uma ponte sobre o rio das lágrimas um voo cego e cheio de vicissitudes o luzir da esperança Torrentes de desejos versus claustro da retidão perpétua labuta para afastar a entropia o vil desordenamento o caos lento e inevitável.

Vanitas vanitatum

Sou uma vítima de minhas próprias expectativas, um artista a produzir um mundo às vezes edulcorado, um servo voluntário de um amor desfeito. Na memória, empolgações fugidias de uma noite sem verão; neste momento, o contínuo tédio das horas tristes que nunca me abandonam. Feridas, mágoas, cicatrizes; um vívido pesadelo que não passa. Vou adentrando pouco a pouco no terreno insólito de uma solidão que se faz cada dia mais aguda e sufocante. Há muito já se passou o tempo do desespero, do grito e da convulsão; trago comigo apenas uma esperança desesperançada e um vazio crescente ao longo desta eterna madrugada.

Palimpsesto

Na face oculta do medo, há um ódio arraigado prestes a eclodir. Quando palavras sem sentido, cicatrizes invisíveis, ressentimentos e humilhações pululam em um interior dilacerado, algo de inominável toma forma. Lágrimas de sangue, iracúndia, irracionalidade, tudo vem de uma vez só, extinguindo qualquer réstia última de luz. E a escuridão se torna onipresente: bestas-feras saem de seus covis.

Desiderato

Angústia, tristeza, solidão, fim do mundo, falta de sentido, isolamento autoimpingido; quero encontrar algo que me distraia da realidade. Nada posso contra o caos que me atordoa; a noite é longa, e o sono não chega. Por ruas desertas, o perigo se esconde em cada canto, já o silêncio se torna um incômodo, um abismo exasperante. E a vontade não morre, apenas hiberna, aguarda o momento propício, o tempo de reaproximação.  

Nepente

Olvidar a angústia que me rasga a pele, a sensação de que algo me persegue, deixar para trás a memória, a vida, sonho. Não há muito mais o que se fazer; mergulho de uma vez por todas no nada que me engolfa, que me emudece, fazendo-me aos poucos desaparecer. De repente, e de forma previsível, o silêncio se faz pungente; tenho o que preciso, mas não aquilo que mais queria. 

Desilusões

Estou sem chão, sem horizontes, em queda livre... Perdido no espaço que nos separa, eu me encontro aturdido, cansado; sou uma sombra, um presságio. O tempo passa apressado, uma casa sem alicerces rapidamente afunda, e eu, dia após dia, arrefeço pouco a pouco. Está tudo diferente, mas também igual. Ainda é dia, mesmo que não haja mais alegria, sonho ou sol.  

Encontros e Despedidas

você veio com o vento chegou de mansinho sem que eu percebesse preencheu os espaços vazios acendeu todas as luzes fez o que queria você sumiu com o vento foi embora de repente sem dizer adeus deixou o que não tinha criou uma lacuna fez nascer um entorpecimento e um não sei quê que me aperta sem cessar o peito (... vidas vividas no silêncio.)

Escriba moderno

Tabuletas de argila, pergaminhos esquecidos, códices medievais, livros impressos, eis um mundo redescoberto. Jornais, revistas, panfletos; uma profusão de palavras e significados. Bits e bytes, blogs e redes – acesso instantâneo; o leitor transubstanciado em autor, uma democracia conturbada. – Como cansa tudo isso! Ah, os clássicos, um acesso ao passado, uma luz para o futuro.

Pedacinhos

A taça se estilhaçou, só sobraram palavras vazias, cacos pequeninos de uma história que se desfez. Na pressa de limpar, de virar a página, acabei cortando o dedo em um pedaço de memória; tantos fragmentos: confissões, risos, olhares que valiam por discursos inteiros... Sinto que me despedacei também; me transformei em poeira, fui levado pelo vento. Não tenho mais ilusões; eu sei que me perderei outra vez em outro alguém. 

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