Pular para o conteúdo principal

Postagens

Dedicatória

Mesmo sabendo que nunca encontraremos um sentido a priori que justifique a nossa existência. Mesmo tendo consciência de que caminhamos inexoravelmente rumo ao Nada, ao vazio que abarca a tudo e a todos em algum ponto do futuro. Mesmo reconhecendo a insignificância do ser e a sua total irrelevância, seja em atos, palavras ou obras. Mesmo assim, quero registrar aqui algo indubitável: és importante e deveras querido em meu universo interior, que é o lugar onde habita a essência mutável daquilo que sou – pelo menos por um breve período.

Saindo de si mesmo para se reencontrar

Somos seres incompletos, imperfeitos e insatisfeitos. Vivemos, portanto, sempre à procura de algo que nos torne completos, perfeitos e realizados. Mas onde poderemos recuperar aquilo que nos falta? Estará esse pedaço perdido escondido no mais íntimo do nosso próprio ser ou guardado em outro alguém que ansiamos muito por encontrar?   Bem, nem tudo o que procuramos no outro está dentro de nós, e nem tudo que nos falta pode ser preenchido por outra pessoa. Não acho, no entanto, errado buscar no outro algo que nos falte, errado é nos submetermos a situações ruins nessa busca, fingindo que encontramos aquilo que tememos nunca encontrar, ou mesmo nos enganando com a afirmação de que não nos falta coisa alguma. Se há carência e solidão, provavelmente há algo faltando, e este algo pode ou não ser encontrado, isso depende muito das circunstâncias, empenho e características de cada um.   Devemos aprender a lidar com os vazios que existem dentro de cada um de nós. Cada indivíduo tr...

Vida e Sentido

Nós possuímos uma clara tendência à criação de padrões, estabelecendo em tudo relações de causa e efeito, criando assim – pelo menos em nossas cabeças – uma sistematização de algo que nos parece caótico. Não me refiro aqui a existência ou não de padrões na natureza, nem ao modo mais adequado para perceber tais padrões, me atenho principalmente ao fato de que somos seres moldados evolucionariamente para a busca de sentido. Arquitetamos narrativas para a criação do mundo; inventamos histórias que justifiquem os nossos sofrimentos; buscamos respostas para os mínimos eventos do nosso cotidiano; entrelaçamos todas as coisas em um arcabouço teórico ordenado, lógico, verossímil, porém falso. A problemática neste ponto está na dificuldade que temos de nos desapegarmos de nossas próprias certezas; o homem, de fato, sempre será “a medida de todas as coisas”, não temos como fugir das limitações impostas pelos nossos sentidos e, principalmente, pela nossa restritiva capacidade cognitiva.  O ...

Espiritualidade sem religião é possível?

 Antes de qualquer coisa, devemos entender que religião é tradição, é ouvir a sabedoria dos nossos antepassados, é aprender com os erros daqueles que já trilharam o mesmo caminho que estamos trilhando agora.   Podemos cultivar uma espiritualidade sem uma religião que a sustente, podemos inclusive cultivar uma espiritualidade sem Deus, mas o que a experiência nos mostra é que as pessoas que possuem uma religião e a praticam conseguem desenvolver muito mais facilmente a sua espiritualidade.   De um modo geral, as pessoas mais espiritualizadas são as religiosas, pois estas seguem preceitos e orientações, dedicando a sua vida a uma contínua busca pelo aprimoramento próprio. Quando o indivíduo abandona a religião e tenta ele mesmo cultivar essa espiritualidade ao seu modo, ele acaba geralmente afrouxando o seu compromisso pessoal com a sua própria melhoria – antes a pessoa tinha que ser melhor porque Deus queria, agora ela precisa ser melhor pelo simples fato de que que...

Horizonte

Para perscrutar o âmago das coisas, introspecção. Para vislumbrar a natureza das relações humanas, solidão. Para conservar aquilo que a vida tem de bom, muita persistência e coragem. Não há respostas prontas, não existe caminho fácil. Suor, lágrimas, perdas, dedicação, superação, alegria, tudo se condensa numa existência única e particularíssima. Olhar e apreender o sentido daquilo que talvez não tenha em si sentido algum; respeitar a especificidade e a importância de cada pessoa; respirar muitas vezes o ar irrespirável do caos que nos cerca; seguir em frente mesmo quando a esperança se torna rarefeita; recriar no nosso imaginário, no nosso espírito, a harmonia tão desejada; ressignificar e perseverar sempre! Uma leve brisa sopra ao pôr do sol. O expediente termina, a noite cai, todos procuram pelo aconchego de um lar. Durante a madrugada, chove torrencialmente. E, em certo momento, o silêncio se faz absoluto. De repente, o despertador toca, a casa começa a criar vida novament...

História

Tristes laudas de meu último desespero: a noite chega o livro finda a busca cessa Tudo se assemelha a um intenso nevoeiro... a marca de uma lágrima o gosto amargo de uma derrota o sorriso revigorante de um recomeço Vagas lembranças de um passado incerto; dunas que se moldam ao bel-prazer dos ventos.

Feliz Ano Novo!

A morte não carrega em si nenhum grande mistério, mas a vida sim. Não é difícil perceber, por um lado, que a não-existência é a principal e mais constante regra do universo e, por outro, que a existência é simplesmente uma maravilhosa exceção. Estar aqui e ter consciência disso é de uma magnificência incomensurável. E poder dividir esse momento com vocês é melhor ainda! Feliz Ano Novo!

Cinema: a história não contada

Dragões, espaçonaves, zumbis, vampiros, ciência, magia - podem colocar tudo o que quiserem na tela do cinema, só não se esqueçam, por favor, de contar uma boa história. Hoje, os efeitos especiais, cada vez mais, tomam o espaço de um bom roteiro. Explosões, acontecimentos fantásticos e muita ação desenfreada estão, não sei se intencionalmente ou não, substituindo uma boa narrativa. As personagens, que antes eram o núcleo do filme, transformam-se muitas vezes em meros joguetes da trama, pois o que importa mesmo é mostrar a riqueza de um universo criado para conter a insanidade decorrente de duas horas ininterruptas de completa estupefação (ou puro tédio). A imaginação sem limites e os efeitos especiais devem, sim, ser usados, mas da forma correta, como recursos narrativos, e não como fins em si mesmos. Não há nada de errado em querer ver mundos fantásticos, robôs gigantes, seres sobrenaturais ou raças alienígenas. O problema está em se esquecer que o que cativa realmente o público,...

Sapere aude (atreva-se a saber)

O conhecimento é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados (alguém mais inteligente e mais vivido do que eu com certeza já deve ter dito isso antes). Somos seres banais, superficiais e fúteis, quem disser o contrário disso é porque, além dessas três coisas, é mentiroso também. Há que se compreender que o excesso de informação de nossos dias não gera, por si só, conhecimento, pois, para se chegar ao conhecimento, é preciso selecionar qualitativamente as informações úteis num arcabouço que tenha pelo menos dois elementos: lógica interna e lastro na realidade.

Pretender

Sim, sou eu, eu sou o Grande Fingidor, fingindo que o meu coração é seu, fingindo que tudo está bem, fazendo do mundo o meu palco, buscando sempre novas paragens. *** Eu sou tão líquido quanto a modernidade, tão real e absurdo quanto a vida, tão obsessivo e irracional quanto o ser. Prisioneiro que sou da liberdade, chego a acreditar em tudo, até mesmo no amor. *** Sou, enfim, o grande ressentido, o falso altruísta, o grande demagogo. Sou a verborragia desvairada e pedante, a piedade não piedosa e a incongruência. *** Sou porque percebo o Tempo e contemplo o Nada.

Stand by me - don't let me down!

Mirando o espelho, vejo, aterrado, a minha própria deterioração. Vislumbro então o esboço de um futuro nada promissor, e, de uma forma quase que instintiva, percorro o meu passado em busca de algo um pouco mais acolhedor. Regresso, pois, ao precioso momento em que achei que tivesse me encontrado finalmente comigo mesmo diante da presença de uma pessoa que me era, naquela época, muito querida; sussurro as palavras: fique comigo, não me abandone; sim, tudo agora está envolto nas brumas inexoráveis do tempo.

Contra o consenso

Estar certo ou ser feliz – eis a questão. A grande maioria das pessoas prefere sem titubear a segunda alternativa, achando que assim poderão estar certas também, o que pode se mostrar um grande erro a longo prazo, pois a maior improbabilidade que existe é a probabilidade de que tudo esteja ao nosso alcance e controle. Não é à toa que o mundo é do jeito que é, e isso não é de hoje, quem sabe os homens do Paleolítico fossem bem menos lascados do que nós; a vida poderia ser muito mais dura naquela época, no entanto, devido sobretudo às necessidades de sobrevivência da espécie, não havia tanto tempo ocioso para ficar pensando em determinadas bobagens.  Mas voltando à questão inicial, os debates de ideias hoje em dia possuem quase sempre apenas um lado - geralmente o mais errado e estúpido. Ninguém quer mais procurar fatos e evidências. Refutar, aprofundar ou discutir algo dá muito trabalho, o melhor é aceitar que as coisas são como são, não duvidando de nada. Complicar pra quê, não é...

Mentes pequenas num cosmo incomensurável

Há muito tempo, numa galáxia muito, muito desimportante, num quadrante esquecido de um sistema solar ainda mais desimportante, encontramos um pálido ponto azul; ao nos aproximarmos, porém, um pouco mais, verificamos tratar-se de um pequeno planeta praticamente inofensivo e irrelevante. Os habitantes, quase sempre entediados, desse planeta queriam audaciosamente chegar aonde nenhuma espécie jamais esteve, pois achavam que assim, de alguma forma, sentiriam um pouco menos de tédio. Para tal grandiloquente objetivo criaram e desenvolveram supercomputadores, foguetes, satélites, robôs e naves espaciais. Primeiramente, colonizaram a lua próxima, depois o planeta vizinho, o que consideraram apenas conquistas de pouca monta, por isso, ainda insatisfeitos, saíram em busca de planetas habitáveis fora de seu próprio sistema solar. E, para que esse intento fosse possível, construíram uma grande espaçonave usando toda a tecnologia e ciência acumuladas; uma nave totalmente autossuficiente para a...

Pirassununga

Uma avenida de ipês amarelos; um coreto com peixes coloridos; vários restaurantes e muita água rolando por baixo de uma velha ponte; uma igreja com suas colunas e altares laterais; um colégio e seu porão; um coração de fumaça desfazendo-se num céu de brigadeiro; uma estação de trem chamada vida; uma terra de amores, sonhos e alegrias...

instantâneo

Sussurro no seu ouvido palavras desconexas. O vento fustiga as janelas. Aqui, com você, está quente, mas lá fora a tempestade ruge. Por um instante a existência parece fazer algum sentido. Eu sei que, ao canto da cotovia, tudo se dissolverá, (ah, o rolo compressor da realidade) mesmo assim, neste momento, quero apenas contemplar um pouquinho mais as curvas suaves do seu corpo, fixar na minha memória o seu sorriso.

inconsciente poético

Já fui pra Pasárgada – lá não me quiseram. Já tropecei na pedra do caminho largo. Fui ao meu amor sempre atento, mas não durou muito. Hoje, a minha vida não está completa, nem tocar um tango argentino eu posso mais. Fico aqui, com esta minha fala entupida, compondo quimeras, buscando regressar à terra das palmeiras e do sabiá.

Os lírios do campo já murcharam...

Tropeço na noção de tempo e me esparramo na relva molhada; contemplo nuvens de glórias passageiras até mergulhar num céu azul-piscina. Volto aos tempos de criança. Há uma toca de coelho no meu jardim; faço-me de explorador e, audacioso, encontro Beatriz e Virgílio pelo caminho. Hipopótamo, anos, séculos, eras... Tudo retorna para o mesmo ponto, para a mesma singularidade. A vertigem finalmente passa, descerro os olhos: nuvens, céu azul, infinito

luta

Uma longa noite frio muitas estrelas brilham num céu de abandono O passado reverbera... tantas esperanças, tantos sonhos Os predadores estão por todos os lados Os recursos são escassos Ao redor de uma fogueira improvisada homens contam histórias sobre homens que contam histórias.

ciclo

O frio estava intenso; a neblina dava à rua um ar de imaterialidade. O sol, ainda tímido, exalava os seus primeiros suspiros. Meus passos candentes abriam caminho através da cidade solitária. Aos poucos, as casas foram criando vida, e as ruas ficaram cheias: pedestres, cachorros, carros, bicicletas, crianças, conversações, gritos, latidos e buzinas. A ordem estava de novo estabelecida.

Ego

Eu sou Tu não és Ele/Ela se foi Nós éramos Vós fostes Eles erram

Sonho de Ícaro

virei à esquerda depois à direita acabei na contramão Tentei corrigir a minha rota de colisão, mas não deu certo: avancei mais uma vez o sinal vermelho. Parei por causa da faixa de pedestres; vi uma mãe que passava segurando o filhinho pela mão. Pensei comigo se eu não poderia ser, no outro, alguém... escapar desta nossa insustentável condição.

escolhas

Vou chamar o técnico da felicidade para ver se conserto esse desconforto permanente que sinto. Depois irei ao hipermercado comprar um pouco de espiritualidade em conserva. O dia está tão lindo! Ah, pare de falar dessas bobagens... Quero apenas me divertir mais um pouco; a vida passa tão rápido. Você vem ou não vem?

Andarilho

O andarilho, após uma longa noite de frio, levantou do banco em que dormia e seguiu rumo a

percepções

Eu olho para uma parede branca, e de tanto olhar acabo percebendo certas nuances, imagens distorcidas, que aos poucos vão tomando forma; de repente, não estou mais diante de uma parede branca, há ali uma imagem nova, cheia de significados, padrões, cores e simetrias; porém, com o tempo, acabo entediado com aquilo que vejo, passo então a olhar novamente para esta parede, fixo meus olhos nela até que, já muito cansado e quase arrependido, a única coisa que vejo é simplesmente uma branca parede.

7 a 1, escalação e outros pormenores

Como diria Schopenhauer: “É só futebol!”

releitura camoniana 1

Alma pouco gentil, que me partiste, deixando a minha vida descontente; encontrou outra... foi-se impunemente, deixando-me aqui deveras triste. ...

releitura camoniana 2

Mudam-se os tempos, mas não as iniquidades, Muda-se o ser, fica a desconfiança; Tu és passado… É tempo de mudança… Vislumbro novas possibilidades. ...

pé ante pé

Sente-se. Ouça as minhas palavras, mas não as ouça com fervor; muito menos busque mistérios escondidos em cada fresta, em cada cantinho. O caminho era acidentado; uma tênue luz ao longe brilhava. A pouco e pouco a velha casinha despontava. A grade estava enferrujada; o jardim, coberto de mato; e a varanda, empoeirada. Nenhum cachorro latiu… Não havia ninguém à minha espera.

confissão

Não vou aqui multiplicar palavras. A claridade nem tudo evidencia. O porão, trancado, está cheio de traquinagens e de caixas empoeiradas. A chave!? Bem… escondida.

travessia

desaprendendo tudo aquilo que aprendi na escola duvidando finalmente da minha razão infalível descrendo das muitas coisas que vi e vivi O mundo não é mais o de outrora... Atravesso um jardim de rosas e cactos, aprecio a beleza triste e singular que emana de um mundo circundante no qual sou apenas um transeunte cego e desavisado.

em busca do poema perfeito

Menos açúcar, por favor escrevo, reescrevo, rasgo Nas entrelinhas tento suprir o que a minha excessiva adjetivação não alcançou Silêncio mudo o que estava ancorado contínua busca perdida da vida, amor e arte deriva

Bilhete

Um dia desses, eu pego você e acabo com essa sua mise-en-scène . Sairei com certeza todo arranhado mas contente. Abandonarei o fio de Ariadne para me perder definitivamente no labirinto insondável do seu coração. E nada mais de artimanhas e precipitações, minha felina ferina. Previsão do tempo para amanhã: “Choverá sobre o nosso amor.” L.

Prisioneiro do Acaso

Procuro desesperadamente no site de busca e apreensão; não acho nenhuma resposta que me prenda. Desencano. Parto pra outra. O sossego não dura muito. De repente, estou de volta à mesma cela de sempre. Não me faço de rogado, planejo a minha última e mais extraordinária fuga. Todos ficam atônitos. Mais uma vez escapo com brilhantismo do brilho cortante dos teus olhos. Mas não se preocupe, nos veremos outras vezes.

Veredas do Abismo

É um legítimo caso de urucubaca, chikungunya, ziquizira. Aleluia! Está chovendo... chovendo utopias. Sem querer tropeçamos de repente no futuro, tudo parecia tão promissor, tão primeiro-mundista... O sonho acabou, John, e agora? Eis que acordamos com ramela nos olhos, dor de cabeça e – olhando para o lado – em má companhia.

brasilidade

O Brasil se autodescobrirá no dia em que descobrir que na verdade não sabia praticamente nada sobre si mesmo.

Roma

Fugindo de mim mesmo, corro até tropeçar numa pedra. Percebo então que todos os caminhos me levam de volta àquele mesmo lugar. O telefone toca mas eu nem ligo, sigo em frente. São 6h15. Aurora se aproxima e me pega pela mão. Atravesso com ela a Via Ápia. A cidade aberta está logo ali… Olho no espelho e vejo Amor rindo de mim.

Miscelânea corporal

Labores monocromáticos Suor, repetição, fadiga Massa corpórea A l o n g a m e n t o s Gente fina, endorfina Vida, saúde, bem-estar Ah, e muita, muita caloria. Contador de calorias

Aleatoriedade

Não crer na possibilidade de que algo se concretize pode nos levar à não realização de algo que poderia ou não se realizar. Jogo um dado… dois… Me escondo embaixo da mesa; canto uma canção que faz serenar trovões e tempestades. Mão forte… Full House… Retruco, mas a casa está vazia. Bingo!

Mente

Silêncio... Uma casa vazia... Vários cômodos inexplorados... Algumas luzes atravessam estreitas janelas; ouço alguns ruídos esparsos. Não há nenhuma porta. Tento descobrir o que se passa lá fora, e, com as poucas informações que obtenho, rascunho o meu próprio universo.

Compartilhe: