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Momentos difíceis

Quase morri! Tá, isso é um tanto exagerado. Vamos reformular. Não cheguei perto de morrer literalmente, mas a simples possibilidade — à luz do que vivi — já foi o bastante para me assustar. Mas posso afirmar, sem hesitação, que algumas coisas morreram dentro de mim: certezas, inseguranças e, inclusive, muitos medos, pois o medo maior que temos já estava à espreita, rondando, se esgueirando sorrateiramente, sem que eu pudesse fazer nada. Pois bem, não morri, pelo menos não ainda, mesmo porque, caso contrário, não estaria agora escrevendo estas palavras. Se você me perguntar se eu aprendi alguma coisa com tudo isso, se me tornei uma pessoa melhor, mais sábia, daí eu não terei como lhe dar nenhuma resposta; só o tempo dirá. Talvez eu tenha aprendido uma ou outra coisinha, como, por exemplo, que estar saudável é muito melhor do que estar doente, que estar vivo é muito melhor do que a outra opção. Minha intenção não é fazer uma reflexão aprofundada sobre o tema, mas sim ter aqui uma convers...

Mentes pequenas num cosmo incomensurável

Há muito tempo, numa galáxia muito, muito desimportante, num quadrante esquecido de um sistema solar ainda mais desimportante, encontramos um pálido ponto azul; ao nos aproximarmos, porém, um pouco mais, verificamos tratar-se de um pequeno planeta praticamente inofensivo e irrelevante. Os habitantes, quase sempre entediados, desse planeta queriam audaciosamente chegar aonde nenhuma espécie jamais esteve, pois achavam que assim, de alguma forma, sentiriam um pouco menos de tédio.
Para tal grandiloquente objetivo criaram e desenvolveram supercomputadores, foguetes, satélites, robôs e naves espaciais. Primeiramente, colonizaram a lua próxima, depois o planeta vizinho, o que consideraram apenas conquistas de pouca monta, por isso, ainda insatisfeitos, saíram em busca de planetas habitáveis fora de seu próprio sistema solar. E, para que esse intento fosse possível, construíram uma grande espaçonave usando toda a tecnologia e ciência acumuladas; uma nave totalmente autossuficiente para abrigar várias gerações dessa espécie audaciosa e entediada, pois, já que se tratava de uma viagem muito, muito longa, uma viagem na qual o curso inteiro de uma vida não era quase nada, a nave teria que ser um lar, mesmo que provisório, para os vários descendentes da equipe de bordo original.
A viagem inicia-se. Gerações e gerações se sucedem. Após muito tempo perdidos no espaço, enfrentando vários problemas técnicos, éticos e falhas no computador central, não encontram nenhum planeta que possa sustentar minimamente a vida, muito menos encontram outras formas de vida. A viagem prossegue. A imensidão e o vazio parecem não ter fim. O objetivo inicial da missão acaba sendo esquecido, e histórias e mitos, consequentemente, passam a povoar o imaginário dessa desalentada tripulação.
Centenas de anos depois, quando todos já não tinham quase mais nenhuma esperança, acabam encontrando um sistema solar com colônias abandonadas. Ficam todos eufóricos com a concretização de um sonho: realmente existe vida no universo, e vida inteligente! Procuram avidamente por todos os lados, mas só encontram resquícios de uma antiga e avançada civilização há muito extinta.
De repente, uma esfera de um azul estonteante é detectada pelos radares e sensores da nave. O computador central confirma a compatibilidade do planeta – finalmente um lugar habitável. Após uma aterrisagem perigosa, os sobreviventes desta longa jornada ficam extasiados com o que veem: imensas florestas, rios, mares e oceanos, além de uma diversidade muito grande de seres vivos, formada basicamente por animais estranhos com uma baixa capacidade cognitiva.
Curiosamente, em algumas partes desse planeta abandonado, ainda era possível encontrar pequenos sítios arqueológicos deixados pelos primeiros habitantes daquele mundo. Muitas hipóteses do que teria acontecido foram aventadas, contudo, com o tempo, até mesmo estas histórias acabaram no esquecimento. O planeta foi, aos poucos, totalmente colonizado.
Porém, apesar de tudo, o tédio ainda persistia.

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