Vem aqui, senta-te ao meu lado, por favor, e fala-me a respeito de tuas incoerências. Eu sou uma boa ouvinte, não me escapa uma só palavra. Sei que o que dizes não é bem aquilo que queres dizer, mas por que tantos circunlóquios, tanta hipocrisia... Ah, é tão comovente a falsidade com que nos acariciamos dia após dia. Eu não protesto, tu sabes muito bem, nem ao menos me contraponho à tua iniquidade. Aliás, sou feita da mesma matéria obscena da qual fostes inventado. Eu não te odeio e, no entanto, não aprendi a te amar. Sinto muitas vezes que fomos feitos um para o outro, como se isso fizesse algum sentido. Estou cansada; v ou retirar-me. Não se esqueça de colocar o lixo na rua. Boa noite!