Pular para o conteúdo principal

Postagens

Agradecimento

Você me fez enxergar aquilo que eu não conseguia mais ver, me mostrou todas as estrelas do céu; você me fez rememorar coisas que já tinha esquecido, coisas que ficaram abandonadas em caixas empoeiradas nos porões do meu coração; você veio para destruir as bases arcaicas de uma vida desprovida de sentimento; você veio, perdoe-me a expressão, com a força de um furacão, arrebentou cercas, derrubou muros, e, por isso mesmo, muito me ensinou. Aprendi a fazer poemas com as minhas dores, com os meus sofrimentos; edifiquei castelos com as pedras do meu caminho; consertei pontes, refiz aquedutos, pavimentei estradas rumo ao desconhecido eu. Tudo isso, no fundo, uma homenagem a você, um hino à vida, um modo de seguir em frente, um jeitinho meu de fazer com que você se eternize. 

Esgotar-se-ia

(Poema de Samuel Rocha) Cansado do raso que me afoga na agonia banal; cansado da mediocridade diária, do superficial; cansado do não dito, que grito, o não ouvido; da estupidez dos esperançosos, do clichê ridículo. Quero distância desse mar de sorrisos, não tenho causa, não tens motivo. Cansado do que não serve, do que não calça, do que aperta; do que não causa, no coração que congela; cansado da massa, da ideologia fútil, cansado do brega, do apaixonar-se inútil. Nada vale a pena, nada, nem terminar este poema…

Carência

Eu não quero ser um monopolista da sua atenção, do seu afeto. Você sabe que eu exijo pouco, muito pouco, não lhe dou muito trabalho. Você bem que poderia fingir que se importa, demonstrar algum afeto, mesmo que insincero; migalhas são melhores do que nada, pelo menos a princípio. Você me olha, mas não me vê; sou apenas um estereótipo pra você, a imagem idealizada e sintética que facilita a sua falta de vontade de saber quem eu realmente sou. No seu universo umbigocêntrico não há muito espaço para mim; orbito o seu ego por inércia, por medo de perder o que talvez nunca tenha conquistado, por uma falência total do meu suposto amor próprio. E o pior de tudo é olhar para o espelho e notar que não está mais lá a minha face, pois é você neste instante que vejo.

melancolia

Eu sinto que não sinto mais nada, mas eu sei que isso é falso; há uma angústia, um desespero, um não sei quê que ronda silenciosamente, que vasculha, que oprime. Finjo, portanto, que está tudo bem. A vida é isso mesmo, caminho sem volta, algo insípido, doloroso, prolongado. Não há pessoas que gostaria de voltar a ver, e as que vejo não me animam muito. Falta alguma coisa, inteligência talvez, mas não é só isso, falta afeto, falta empatia, falta um olhar que não seja ensimesmado, absorto ou perdido em divagações sobre aquilo que o mundo supostamente nos deve. 

Palavras ao vento

Nada traz mais infelicidade do que a busca incessante pela felicidade. Não quero ser a opção que preenche a sua falta de opções. Por que o seu silêncio é tão cheio de enunciados? Não escolhemos quais desejos teremos, apenas decidimos o que fazer então com tais desejos. Quero deitar, dormir e só acordar no próximo século. É tão dolorido desejar alguém que não nos deseja. Você nunca se cansa de si mesmo!? Filosofias, ideologias, política… Prefiro muito mais o silêncio. Todo mundo está falando ao mesmo tempo, mas ninguém tem o que dizer. Morte: desejo de não desejar mais nada. Você não vale nada, ponto. Não se preocupe, vou continuar falando apenas aquilo que você quer ouvir. E que fique o dito pelo não dito.

Confissões de um homem blasé

Tenho medo de me perder: tudo tem que ser controlado, regrado, sistematizado, elevado à enésima potência. – Mas não há potência alguma! Só mesmo uma vontade de não me afetar nunca, de não demostrar coisa alguma, de ser, aos olhos dos outros, perfeito. Estou à deriva, criando defesas, flanando pelo mundo sem me sentir parte de algo. Tudo vazio, incompleto, desconcertante... Reflexo de mim mesmo, um simulacro, uma cópia barata; ser serviente tentando ressignificar o nada. 

Mentiras que contamos para nós mesmos

Minto para lhe agradar, para que você me ame. Faço das tripas coração, de abismos pontes, de medos versos. Crio narrativas, invento mundos, deixo a vida em banho-maria. Digo algo, depois desdigo. Sou constante em minha inconstância, sol da meia-noite, antítese de mim mesmo. Minto, minto mais uma vez; sinto, muito. 

Ode à alegria

Um acorde dissonante rasga as trevas do coração, uma luz inesperada revela formas desconhecidas, e o que outrora parecia ser o fim de um mundo seguro e confortável revela-se como o indício de uma primavera interior. Estamos diante do esfacelamento do real. Algo se quebrou, não há mais como voltar atrás! Angústia, caos, isolamento, um grito de desespero; amor, ternura, solicitude, um ato de verdadeira transfiguração. Alquimicamente, sem que percebamos, o ciclo da vida se renova; não somos mais os mesmos, a vida não é mais a mesma, mas temos em mãos outra paleta de cores. (O real nunca é o real-real, mas sim o real filtrado, adornado, transubstanciado.)

Dia após dia

Eu gostaria muito que você fosse a minha última ilusão, mas acho que repetirei a dose outras vezes, infelizmente. Não há saída; qual marimbondo atraído pelas chamas, volto a cometer os mesmos erros, incorrer nos mesmos vícios. Estou preso em uma armadilha, em um labirinto infindável, e olho para todos os lados e não vejo nada, ou talvez eu só enxergue mesmo aquilo que desejo muito ver. Não acredito mais em minhas próprias palavras, duvido de meus sentimentos mais íntimos e confesso, por fim, uma ignorância total sobre mim mesmo. A rosa cortada murcha lentamente em um belo vaso na mesinha de canto, e o sol, com sua indiferença costumeira, nasce mais uma vez. 

Vacuidades e Veleidades

Ninguém assistiu à morte de seu último afeto, ninguém presenciou o vazio que devassa toda a sua alma; tudo se perdeu aos poucos, sem audiência, sem que você mesmo percebesse. Você caminha agora a esmo, com o olhar cheio de vacuidades, com um sorriso autômato no semblante. Você vive uma vida desamante , de momentos opacos, de horizontes inalcançáveis... Você vê demais! Percebe, pois, o tecido feito de pequenas e grandes ilusões que perpassa toda a existência. 

Solitude

Sereno a alma, acalmo o espírito, respiro fundo… – pausa – Estou só, não há ninguém no mundo, só eu mesmo, eu e as minhas circunstâncias. Sinto-me em paz, quase completo, de bem comigo mesmo, sem desejar largos horizontes, nem fins grandiloquentes, ou loucas e novas aventuras; amo o oceano vasto do meu estado pacífico, a eterna calmaria de um silêncio abrasador.

Compartilhe: