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Carência

Eu não quero ser um monopolista da sua atenção, do seu afeto. Você sabe que eu exijo pouco, muito pouco, não lhe dou muito trabalho. Você bem que poderia fingir que se importa, demonstrar algum afeto, mesmo que insincero; migalhas são melhores do que nada, pelo menos a princípio. Você me olha, mas não me vê; sou apenas um estereótipo pra você, a imagem idealizada e sintética que facilita a sua falta de vontade de saber quem eu realmente sou. No seu universo umbigocêntrico não há muito espaço para mim; orbito o seu ego por inércia, por medo de perder o que talvez nunca tenha conquistado, por uma falência total do meu suposto amor próprio. E o pior de tudo é olhar para o espelho e notar que não está mais lá a minha face, pois é você neste instante que vejo.

melancolia

Eu sinto que não sinto mais nada, mas eu sei que isso é falso; há uma angústia, um desespero, um não sei quê que ronda silenciosamente, que vasculha, que oprime. Finjo, portanto, que está tudo bem. A vida é isso mesmo, caminho sem volta, algo insípido, doloroso, prolongado. Não há pessoas que gostaria de voltar a ver, e as que vejo não me animam muito. Falta alguma coisa, inteligência talvez, mas não é só isso, falta afeto, falta empatia, falta um olhar que não seja ensimesmado, absorto ou perdido em divagações sobre aquilo que o mundo supostamente nos deve. 

Palavras ao vento

Nada traz mais infelicidade do que a busca incessante pela felicidade. Não quero ser a opção que preenche a sua falta de opções. Por que o seu silêncio é tão cheio de enunciados? Não escolhemos quais desejos teremos, apenas decidimos o que fazer então com tais desejos. Quero deitar, dormir e só acordar no próximo século. É tão dolorido desejar alguém que não nos deseja. Você nunca se cansa de si mesmo!? Filosofias, ideologias, política… Prefiro muito mais o silêncio. Todo mundo está falando ao mesmo tempo, mas ninguém tem o que dizer. Morte: desejo de não desejar mais nada. Você não vale nada, ponto. Não se preocupe, vou continuar falando apenas aquilo que você quer ouvir. E que fique o dito pelo não dito.

Confissões de um homem blasé

Tenho medo de me perder: tudo tem que ser controlado, regrado, sistematizado, elevado à enésima potência. – Mas não há potência alguma! Só mesmo uma vontade de não me afetar nunca, de não demostrar coisa alguma, de ser, aos olhos dos outros, perfeito. Estou à deriva, criando defesas, flanando pelo mundo sem me sentir parte de algo. Tudo vazio, incompleto, desconcertante... Reflexo de mim mesmo, um simulacro, uma cópia barata; ser serviente tentando ressignificar o nada. 

Mentiras que contamos para nós mesmos

Minto para lhe agradar, para que você me ame. Faço das tripas coração, de abismos pontes, de medos versos. Crio narrativas, invento mundos, deixo a vida em banho-maria. Digo algo, depois desdigo. Sou constante em minha inconstância, sol da meia-noite, antítese de mim mesmo. Minto, minto mais uma vez; sinto, muito. 

Ode à alegria

Um acorde dissonante rasga as trevas do coração, uma luz inesperada revela formas desconhecidas, e o que outrora parecia ser o fim de um mundo seguro e confortável revela-se como o indício de uma primavera interior. Estamos diante do esfacelamento do real. Algo se quebrou, não há mais como voltar atrás! Angústia, caos, isolamento, um grito de desespero; amor, ternura, solicitude, um ato de verdadeira transfiguração. Alquimicamente, sem que percebamos, o ciclo da vida se renova; não somos mais os mesmos, a vida não é mais a mesma, mas temos em mãos outra paleta de cores. (O real nunca é o real-real, mas sim o real filtrado, adornado, transubstanciado.)

Dia após dia

Eu gostaria muito que você fosse a minha última ilusão, mas acho que repetirei a dose outras vezes, infelizmente. Não há saída; qual marimbondo atraído pelas chamas, volto a cometer os mesmos erros, incorrer nos mesmos vícios. Estou preso em uma armadilha, em um labirinto infindável, e olho para todos os lados e não vejo nada, ou talvez eu só enxergue mesmo aquilo que desejo muito ver. Não acredito mais em minhas próprias palavras, duvido de meus sentimentos mais íntimos e confesso, por fim, uma ignorância total sobre mim mesmo. A rosa cortada murcha lentamente em um belo vaso na mesinha de canto, e o sol, com sua indiferença costumeira, nasce mais uma vez. 

Vacuidades e Veleidades

Ninguém assistiu à morte de seu último afeto, ninguém presenciou o vazio que devassa toda a sua alma; tudo se perdeu aos poucos, sem audiência, sem que você mesmo percebesse. Você caminha agora a esmo, com o olhar cheio de vacuidades, com um sorriso autômato no semblante. Você vive uma vida desamante , de momentos opacos, de horizontes inalcançáveis... Você vê demais! Percebe, pois, o tecido feito de pequenas e grandes ilusões que perpassa toda a existência. 

Solitude

Sereno a alma, acalmo o espírito, respiro fundo… – pausa – Estou só, não há ninguém no mundo, só eu mesmo, eu e as minhas circunstâncias. Sinto-me em paz, quase completo, de bem comigo mesmo, sem desejar largos horizontes, nem fins grandiloquentes, ou loucas e novas aventuras; amo o oceano vasto do meu estado pacífico, a eterna calmaria de um silêncio abrasador.

Ansiedade

“Tudo ao seu tempo! Que aconteça o que tiver que acontecer!” É tão fácil falar; tão difícil viver! Tremo de ansiedade, não sei esperar; quero tudo para ontem, quero você aqui comigo agora, agora e para sempre. O meu espírito está constantemente agitado, e ando de um lado para o outro em circunvoluções intermináveis. Penso que vou explodir, que vou deixar de ser, deixar de existir... Uma coisa leva a outra, e me perco em pensamentos que se repetem. É, pois, o fim de algo, ou o início, não sei exatamente, provavelmente nunca saberei. 

O Grande Colisor da Alma

Eu queria subverter as leis da física; estou em rota de colisão comigo mesmo. Olho para o céu e vejo uma explosão cósmica, um cataclismo de subjetivas proporções que só eu posso ver, que queima, que destrói, que pulveriza até as minhas mais insignificantes certezas. Eu espero o seu chamado, espero qualquer chamado, aliás, mas o silêncio persiste, persiste e inunda o meu ser. Não tenho forças para prosseguir, e também não quero parar; estou quase chegando lá, o lugar onde nada há: .

Alinhavando e tergiversando e seguindo a pulsão...

Não, não somos todos iguais, você queira ou não. Oh, quanta chatice e atraso em uma única fórmula: “Fazer acontecer!” Tudo vira militância, tudo agora é motivo para mobilização. Dizem sempre que o mundo precisa ser salvo... – Quanta pretensão! O mundo já existia antes de você, e continuará existindo por muito tempo ainda, com ou sem você. Não há nenhum problema em tentar melhorar o mundo, o problema é você achar que tem a solução ideal para tudo. Saia de casa, mas antes arrume o seu quarto, é claro!, e respire o ar da manhã. O mundo está para além das ideologias. Cultivemos, pois, o nosso jardim! 

Portões do Céu

Em um campo de girassóis, eu vejo fogo, unicórnios, guerra e morte, vejo a minha casa e a minha sorte, vejo você vindo ao meu encontro e depois desaparecendo. Tudo o que eu preciso está ali. Tudo o que quero e não quero também. Um mar de insanidades e obscenidades, um céu de prazeres e um inferno de loucuras. Sinto que estou vivo, e meu coração bate descompassadamente. Só peço que você, com ternura, sem pudor,  fique aqui comigo um pouco mais.

Anjo da Manhã

Vejo-te em tudo, em todas as coisas. Quando estou perdido, tua luz me guia. Quando estou triste, tua voz me conforta. Nem sempre digo o que penso; em certas horas as palavras me fogem. Nem sempre digo o que sinto; muitas vezes não consigo explicar aquilo que se passa comigo. Sei apenas que um vazio perpassa toda a minha alma, e sei também, certeza antiga e arraigada, que não há horizontes, razões, sentido... Bem, só sei agora que tudo isso não é nada  quando aqui comigo tu estás; és a força vital que me renova, és o meu  sol florescido .  

Farol das Desilusões

Eu soube desde muito cedo que estava sozinho, nunca me enganei quanto a isso. Aliás, eu me enganei quanto a muitas outras coisas, me iludi constantemente, procurando conforto onde não havia, inventando uma falsa luz que faria da noite dia. Tudo foi em vão, ilusão, fantasmagoria; hoje vivo em um alheamento consciente, se assim posso chamá-lo, que me faz olhar para o mundo com mais serenidade. Se tudo é mesmo tempo perdido, um ir-se ao vento sem propósito, que ao menos façamos aquilo que mais nos apetece, e que a nossa loucura seja então um ato autodirigido, um ato último de coragem.  

Definir, definhar, desaparecer…

Achar que se pode ser sempre aquilo que se é, sem nenhuma alteração, como se pudéssemos vencer o tempo, tornando-nos cópias eternas de nós mesmos, é um engano pueril; tudo muda. Queiramos ou não, a vida segue em frente, o mundo percorre o seu destino não conhecido por ninguém, e nós, passageiros desavisados, nos transmutamos pouco a pouco em algo que não conseguimos divisar. Tudo acontece tão lentamente; a imagem no espelho não é mais a mesma, e a vida agora é um misto de sensações agridoces. Perdemos o que não queríamos perder, ganhamos o que não sonhávamos conquistar. A jornada continua e a mudança em nós também.

Desiderato (Poemeto)

Não há palavras, só sensações, um quase nada, um sentimento difuso, algo que vai crescendo, crescendo, tomando conta de tudo, fazendo de você o meu mundo.

Vacuidade

Unidos pelo vazio da existência; somos o que restou um para o outro. Política, filosofia, nem futebol, nada nos afasta da certeza de não se ter certezas, da inutilidade de toda e qualquer beligerância. Nossa matéria é o tempo presente, o gozo, ou o sofrimento, que vivenciamos no agora. Tudo o mais é tempo perdido, fruto de mentes débeis, de espíritos infantis que viverão eternamente na Terra do Nunca.

Quero ser Jean Valjean!

Mais um dia, a batalha continua!, e ela começa dentro de mim mesmo, é uma cruzada sem fim. Lutar por uma causa perdida, fazendo o melhor que posso, mesmo que as trevas da vida me apontem para outra direção, mesmo que pouco reste em meu coração. Ecos de um passado, de uma generosidade sem tamanho, de um exemplo que me pôs de joelhos, que me transformou para sempre. Somos aquilo que nos ensinaram, mas também somos aquilo que ensinamos aos outros. Somos o sonho que um dia sonhamos, e estamos, por conta própria, atravessando a escuridão, percorrendo o rio agitado da vida. Somos...  

No Jardim de Vênus

Linda, linda moça, ouça o seu coração! Saiba que não há amanhã, não há caminho de volta. Aqui uma conversa moderna : você é minha alma, você é meu tudo, e por isso eu vivo em chamas, sem fôlego, sonhando, desejando. Estou em queda livre, mas você não vê! Perco-me constantemente, mas você não me encontra. O amor é um oceano, e eu um barco à deriva. – Então, quer bailar comigo!? 

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