Devaneio e Poesia

Toda a ordem, bem como toda a desordem, está unicamente em nossa mente. O mundo não é, em si, ordenado ou caótico. O mundo apenas está aí e se apresenta a nós como uma realidade a ser vista e sentida. Somos nós que ordenamos tudo o que existe, somos nós que classificamos e damos nomes a todas as coisas. Porém, neste processo exaustivo, nos esquecemos de viver e criamos em nossas mentes uma imagem falsa do mundo. O mundo não é bom nem mau, aliás, o mundo não é, o mundo está.

A lembrança tua, à noite, me faz de novo existir. Fico sonhando acordado, não consigo mais dormir. *** Não sei o que acontece, espero o dia amanhecer. No coração uma certeza: outra vez eu vou te ver! *** Dentre todas as flores, tu és a mais bela. Mal a vejo ao longe, já suspiro: – É ela! *** Preciso urgente dizer, antes que seja tarde. Confessar o que sinto, mas sem fazer alarde. *** Peço a inspiração de todos os poetas. Escolho as palavras, aparo as arestas. *** Enfim, chegou o momento. Eis o meu louco querer: viver sempre ao teu lado, até o último entardecer.

Um raio luminoso cruzou a minha vida no exato momento em que eu cruzava a rua distraído. Este dourado brilho me despertou para a vida, livrando-me de um eminente perigo. O que sei, por certo, é que tudo mudou quando te vi, radiante e formosa, assomando o meu caminho e invadindo a minh’alma, entrelaçando a minha vida à tua vida ternamente. E agora penso: se não tivesses me encontrado, o que teria sido de mim? Certamente eu seria apenas mais um a cruzar a rua distraído.

Só o teu amor pode me salvar de uma vida sem sentido. Vivo perdido em meio a destroços cambaleantes de um mundo caótico, cruel e incoerente; somente em ti encontro a paz. Todas as vezes que sinto o toque macio de tua pele, sempre que ouço a tua doce voz a me chamar, e a cada vez que te olho nos olhos, sinto renascer em mim a chama da vida. Neste momento mágico, percebo que tudo se encaixa tão perfeitamente que passo mais uma vez a acreditar na força inabalável do amor.

À noite, busco o teu olhar; vagando triste e sozinho, vejo da rosa o espinho, sob os lampejos do luar. Porém, noto no cantinho a janela tua a brilhar, e num quase descortinar, vislumbro devagarinho: Uma leve silhueta, e um encanto primaveril no jardim da flor que se abriu. Sinto no ar uma opereta, um canto terno e pueril, mas a luz... já se extinguiu.