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Mostrando postagens de julho, 2016

instantâneo

Sussurro no seu ouvido palavras desconexas. O vento fustiga as janelas. Aqui, com você, está quente, mas lá fora a tempestade ruge. Por um instante a existência parece fazer algum sentido. Eu sei que, ao canto da cotovia, tudo se dissolverá, (ah, o rolo compressor da realidade) mesmo assim, neste momento, quero apenas contemplar um pouquinho mais as curvas suaves do seu corpo, fixar na minha memória o seu sorriso.

inconsciente poético

Já fui pra Pasárgada – lá não me quiseram. Já tropecei na pedra do caminho largo. Fui ao meu amor sempre atento, mas não durou muito. Hoje, a minha vida não está completa, nem tocar um tango argentino eu posso mais. Fico aqui, com esta minha fala entupida, compondo quimeras, buscando regressar à terra das palmeiras e do sabiá.

Os lírios do campo já murcharam...

Tropeço na noção de tempo e me esparramo na relva molhada; contemplo nuvens de glórias passageiras até mergulhar num céu azul-piscina. Volto aos tempos de criança. Há uma toca de coelho no meu jardim; faço-me de explorador e, audacioso, encontro Beatriz e Virgílio pelo caminho. Hipopótamo, anos, séculos, eras... Tudo retorna para o mesmo ponto, para a mesma singularidade. A vertigem finalmente passa, descerro os olhos: nuvens, céu azul, infinito

luta

Uma longa noite frio muitas estrelas brilham num céu de abandono O passado reverbera... tantas esperanças, tantos sonhos Os predadores estão por todos os lados Os recursos são escassos Ao redor de uma fogueira improvisada homens contam histórias sobre homens que contam histórias.

ciclo

O frio estava intenso; a neblina dava à rua um ar de imaterialidade. O sol, ainda tímido, exalava os seus primeiros suspiros. Meus passos candentes abriam caminho através da cidade solitária. Aos poucos, as casas foram criando vida, e as ruas ficaram cheias: pedestres, cachorros, carros, bicicletas, crianças, conversações, gritos, latidos e buzinas. A ordem estava de novo estabelecida.

Ego

Eu sou Tu não és Ele/Ela se foi Nós éramos Vós fostes Eles erram

Sonho de Ícaro

virei à esquerda depois à direita acabei na contramão Tentei corrigir a minha rota de colisão, mas não deu certo: avancei mais uma vez o sinal vermelho. Parei por causa da faixa de pedestres; vi uma mãe que passava segurando o filhinho pela mão. Pensei comigo se eu não poderia ser, no outro, alguém... escapar desta nossa insustentável condição.

escolhas

Vou chamar o técnico da felicidade para ver se conserto esse desconforto permanente que sinto. Depois irei ao hipermercado comprar um pouco de espiritualidade em conserva. O dia está tão lindo! Ah, pare de falar dessas bobagens... Quero apenas me divertir mais um pouco; a vida passa tão rápido. Você vem ou não vem?

Andarilho

O andarilho, após uma longa noite de frio, levantou do banco em que dormia e seguiu rumo a

percepções

Eu olho para uma parede branca, e de tanto olhar acabo percebendo certas nuances, imagens distorcidas, que aos poucos vão tomando forma; de repente, não estou mais diante de uma parede branca, há ali uma imagem nova, cheia de significados, padrões, cores e simetrias; porém, com o tempo, acabo entediado com aquilo que vejo, passo então a olhar novamente para esta parede, fixo meus olhos nela até que, já muito cansado e quase arrependido, a única coisa que vejo é simplesmente uma branca parede.

7 a 1, escalação e outros pormenores

Como diria Schopenhauer: “É só futebol!”

releitura camoniana 1

Alma pouco gentil, que me partiste, deixando a minha vida descontente; encontrou outra... foi-se impunemente, deixando-me aqui deveras triste. ...

releitura camoniana 2

Mudam-se os tempos, mas não as iniquidades, Muda-se o ser, fica a desconfiança; Tu és passado… É tempo de mudança… Vislumbro novas possibilidades. ...

pé ante pé

Sente-se. Ouça as minhas palavras, mas não as ouça com fervor; muito menos busque mistérios escondidos em cada fresta, em cada cantinho. O caminho era acidentado; uma tênue luz ao longe brilhava. A pouco e pouco a velha casinha despontava. A grade estava enferrujada; o jardim, coberto de mato; e a varanda, empoeirada. Nenhum cachorro latiu… Não havia ninguém à minha espera.

confissão

Não vou aqui multiplicar palavras. A claridade nem tudo evidencia. O porão, trancado, está cheio de traquinagens e de caixas empoeiradas. A chave!? Bem… escondida.

travessia

desaprendendo tudo aquilo que aprendi na escola duvidando finalmente da minha razão infalível descrendo das muitas coisas que vi e vivi O mundo não é mais o de outrora... Atravesso um jardim de rosas e cactos, aprecio a beleza triste e singular que emana de um mundo circundante no qual sou apenas um transeunte cego e desavisado.

em busca do poema perfeito

Menos açúcar, por favor escrevo, reescrevo, rasgo Nas entrelinhas tento suprir o que a minha excessiva adjetivação não alcançou Silêncio mudo o que estava ancorado contínua busca perdida da vida, amor e arte deriva

Bilhete

Um dia desses, eu pego você e acabo com essa sua mise-en-scène . Sairei com certeza todo arranhado mas contente. Abandonarei o fio de Ariadne para me perder definitivamente no labirinto insondável do seu coração. E nada mais de artimanhas e precipitações, minha felina ferina. Previsão do tempo para amanhã: “Choverá sobre o nosso amor.” L.

Prisioneiro do Acaso

Procuro desesperadamente no site de busca e apreensão; não acho nenhuma resposta que me prenda. Desencano. Parto pra outra. O sossego não dura muito. De repente, estou de volta à mesma cela de sempre. Não me faço de rogado, planejo a minha última e mais extraordinária fuga. Todos ficam atônitos. Mais uma vez escapo com brilhantismo do brilho cortante dos teus olhos. Mas não se preocupe, nos veremos outras vezes.

Veredas do Abismo

É um legítimo caso de urucubaca, chikungunya, ziquizira. Aleluia! Está chovendo... chovendo utopias. Sem querer tropeçamos de repente no futuro, tudo parecia tão promissor, tão primeiro-mundista... O sonho acabou, John, e agora? Eis que acordamos com ramela nos olhos, dor de cabeça e – olhando para o lado – em má companhia.

brasilidade

O Brasil se autodescobrirá no dia em que descobrir que na verdade não sabia praticamente nada sobre si mesmo.

Roma

Fugindo de mim mesmo, corro até tropeçar numa pedra. Percebo então que todos os caminhos me levam de volta àquele mesmo lugar. O telefone toca mas eu nem ligo, sigo em frente. São 6h15. Aurora se aproxima e me pega pela mão. Atravesso com ela a Via Ápia. A cidade aberta está logo ali… Olho no espelho e vejo Amor rindo de mim.

Miscelânea corporal

Labores monocromáticos Suor, repetição, fadiga Massa corpórea A l o n g a m e n t o s Gente fina, endorfina Vida, saúde, bem-estar Ah, e muita, muita caloria. Contador de calorias

Aleatoriedade

Não crer na possibilidade de que algo se concretize pode nos levar à não realização de algo que poderia ou não se realizar. Jogo um dado… dois… Me escondo embaixo da mesa; canto uma canção que faz serenar trovões e tempestades. Mão forte… Full House… Retruco, mas a casa está vazia. Bingo!

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