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Devaneio e Poesia

Se arrependimento matasse, sobrariam no mundo apenas os psicopatas, os sociopatas e, principalmente, muitos políticos; este infelizmente é um breve resumo de tudo o que aconteceu. Pode parecer fantástico e irreal, porém, como estou muito doente, quero deixar aqui o meu relato. Não sei se essas minhas palavras serão lidas algum dia, não custa tentar.
O mundo seguia o seu ritmo normal e enfadonho. Um dia ouvimos falar sobre uma estranha epidemia que se alastrava por toda a Europa. A doença era rápida e letal. Toda a comunidade científica se debruçou sobre o caso em busca de respostas, mas nada descobriram. Aparentemente, nada daquilo fazia sentido. Aos poucos, a doença foi se espalhando para todos os outros continentes, causando uma mortandade nunca vista antes.
O momento mais difícil foi quando comecei a perder amigos, mulher e filhos. Fiquei totalmente desnorteado. Passei a perambular pelas ruas quase desertas de um mundo desolado. Para não enlouquecer busquei, com todas as minhas forças, encontrar uma resposta para tudo aquilo. Queria de toda forma descobrir a causa deste mal inexplicável.
Passei então a observar atentamente aqueles que tinham sobrevivido, e para o meu espanto, depois de muito tempo, percebi que aqueles que passaram ilesos pelo contágio eram, em sua grande maioria, pessoas que não sentiam nenhuma empatia pelo próximo.
Comecei a refletir sobre a razão de minha permanência neste mundo, chegando a duas conclusões, ambas errôneas. Primeiramente, eu pensei que era, como os outros sobreviventes, também uma pessoa sem coração, incapaz de me comover com o sofrimento alheio. Depois, seguindo outra linha lógica, pensei que talvez este fosse o sinal de que eu era a única pessoa normal, quem sabe até uma espécie de escolhido, um salvador da humanidade.
Agora que estou acamado e muito fraco, percebo o meu engano. Eu estava provavelmente no meio do caminho, a minha insensibilidade não era ainda completa, por isso a doença demorou tanto para revelar os seus sintomas em mim. O meu fim será, de certa forma, também a minha vitória. Não sei se estou certo, talvez haja alguma outra explicação para tudo o que aconteceu, quem sabe alguma superbactéria ou um vírus geneticamente modificado... A única coisa que sei neste momento é que estou contente com a minha explicação.
 

março 09, 2016 No Comments
Perdido numa densa floresta
de sonhos e desventuras,
o ser solitário que ali habita
busca desbravar uma nova trilha.
Incansavelmente, ele persiste...
Vai abrindo caminho a duras penas,
lutando, conquistando, ferindo-se.
Suas pernas cansadas, seu braços doloridos,
sua mente entorpecida segue incansavelmente.

Aos poucos, a escuridão desaparece,
e um brilho crescente e distante
começa a tomar conta de tudo.

Por fim, o ser solitário adormece
sem ter concluído o seu objetivo.


março 08, 2016 No Comments
"O homem é a medida de todas as coisas", essa máxima do antigo filósofo grego ainda é, de certa forma, muito válida hoje em dia, pois, no que concerne a nós mesmos, aos nossos sentimentos e sofrimentos, não possuímos outros parâmetros que não os nossos. Toda experiência humana é única e intransferível. Ninguém sabe exatamente, nem nunca saberá, qual é o mistério escondido por trás de cada existência. Somente nós podemos descortinar o nosso próprio mistério, porém – eis uma verdade insofismável – não somos capazes de comunicá-lo a ninguém.


março 07, 2016 No Comments
Quando arruinamos tudo,
quando nos sentimos derrotados,
quando o pesar é muito grande,
quando não conseguimos pensar em outra coisa,
quando nos desprezamos e nos sentimos horríveis,
quando o desespero bate à porta,
quando deixamos de mentir para nós mesmos,
quando nos encaramos no espelho,
quando tiramos todas as máscaras,
quando não há mais nada a perder,
é que a vida se renova.


março 05, 2016 No Comments
Racionalmente, desvendamos o mundo. Buscamos repostas para tudo. Criamos padrões, leis e teorias. No entanto, não possuímos a noção exata do número de coisas que desconhecemos, não sabemos, portanto, qual é ao certo o tamanho da nossa ignorância. É claro que o “não saber” deve ser sempre um estímulo para o “saber mais”. Porém, não podemos aspirar ao pleno conhecimento. É uma ilusão muito atraente acreditar na infalibilidade racional do homem. A nossa pretensão intelectual será sempre frustrada por dois simples fatos: primeiro, a vida é curta; segundo, a nossa capacidade cognitiva é limitada. Em cada infinito existe muitos outros infinitos. Toda resposta leva inevitavelmente a uma nova pergunta.

“Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários.” (Heráclito)



março 02, 2016 No Comments
fingir aquilo que não se sente
seguir todos os ditames sociais
ser exatamente aquilo que se espera
crer na própria mentira
aceitar o ledo engano
simular a própria existência
tornar-se uma cópia de si mesmo

Enfim, viver algo muito parecido com a vida.


março 01, 2016 No Comments
Gota a gota e calmamente,
um iceberg de potencialidades
perde a sua suposta solidez,
liquefazendo-se no presente.
Nada é capaz de deter tal processo;
o aquecimento é inevitável.
Fica então aqui a nossa única certeza:
o líquido que aos poucos se derrama
deve ser muito bem aproveitado;
a água do degelo formará um rio,
e este rio, por consequência,
desaguará na vastidão oceânica.


fevereiro 28, 2016 No Comments
O que nos diferencia dos outros animais não é somente a nossa habilidade cognitiva, a nossa racionalidade, mas também – e principalmente – a capacidade que temos de fazer coisas que vão na direção contrária de nossos impulsos naturais mais básicos e primitivos. É muito importante que as pessoas sejam boas, contudo, como bem sabemos, essa não é a regra; sucumbimos muitas vezes a instintos nada civilizados. Precisamos, portanto, de um conjunto de valores nos quais possamos nos orientar. Precisamos saber que existem limites. Precisamos valorizar os bons costumes e também a boa educação, que, assim como as virtudes, não nos são inatas; devemos continuamente reforçá-las em nossa rotina diária para que nos tornemos, com a prática, pessoas melhores. No entanto, há aqui uma obviedade: tudo aquilo que não é ensinado não nasce, tudo aquilo que não é cuidado não cresce, não se desenvolve. E assim de anemia morre o rebento moral que, infelizmente, mesmo que não definhe no nascedouro, poucas chances futuras terá de sobrevivência.


fevereiro 15, 2016 No Comments
Repleta de letícia plena,
em meio a um jardim de flores caprichosas,
ela borboleteia serena
entre lírios e rosas,
gerânios e begônias,
hortênsias e bromélias,
violetas e tulipas,
cravos e orquídeas.

No Jardim da Criação,
ela é a Monarca,
aquela das majestosas asas douradas.

Borboleta-monarca (Danaus plexippus)


fevereiro 14, 2016 No Comments
O passarinho voa,
atravessa porteira,
riacho, estrada e monte,
chegando onde bem queira,
sem ter quem o confronte.

Livre, seu canto entoa,
e despreocupado
rápido anuncia,
no belo verde prado,
majestosa alegria.

Longe, numa lagoa,
descansa calmamente;
precisa forte estar:
quer mostrar o que sente,
quer alcançar o mar.


fevereiro 11, 2016 No Comments
Homero, Safo, Anacreonte,
Virgílio, Horácio, Ovídio,
Dante, Petrarca e o grã Camões,
Juntos, cantando edificaram,
Com engenho e arte, novo Reino
Que pioneira senda abriu
Aos que, seguindo sumo exemplo,
Nobre arte ao mundo anunciaram.
Tal legado só foi possível
Porque não perderam o lastro;
Só se pode o novo singrar
Com um bom, velho e firme mastro.

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.”
(Isaac Newton)

fevereiro 06, 2016 No Comments
Profanar é um verbo que, hoje em dia, está muito em voga. No entanto, acautelemo-nos. Quando retiramos o sagrado de seu devido lugar, tornando tudo mundano, perdemos a noção da necessidade de uma hierarquia de valores. Quando tudo é importante, quando tudo está no mesmo patamar, nada é verdadeiramente importante. Desta maneira, a banalização se infiltra por todos os poros da vida.


janeiro 24, 2016 No Comments
Tolos! Eis o que vós sois:
Engodo artístico, decomposição e nada.

Esqueceram-se da tradição
e destruíram tudo o que encontraram;
mergulhados em um luto permanente,
abandonaram de uma vez o culto ao belo.

Artistas infantilizados produzem a sua arte “inovadora”:
transgredir por transgredir, desconstruir por desconstruir.
Conservar é, para eles, um verbo abominável.
Porém, muito mais abominável ainda é “arte” que produzem.



janeiro 09, 2016 1 Comments
Agir conforme as próprias vontades não requer esforço;
reprimir essas vontades, sim.
O mal se prolifera nos pântanos da leniência e da tibieza,
enquanto que, para se fazer o bem, é necessário muita labuta,
muitos esforços, muita dedicação.
Deixado em seu estado natural, o homem não é belo nem justo;
da destruição total do passado não surgirá um futuro augusto.
Uma reengenharia social que desconheça completamente
a nossa íntima natureza só piorará tudo.
A nossa luta deve ser constante!
Devemos buscar a perfeição,
mesmo estando cientes de nossas imperfeições,
mesmo sabendo que se trata, no fim das contas,
de uma missão impossível.



janeiro 07, 2016 No Comments
Tudo se perde com o tempo:
perde-se a vergonha,
perde-se a fantasia,
perde-se a alegria,
perde-se a vitalidade,
perde-se, aos poucos, a esperança.
Alguns perdem até os cabelos,
mas não a barriga.
E, se longeva a vida for,
perdemos, inclusive, as pessoas que mais amamos.
Tal processo, apesar de doloroso, é imprescindível;
perder é, antes de tudo, amadurecer.
É preciso deixar para trás toda a carga inútil,
todo o peso morto;
seguir em frente, até que não reste mais nada;
só assim conseguiremos chegar, com altivez, ao fim desta jornada.


janeiro 07, 2016 1 Comments
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