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Momentos difíceis

Quase morri! Tá, isso é um tanto exagerado. Vamos reformular. Não cheguei perto de morrer literalmente, mas a simples possibilidade — à luz do que vivi — já foi o bastante para me assustar. Mas posso afirmar, sem hesitação, que algumas coisas morreram dentro de mim: certezas, inseguranças e, inclusive, muitos medos, pois o medo maior que temos já estava à espreita, rondando, se esgueirando sorrateiramente, sem que eu pudesse fazer nada. Pois bem, não morri, pelo menos não ainda, mesmo porque, caso contrário, não estaria agora escrevendo estas palavras. Se você me perguntar se eu aprendi alguma coisa com tudo isso, se me tornei uma pessoa melhor, mais sábia, daí eu não terei como lhe dar nenhuma resposta; só o tempo dirá. Talvez eu tenha aprendido uma ou outra coisinha, como, por exemplo, que estar saudável é muito melhor do que estar doente, que estar vivo é muito melhor do que a outra opção. Minha intenção não é fazer uma reflexão aprofundada sobre o tema, mas sim ter aqui uma convers...

Se arrependimento matasse...

Se arrependimento matasse, sobrariam no mundo apenas os psicopatas, os sociopatas e, principalmente, muitos políticos; este infelizmente é um breve resumo de tudo o que aconteceu. Pode parecer fantástico e irreal, porém, como estou muito doente, quero deixar aqui o meu relato. Não sei se essas minhas palavras serão lidas algum dia, não custa tentar.
O mundo seguia o seu ritmo normal e enfadonho. Um dia ouvimos falar sobre uma estranha epidemia que se alastrava por toda a Europa. A doença era rápida e letal. Toda a comunidade científica se debruçou sobre o caso em busca de respostas, mas nada descobriram. Aparentemente, nada daquilo fazia sentido. Aos poucos, a doença foi se espalhando para todos os outros continentes, causando uma mortandade nunca vista antes.
O momento mais difícil foi quando comecei a perder amigos, mulher e filhos. Fiquei totalmente desnorteado. Passei a perambular pelas ruas quase desertas de um mundo desolado. Para não enlouquecer busquei, com todas as minhas forças, encontrar uma resposta para tudo aquilo. Queria de toda forma descobrir a causa deste mal inexplicável.
Passei então a observar atentamente aqueles que tinham sobrevivido, e para o meu espanto, depois de muito tempo, percebi que aqueles que passaram ilesos pelo contágio eram, em sua grande maioria, pessoas que não sentiam nenhuma empatia pelo próximo.
Comecei a refletir sobre a razão de minha permanência neste mundo, chegando a duas conclusões, ambas errôneas. Primeiramente, eu pensei que era, como os outros sobreviventes, também uma pessoa sem coração, incapaz de me comover com o sofrimento alheio. Depois, seguindo outra linha lógica, pensei que talvez este fosse o sinal de que eu era a única pessoa normal, quem sabe até uma espécie de escolhido, um salvador da humanidade.
Agora que estou acamado e muito fraco, percebo o meu engano. Eu estava provavelmente no meio do caminho, a minha insensibilidade não era ainda completa, por isso a doença demorou tanto para revelar os seus sintomas em mim. O meu fim será, de certa forma, também a minha vitória. Não sei se estou certo, talvez haja alguma outra explicação para tudo o que aconteceu, quem sabe alguma superbactéria ou um vírus geneticamente modificado... A única coisa que sei neste momento é que estou contente com a minha explicação.
 

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