Fulvio Denofre. Tecnologia do Blogger.
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Devaneio e Poesia

Prados verdejantes, oh, bucólica lembrança
Do tempo em que éramos pastor e pastora
(Glauceste e Nise,
Marília e Dirceu,
Elmano Sadino...)
E vivíamos num frugal cotidiano,
Longe do ritmo frio e incessante do moderno maquinário,
Mas perto do calor ardente de uma reciprocidade irrestrita.

Oh, colina árcade de minhas reminiscências,
Onde eu era um artesão das palavras,
Um flautista alvissareiro a reverenciar,
Com meu singelo canto,
A natureza, o equilíbrio e a perfeição.

Nos campos helênicos cheio de flores,
Ou entre as minas de um ouro colonial,
Preenchia-se o pavor do vazio
Com odes, sonetos e canções.

Cinzas de outrora, poesia esquecida;
Nada mais restou daquela outra vida.


junho 02, 2020 No Comments
Presente, dádiva, vidas que se transformam.
Ver você assim tão pequeno, tão frágil,
me faz perceber o quanto ainda tenho a aprender;
não se trata aqui apenas de uma lição de humildade,
mas também de uma imersão em um universo de afetuosidade ainda não explorado.
Ver você assim tão inocente, tão adorável,
me assusta muito e me alegra imensamente,
fazendo-me, homem calejado, lacrimejar.
Você é tudo o que um dia sonhei,
meu mundo, meu homenzinho querido,
meu filho. 


maio 24, 2020 No Comments
Teodolinda, Leonor, Heloísa,
iluminuras de um passado descontente,
doutas mulheres de uma ímpar tessitura,
fazedoras de sonhos e sofrimentos.
Quisera eu viver provençais amores,
com seus êxtases, sais e olores.
Quisera poder me arrastar pelo mundo,
ungido por um amor premente,
dizendo a toda gente que culpado sou.
Ah, e pelo menos uma vez, ao som do alaúde,
contemplando tal formoso semblante,
conseguir me aproximar num rompante
e confessar meu anacrônico flagelo:
um amor cortês sem castelo.


maio 19, 2020 No Comments
Num rio que corre ao luar,
uma canção que jamais será ouvida.
Quando fecho os olhos,
iridescentes devaneios colorem toda a gris existência.
O Condor voa acima dos ciprestes, vales e montanhas,
perpassa com leveza o que antes era sofrimento e morte.
Reescrevo os próximos capítulos,
desfaço a hermenêutica vigente
e me descalço para seguir em frente.
Na dourada e sangrenta estrada de tijolos esquecidos,
ergo minha voz e canto:
amor, miséria e pranto.  


maio 10, 2020 No Comments
Uma ânsia maldita por perder-se em alguém, encontrando assim algo que tenha algum brilho, mesmo que parco, em meio a um mundo opaco de afetos. Uma ânsia maldita que habita o âmago de minhas trevas, que permeia toda a aridez desta alma sedenta por qualquer resquício de algo que minimamente me transcenda. Uma vida como um eterno caminhar sem sentido, com pés ensanguentados, até o lúgubre abismo. Uma vida como um grito de agonia silencioso que nunca será ouvido.   


abril 28, 2020 No Comments
Descrevê-la como corajosa, espontânea, autêntica,
é de uma obviedade ululante.
Por certo, caso eu lhe dissesse algo do gênero,
ela me responderia:
"diga-me algo novo, por favor,
alguma coisa que eu ainda não saiba".
Eu ficaria então perdido, atônito, sem palavras.

Meu encantamento por ti me faz emudecer;
sou um escravo da beleza e do desejo.

Depois do susto, faria de tudo para lhe agradar,
diria o que não sinto,
multiplicaria palavras sem necessidade.

Ela perceberia o simulacro,
leria sagazmente as entrelinhas,
abria as asas e voaria para longe.


abril 27, 2020 No Comments
Explosão de cores, sons e sensações:
algo aconteceu em mim.
Não me sinto mais o mesmo;
o espelho reflete uma estranha imagem.
Estou perdendo o controle,
não consigo mais resistir,
está reascendendo em mim uma antiga flama.
A desordem, infelizmente, está posta.
Eu bem sei que corro um grande risco;
tudo tem o seu custo na vida.
E, mesmo assim, lá vou eu de novo!
Mamma Mia!


abril 26, 2020 No Comments
Um pensamento atrás do outro:
trabalho, família, obrigações, vontades, obsessões.
Um sentimento de estar perdido em meio a um caos de alucinantes reverberações racionais;
um desejo de pôr em ordem todas as coisas, de fazer do mundo um fiel autorretrato.

E eis que tropeço (por insistência) em uma pedra psicodélica, caindo no vazio obliterante da existência.

Percebo, pois, que uso muitas palavras, muitos adjetivos, que penso demais.
Olho atentamente, mantenho a minha atenção plena, e vejo a minha cabeça desaparecer;
sou um com o mundo e não há mais um “eu”.


abril 15, 2020 No Comments
Angústia, tristeza, solidão,
fim do mundo,
falta de sentido,
isolamento autoimpingido;
quero encontrar algo que me distraia da realidade.
Nada posso contra o caos que me atordoa;
a noite é longa, e o sono não chega.
Por ruas desertas, o perigo se esconde em cada canto,
já o silêncio se torna um incômodo, um abismo exasperante.
E a vontade não morre, apenas hiberna,
aguarda o momento propício,
o tempo de reaproximação.  


março 29, 2020 No Comments
Olvidar a angústia que me rasga a pele,
a sensação de que algo me persegue,
deixar para trás a memória,
a vida, sonho.
Não há muito mais o que se fazer;
mergulho de uma vez por todas no nada que me engolfa,
que me emudece, fazendo-me aos poucos desaparecer.
De repente, e de forma previsível,
o silêncio se faz pungente;
tenho o que preciso, mas não aquilo que mais queria. 


março 05, 2020 No Comments
Estou sem chão,
sem horizontes,
em queda livre...
Perdido no espaço que nos separa,
eu me encontro aturdido, cansado;
sou uma sombra, um presságio.
O tempo passa apressado,
uma casa sem alicerces rapidamente afunda,
e eu, dia após dia, arrefeço pouco a pouco.
Está tudo diferente, mas também igual.
Ainda é dia, mesmo que não haja mais alegria, sonho ou sol.  


fevereiro 15, 2020 No Comments
Fora do tempo
Perdido no espaço
Homem das cavernas com smartphone
Nem tudo evolui no mesmo ritmo


Penso que sou grande
Moralmente infalível
Que meu conhecimento é insuperável
Mais uma vez: "Ignorância é força"


A cada dia que passa durmo pior
Sucessão frenética de fatos desconexos
Caos, insipidez e pouco afeto
Vida vivida apenas por viver


fevereiro 08, 2020 No Comments
Eu só canto em aflição;
meu silêncio é paz,
não felicidade.
Quando não tenho o que dizer,
calo-me;
quando tenho,
calo-me também.
Há muitas palavras no mundo,
poucas traduzem realmente aquilo que quero dizer.
Um olhar revela muito,
e há muita coisa dita no não dito.
Atos, palavras e omissões;
sou culpado, disso não tenho dúvida.
Conjugo o tempo presente, o único que possuo,
e arrasto comigo, por onde quer que eu vá, os grilhões da esperança.



fevereiro 02, 2020 No Comments
você veio com o vento
chegou de mansinho
sem que eu percebesse
preencheu os espaços vazios
acendeu todas as luzes
fez o que queria

você sumiu com o vento
foi embora de repente
sem dizer adeus
deixou o que não tinha
criou uma lacuna
fez nascer um entorpecimento
e um não sei quê
que me aperta sem cessar o peito

(... vidas vividas no silêncio.)


janeiro 12, 2020 No Comments
Quero escrever algo que soe sincero,
que não tenha cara de interpretação,
de algo forçado, calculado, ensaiado.

Quase posso tocar o fundo,
eis a minha queda iminente,
eis o momento de tirar a máscara
e... perceber que há outra em seu lugar.

Descreio da razão, da minha capacidade de tudo compreender.

Fiz escolhas relativamente questionáveis;
preciso conviver com as consequências.

Há certezas por todos os lados;
tenho medo do futuro. 


janeiro 11, 2020 No Comments
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