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Felicidade

Tua face dourada ao sol da campina; és remanso, orvalho, neblina. *** No relvado florido de sonhos ilhados, cultivas desejos e jogas os dados. *** Talvez tenhas apenas uma vontade: ser a luz para além da idade.

Multiverso

Universos paralelos em um mesmo universo Retas que nunca se cruzam Crianças do Silêncio Loucura e ressentimento As palavras dos profetas da banalidade O Verso e o Reverso A chegada de Andrômeda Cacofonia e estática O seu vestido branco Sonhos elétricos Desencontros

Tudo e Nada

Você vive em minhas memórias, habita o recôndito sagrado dos meus pensamentos, perscruta o abismo do meu ser. *** Tudo é igual e ao mesmo tempo diferente; é tão difícil agora seguir em frente.  *** Aqui é Tudo; após, o Nada que assombra o Mundo. *** Caminho, desnorteado, por entre narrativas confusas, visões utópicas e mentiras descaradas. Caminho… e descaminho.

Triste Holoceno

Me aventuro em meu próprio jardim tentando todos os dias, e mais uma vez, cumprir a tarefa hercúlea e infrutífera de regar a flor da felicidade alheia.   Estou sempre triste, ou alegre, pelos motivos errados. Demonstro pouco e sinto muito, mas às vezes o contrário também me acontece.   Hoje, a noite está fria, e não há estrelas no céu. Ouço vozes ao meu redor, vejo vultos, gestos e símbolos, mas não consigo captar nenhum significado.   Gritos silenciosos, silenciados, por toda parte; muita informação e pouco conhecimento; e, sobretudo, muito barulho para abafar tudo o que não seja alegria, sucesso e modernidade.

À Beleza

Deuses acima e abaixo mistérios por toda parte infernos pessoais   Colho um fruto da árvore do não-saber, deleito-me na vacuidade de fátuos prazeres, e acabo, por fim, vagando exausto em busca de algo que jamais terei.   Oh, Beleza , transitória e imutável, que me fazes perder o chão, eis-me aqui tremendo feito um homem-menino que nunca sabe dizer não.   Insatisfeito, rarefeito, diluído em uma poça oceânica, jogado aos pés do ocaso e do descaso; preso, acorrentado, sujo e ensanguentado; vivo, triste e contente, olhando o firmamento desolado.

Poética & Imagética

Estrelas em meus olhos, lágrimas nas montanhas e verdades entrecortadas.   Perdido em um cômodo, esquecido, resquícios de uma ansiedade que nunca se desfaz.   Despenco de um desfiladeiro rumo às pedras afiadas da solidão e então flutuo docemente por sobre o jardim das gentis reminiscências.   Nada importa. Nada.   É uma agridoce sensação: uma leveza insustentável, naufrágios adormecidos, fogo que acalma.

Sem nome

Às vezes o silêncio é apenas silêncio, e a inquietação perscruta sorrateiramente os recônditos insalubres da alma.   Lúgubres imagens de outros eus , espectros desfigurados, cacos de esperança que não se sustentam.   Verborragia pura, um niilismo infantil, um andar sem chão.   Eu, simplesmente eu, desconexo, iracundo, obsessivo. Eu, sem você, desnudo.

Me mostre como

Flores que nascem nas criptas do desespero, águas que escorrem pelos pântanos da morte, ventos que não trazem nada de auspicioso.   Me mostre como cair no entorpecimento, como desaparecer em você, como deixar de ser.   Verdades ditas a mesmo, laços rompidos, estranhas histórias de amor.   Em minhas mãos, flores murchas de Maio. No horizonte, o beijo suave do Tempo.

AURORA

Deuses que podemos tocar, mundos que podemos ver, imperfeições que nos fazem humanos: tudo parte da comédia divina e mundana do cotidiano. Sou um pagão, um herege, caminhando entre lobos, entre criaturas que dançam no escuro. Para além do dionisíaco e do apolíneo, do sagrado e do profano, um senso de que só a impermanência realmente permanece, de que o nosso tempo está se esgotando. Prazeres secretos, curas para aquilo que não há cura, sonhos que mais parecem pesadelos; sucessão absurda, poema pretérito.

Foto instantânea

Demorei muito pra chegar até aqui: anos de sofrimento, quedas e silêncio. Posso agora tocar os astros, ouvir o som das esferas, ultrapassar o mar da solidão. Posso olhar para trás sem remorsos e para frente sem ansiedade. Posso, enfim, ceder; ser derrotado mas mesmo assim vencer.

Apatia

Alterno entre a apatia e a irritação, depois varro as migalhas de afeto para debaixo do tapete. Você não está aqui comigo, ninguém está; são apenas telas escuras refletindo pálidos reflexos. É sempre a mesma coisa, dia após dia, um verdadeiro freak show : guerra, pandemia, fake news , ignorância travestida de militância. E eu olho nos seus olhos mais uma vez, mas você não me vê. *** Um silêncio aterrador se esconde por trás do espelho.

Um dia

Um dia sem amor, apenas um... *** Por todos os lados, pessoas que nunca saem do personagem, que nunca abandonam o script ; ficções de uma vida heroica, cheia de valores e virtudes, em um mundo caótico e sem sentido; facções que se digladiam, dia após dia, incessantemente, por um naco qualquer que seja de fama e poder. *** Um dia de loucura e frêmito, um dia de ousadia; bem, quem sabe um dia.

Cotidiano

Nem tudo é poesia, mas bem que poderia ser, ser diferente, diferente e contagiante. *** Caminhar descalço na grama, e não sair esbravejando discursos de ódio; ser gentil e atencioso, e não ter certezas absolutas; parar, respirar fundo e ver com novos olhos, e não seguir insanamente um ressentimento anacrônico. *** A lua ainda brilha no céu matutino, e o céu está opressivamente azul; tudo parece tão igual na superfície das coisas.

Disparate

Debaixo do sol ofuscante do meio-dia, segredos que não posso ver, verdades que não posso tocar. Nas retas curvilíneas das perguntas sem respostas, fantasmas e sombras, correntes e grilhões. Estilhaços por todos os lados; reflexos de uma existência sem sentido. O absurdo vai crescendo aos poucos, como um musgo, tomando conta de tudo. *** E o caminho está fechado, obliterado, pra nós.

Ouroboros

Para além do mundo físico, deixando para trás traumas e contradições, eu vislumbro vida e destruição, morte e renascimento. Há um oceano dentro de mim, uma natureza cruel e indiferente, um ciclo infinito de caos e ordenamento. Sinto um esvaziamento completo, um silêncio obliterante; tudo parece tão sereno e doloroso, tão puramente apocalíptico. *** Lábios frios, falso horizonte, águas calmas; ah, caro Caronte. ∞

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