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Loucuras Opostas

Em minha tranquilidade, muitos excessos; em seus excessos, muita tranquilidade. Você é detentora de uma loucura turbilhonante; eu possuo apenas uma loucura serena. Somos seres inconstantes, incompletos e insatisfeitos. Somos, enfim, seres desejantes; porém desejamos coisas diferentes. Somos opostos, mas talvez não sejamos complementares, sendo a complementariedade, no sentido pleno do termo, algo utópico, inalcançável. No entanto, ao nosso modo, agregamos sempre algo um ao outro.  *** Vemos o mundo sob prismas distintos: você acha que há algo para além desta jornada e eu, por outro lado, acho que a jornada é o que há, nada além disso. Se me digo realista; você, romântica. Se vejo empecilhos; você, oportunidades. Você diz que podemos nos reinventar, ser aquilo que quisermos, mas eu penso que certas coisas nunca mudam. *** Esquisitos, loucos, melancólicos, alegres; ora profundos, ora rasos; ora perdidos, ora encontrados; eis um pouco do que somos – pois não ousamos nos...

Sopro Vital

Tu serás para sempre um furacão; eu, uma leve brisa. Ao ver-te pela primeira vez, fiquei petrificado; Medusa, bela musa, oráculo, qual resposta abre tal cadeado? E, claro!, não decifrando-te, devorado fui por um sentimento inexplicável; revolves tudo por onde passas, e eu, aturdido, espero a calmaria, pois bem sei que só nos rencontraremos ao findar do dia.

Terra arrasada

Em meu corpo sinto o pó da estrada; suor, lágrimas, cansaço e nada. Viola na mão, entoo uma triste canção. Aos poucos, pessoas se reúnem para ouvir o meu pobre cantar. Uma criança sorri... Alguém faz uma piada, e o clima melhora; juntos, esperamos por mais uma aurora.

Dessacralização

Agarro, dilacero e profano o objeto proibido do meu desejo. Coloco-o ao rés do chão e turvamente entrevejo os ecos malditos do não. Passado algum tempo, nada subsiste daquilo que era interdito. O sagrado é agora um fato esquecido; não se ouve mais nenhum grito... É tudo história de um tempo ido. Resta apenas o vazio das coisas sempre iguais; o valor sem valor de tudo aquilo que não existe mais.

Musa

Casta Diva, Sempre Libera, Lua Adversa... És, a um só tempo, som e fúria, luz e sombra, magnificência e amargura, inspiração para luminosos e festivos dias, terror e caos dependendo das circunstâncias. Apesar de tudo, das dores, loucuras e tremores, suplico-te: – Oxigena-me a cada instante, pois só assim a criação se torna possível, só assim o dia tarda a se transmutar em noite. Três Cárites (Graças)

O Peso da Liberdade

Você precisa ser forte, porque a vida não foi feita para os fracos. Não há um sentido nem caminhos predefinidos. Você tem que fazer as próprias escolhas, pois ninguém virá lhe socorrer ou lhe indicar a melhor opção. A liberdade pesa demasiadamente. Preferimos, por isso, o conforto de escapismos vários. Chegamos a achar que qualquer coisa é preferível ao contato doloroso com a realidade. Em vez de superarmos as perdas inevitáveis da vida, ficamos presos em ciclos intermináveis de autopiedade. A decisão está em nossas mãos. Sempre esteve. Negar isso é infantilizar-se. É não ousar.

Arco-celeste

Em meio à chuva intempestiva, ao estrondo dos trovões, um relâmpago de repente ilumina. E numa revoada de sonhos e pássaros, ouvindo o som das lágrimas nas calhas de uma cidade esquecida, sinto o clima crescente do silêncio que aos poucos me enlaça, fazendo nascer no arco-celeste uma nova vida.

Animal desgarrado do bando

Segredos, mentiras, limites Desejos, loucuras, obsessões Totalmente fora de controle Mais um passo... rumo ao abismo Advertências ignoradas Descompasso Derrota da razão Força primal rediviva.

acasOcaso

Perdi o meu ponto de ancoragem... A concretude ilusória dos meus devaneios se esfacela ao contato do real. 9,8 m/s² Queda livre Impacto em T-minus 10, 9, 9.9, 9.8, 9.7... Nunca chegarei ao fim!?

Epígrafe:

“A visceralidade da vida só atingirá a sua plenitude quando renunciarmos a todo delírio utópico e a toda febre metafísica.”

Sofrimento

Amo sobretudo aquelas pessoas que possuem um espírito tão atormentado quanto o meu. Vejo nelas, como num espelho, a exasperação contínua da angústia de se saber verdadeiramente incompleto e finito. Nada é mais cansativo e entediante do que a superficialidade de quem se acha muito profundo, sensato e bondoso. O mundo é dos loucos e trôpegos, daqueles que, com seu passo cambiante e torto, vivem assolados por constantes cumes e abismos internos – só encontramos autênticas reverberações nos espíritos que ousam ir além da dor.

Conservar é preciso!

Um dos nossos maiores medos na vida é o da deterioração produzida pela ação do tempo. A verdade é que o tempo é cruel, insensível e persistente; obliteração de memórias, esfriamento de sentimentos e enfraquecimento de laços outrora fortes são alguns de seus efeitos mais recorrentes. É certo que, no fim das contas, ele irremediavelmente nos vencerá, mas não devemos por causa disso deixar de combater o bom combate, até o fim. Conservar é preciso! Temos que resistir à frouxidão que aos poucos toma conta de todas as coisas. O ser humano responde sempre a estímulos. Infelizmente, quando todos os estímulos cessam, tudo tende a desaparecer em pouco tempo. Por isso, se queremos que alguém realmente permaneça ao nosso lado, temos que superar o nosso egoísmo e constantemente mostrar a esta pessoa o quanto ela é importante para nós.

A visceralidade da Vida

Mediocridade : viver uma vida sem reflexões, sem tristezas profundas e agonias torturantes; ser uma pessoa sem vício algum, ostentando a todo momento uma moral falsa e fajuta; não se deixar levar por paixões momentâneas, pelo prazer de se viver intensamente algo por medo do julgamento alheio; não se entregar à loucura fustigante da existência; fingir que o desejo não é a força motora da humanidade; querer ter uma resposta para tudo, um sentido a priori para a vida; ser extremamente racional e metódico, um chato de galocha; anunciar a todos a sua verdade recém descoberta; achar-se o máximo a todo instante; nunca se abandonar ao Infinito que nos envolve e, aos poucos, nos dilacera.

Estado de arrefecimento

Uma agonia excruciante invade o meu ser; sinto em mim os estertores da derradeira ilusão. Faz um silêncio absoluto, ensurdecedor. Toda esperança agora possui uma aspecto natimorto; nem sublimar o que quer seja eu consigo mais. Vácuo... Frio... Esquecimento... Transfiguração

Sentimento do Mundo

Encontrar-te-ei aonde quer que tu andes; não quero ser como os outros, quero ser J. Pinto Fernandes. Mesmo sabendo que se trata apenas de uma rima, que haverá sempre pedras no caminho, que as luzes da festa logo se apagarão, desejo arder intensamente pelo efêmero tempo que ainda nos resta.

Entropia..

Naufrágio, desmoronamento, destruição Estragos, escombros, ruínas Nonsense viver... Distraídos sobreviveremos. ... Nos cumes do Desespero, a vertigem agônica o Vazio obliterante o Caos, o Nada e Tudo.

Perdição

Uma força da natureza: idiossincraticamente múltipla, mas ao mesmo tempo única; de uma personalidade fulgurante, repleta de nuances, mistérios e fervores; peculiarmente inteligente, ousadamente bela, inalcançável e vulcânica; puro abismo e paroxismo. 

Quatro hipócritas e um bar

Era uma noite fria. Quatro amigos se reuniam mais uma vez para compartilhar os seus anseios e dizer suas meias verdades. O que cada um revelava era demasiado pouco em comparação com aquilo que guardavam para si mesmos. O medo de que uma dose extra de sinceridade corroesse a harmonia da mesa pairava sobre copos e mentes. Realidade A: O encontro foi extremamente agradável, todos ficaram contentes e voltaram para suas casas satisfeitos com o fugaz momento que juntos tiveram. No entanto, por mais que se esforçassem, depois daquele dia, e durante o resto de suas vidas, a hipocrisia os perseguia por todos os lugares; a moral os oprimia constantemente; suas mentiras os chicoteavam; viviam como escravos de suas próprias palavras e convicções; e, acima de tudo, não conseguiam escapar de seus enclausuramentos autoimpingidos. Realidade B: O encontro foi extremamente agradável, todos ficaram contentes e voltaram para suas casas satisfeitos com o fugaz momento que juntos tiveram. Depois daque...

Dedicatória

Mesmo sabendo que nunca encontraremos um sentido a priori que justifique a nossa existência. Mesmo tendo consciência de que caminhamos inexoravelmente rumo ao Nada, ao vazio que abarca a tudo e a todos em algum ponto do futuro. Mesmo reconhecendo a insignificância do ser e a sua total irrelevância, seja em atos, palavras ou obras. Mesmo assim, quero registrar aqui algo indubitável: és importante e deveras querido em meu universo interior, que é o lugar onde habita a essência mutável daquilo que sou – pelo menos por um breve período.

Saindo de si mesmo para se reencontrar

Somos seres incompletos, imperfeitos e insatisfeitos. Vivemos, portanto, sempre à procura de algo que nos torne completos, perfeitos e realizados. Mas onde poderemos recuperar aquilo que nos falta? Estará esse pedaço perdido escondido no mais íntimo do nosso próprio ser ou guardado em outro alguém que ansiamos muito por encontrar?   Bem, nem tudo o que procuramos no outro está dentro de nós, e nem tudo que nos falta pode ser preenchido por outra pessoa. Não acho, no entanto, errado buscar no outro algo que nos falte, errado é nos submetermos a situações ruins nessa busca, fingindo que encontramos aquilo que tememos nunca encontrar, ou mesmo nos enganando com a afirmação de que não nos falta coisa alguma. Se há carência e solidão, provavelmente há algo faltando, e este algo pode ou não ser encontrado, isso depende muito das circunstâncias, empenho e características de cada um.   Devemos aprender a lidar com os vazios que existem dentro de cada um de nós. Cada indivíduo tr...

Vida e Sentido

Nós possuímos uma clara tendência à criação de padrões, estabelecendo em tudo relações de causa e efeito, criando assim – pelo menos em nossas cabeças – uma sistematização de algo que nos parece caótico. Não me refiro aqui a existência ou não de padrões na natureza, nem ao modo mais adequado para perceber tais padrões, me atenho principalmente ao fato de que somos seres moldados evolucionariamente para a busca de sentido. Arquitetamos narrativas para a criação do mundo; inventamos histórias que justifiquem os nossos sofrimentos; buscamos respostas para os mínimos eventos do nosso cotidiano; entrelaçamos todas as coisas em um arcabouço teórico ordenado, lógico, verossímil, porém falso. A problemática neste ponto está na dificuldade que temos de nos desapegarmos de nossas próprias certezas; o homem, de fato, sempre será “a medida de todas as coisas”, não temos como fugir das limitações impostas pelos nossos sentidos e, principalmente, pela nossa restritiva capacidade cognitiva.  O ...

Espiritualidade sem religião é possível?

 Antes de qualquer coisa, devemos entender que religião é tradição, é ouvir a sabedoria dos nossos antepassados, é aprender com os erros daqueles que já trilharam o mesmo caminho que estamos trilhando agora.   Podemos cultivar uma espiritualidade sem uma religião que a sustente, podemos inclusive cultivar uma espiritualidade sem Deus, mas o que a experiência nos mostra é que as pessoas que possuem uma religião e a praticam conseguem desenvolver muito mais facilmente a sua espiritualidade.   De um modo geral, as pessoas mais espiritualizadas são as religiosas, pois estas seguem preceitos e orientações, dedicando a sua vida a uma contínua busca pelo aprimoramento próprio. Quando o indivíduo abandona a religião e tenta ele mesmo cultivar essa espiritualidade ao seu modo, ele acaba geralmente afrouxando o seu compromisso pessoal com a sua própria melhoria – antes a pessoa tinha que ser melhor porque Deus queria, agora ela precisa ser melhor pelo simples fato de que que...

Horizonte

Para perscrutar o âmago das coisas, introspecção. Para vislumbrar a natureza das relações humanas, solidão. Para conservar aquilo que a vida tem de bom, muita persistência e coragem. Não há respostas prontas, não existe caminho fácil. Suor, lágrimas, perdas, dedicação, superação, alegria, tudo se condensa numa existência única e particularíssima. Olhar e apreender o sentido daquilo que talvez não tenha em si sentido algum; respeitar a especificidade e a importância de cada pessoa; respirar muitas vezes o ar irrespirável do caos que nos cerca; seguir em frente mesmo quando a esperança se torna rarefeita; recriar no nosso imaginário, no nosso espírito, a harmonia tão desejada; ressignificar e perseverar sempre! Uma leve brisa sopra ao pôr do sol. O expediente termina, a noite cai, todos procuram pelo aconchego de um lar. Durante a madrugada, chove torrencialmente. E, em certo momento, o silêncio se faz absoluto. De repente, o despertador toca, a casa começa a criar vida novament...

História

Tristes laudas de meu último desespero: a noite chega o livro finda a busca cessa Tudo se assemelha a um intenso nevoeiro... a marca de uma lágrima o gosto amargo de uma derrota o sorriso revigorante de um recomeço Vagas lembranças de um passado incerto; dunas que se moldam ao bel-prazer dos ventos.

Feliz Ano Novo!

A morte não carrega em si nenhum grande mistério, mas a vida sim. Não é difícil perceber, por um lado, que a não-existência é a principal e mais constante regra do universo e, por outro, que a existência é simplesmente uma maravilhosa exceção. Estar aqui e ter consciência disso é de uma magnificência incomensurável. E poder dividir esse momento com vocês é melhor ainda! Feliz Ano Novo!

Cinema: a história não contada

Dragões, espaçonaves, zumbis, vampiros, ciência, magia - podem colocar tudo o que quiserem na tela do cinema, só não se esqueçam, por favor, de contar uma boa história. Hoje, os efeitos especiais, cada vez mais, tomam o espaço de um bom roteiro. Explosões, acontecimentos fantásticos e muita ação desenfreada estão, não sei se intencionalmente ou não, substituindo uma boa narrativa. As personagens, que antes eram o núcleo do filme, transformam-se muitas vezes em meros joguetes da trama, pois o que importa mesmo é mostrar a riqueza de um universo criado para conter a insanidade decorrente de duas horas ininterruptas de completa estupefação (ou puro tédio). A imaginação sem limites e os efeitos especiais devem, sim, ser usados, mas da forma correta, como recursos narrativos, e não como fins em si mesmos. Não há nada de errado em querer ver mundos fantásticos, robôs gigantes, seres sobrenaturais ou raças alienígenas. O problema está em se esquecer que o que cativa realmente o público,...

Sapere aude (atreva-se a saber)

O conhecimento é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados (alguém mais inteligente e mais vivido do que eu com certeza já deve ter dito isso antes). Somos seres banais, superficiais e fúteis, quem disser o contrário disso é porque, além dessas três coisas, é mentiroso também. Há que se compreender que o excesso de informação de nossos dias não gera, por si só, conhecimento, pois, para se chegar ao conhecimento, é preciso selecionar qualitativamente as informações úteis num arcabouço que tenha pelo menos dois elementos: lógica interna e lastro na realidade.

Pretender

Sim, sou eu, eu sou o Grande Fingidor, fingindo que o meu coração é seu, fingindo que tudo está bem, fazendo do mundo o meu palco, buscando sempre novas paragens. *** Eu sou tão líquido quanto a modernidade, tão real e absurdo quanto a vida, tão obsessivo e irracional quanto o ser. Prisioneiro que sou da liberdade, chego a acreditar em tudo, até mesmo no amor. *** Sou, enfim, o grande ressentido, o falso altruísta, o grande demagogo. Sou a verborragia desvairada e pedante, a piedade não piedosa e a incongruência. *** Sou porque percebo o Tempo e contemplo o Nada.

Stand by me - don't let me down!

Mirando o espelho, vejo, aterrado, a minha própria deterioração. Vislumbro então o esboço de um futuro nada promissor, e, de uma forma quase que instintiva, percorro o meu passado em busca de algo um pouco mais acolhedor. Regresso, pois, ao precioso momento em que achei que tivesse me encontrado finalmente comigo mesmo diante da presença de uma pessoa que me era, naquela época, muito querida; sussurro as palavras: fique comigo, não me abandone; sim, tudo agora está envolto nas brumas inexoráveis do tempo.

Contra o consenso

Estar certo ou ser feliz – eis a questão. A grande maioria das pessoas prefere sem titubear a segunda alternativa, achando que assim poderão estar certas também, o que pode se mostrar um grande erro a longo prazo, pois a maior improbabilidade que existe é a probabilidade de que tudo esteja ao nosso alcance e controle. Não é à toa que o mundo é do jeito que é, e isso não é de hoje, quem sabe os homens do Paleolítico fossem bem menos lascados do que nós; a vida poderia ser muito mais dura naquela época, no entanto, devido sobretudo às necessidades de sobrevivência da espécie, não havia tanto tempo ocioso para ficar pensando em determinadas bobagens.  Mas voltando à questão inicial, os debates de ideias hoje em dia possuem quase sempre apenas um lado - geralmente o mais errado e estúpido. Ninguém quer mais procurar fatos e evidências. Refutar, aprofundar ou discutir algo dá muito trabalho, o melhor é aceitar que as coisas são como são, não duvidando de nada. Complicar pra quê, não é...

Mentes pequenas num cosmo incomensurável

Há muito tempo, numa galáxia muito, muito desimportante, num quadrante esquecido de um sistema solar ainda mais desimportante, encontramos um pálido ponto azul; ao nos aproximarmos, porém, um pouco mais, verificamos tratar-se de um pequeno planeta praticamente inofensivo e irrelevante. Os habitantes, quase sempre entediados, desse planeta queriam audaciosamente chegar aonde nenhuma espécie jamais esteve, pois achavam que assim, de alguma forma, sentiriam um pouco menos de tédio. Para tal grandiloquente objetivo criaram e desenvolveram supercomputadores, foguetes, satélites, robôs e naves espaciais. Primeiramente, colonizaram a lua próxima, depois o planeta vizinho, o que consideraram apenas conquistas de pouca monta, por isso, ainda insatisfeitos, saíram em busca de planetas habitáveis fora de seu próprio sistema solar. E, para que esse intento fosse possível, construíram uma grande espaçonave usando toda a tecnologia e ciência acumuladas; uma nave totalmente autossuficiente para a...

Pirassununga

Uma avenida de ipês amarelos; um coreto com peixes coloridos; vários restaurantes e muita água rolando por baixo de uma velha ponte; uma igreja com suas colunas e altares laterais; um colégio e seu porão; um coração de fumaça desfazendo-se num céu de brigadeiro; uma estação de trem chamada vida; uma terra de amores, sonhos e alegrias...

instantâneo

Sussurro no seu ouvido palavras desconexas. O vento fustiga as janelas. Aqui, com você, está quente, mas lá fora a tempestade ruge. Por um instante a existência parece fazer algum sentido. Eu sei que, ao canto da cotovia, tudo se dissolverá, (ah, o rolo compressor da realidade) mesmo assim, neste momento, quero apenas contemplar um pouquinho mais as curvas suaves do seu corpo, fixar na minha memória o seu sorriso.

inconsciente poético

Já fui pra Pasárgada – lá não me quiseram. Já tropecei na pedra do caminho largo. Fui ao meu amor sempre atento, mas não durou muito. Hoje, a minha vida não está completa, nem tocar um tango argentino eu posso mais. Fico aqui, com esta minha fala entupida, compondo quimeras, buscando regressar à terra das palmeiras e do sabiá.

Os lírios do campo já murcharam...

Tropeço na noção de tempo e me esparramo na relva molhada; contemplo nuvens de glórias passageiras até mergulhar num céu azul-piscina. Volto aos tempos de criança. Há uma toca de coelho no meu jardim; faço-me de explorador e, audacioso, encontro Beatriz e Virgílio pelo caminho. Hipopótamo, anos, séculos, eras... Tudo retorna para o mesmo ponto, para a mesma singularidade. A vertigem finalmente passa, descerro os olhos: nuvens, céu azul, infinito

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