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Pátria amada, Brasil!

Lábaro, o que ostentas estrelado? O que diz o verde-louro de tua flâmula? Onde está a paz? Cadê o progresso? Glórias de um passado fictício, lembranças de um tempo esquecido, esperança agonizante de um futuro incerto; estará tudo definitivamente perdido? Democracia, palavra deturpada e enxovalhada, que necessita urgentemente de uma ressignificação para se tornar, enfim, um sonho intenso, um raio vívido, capaz de despertar esplendidamente o colossal infante de seu sono entristecido.

Devaneando

Devaneando vou, pisando descalço o vidro cortante em que me desfaço. *** Degredado vivo, num país distante, sem amigos, amor, sorte ou amante. *** Procuro encontrar a felicidade; e no amor mútuo, a cumplicidade.

Coração fecundo

Ser uma pessoa introvertida é viver dentro do próprio mundo, como num rio denso e profundo a desaguar na foz da vida. É ter um coração fecundo: uma emoção sempre contida, uma vontade reprimida, um sonho a cada segundo. É não querer popularidade; preferir mais ficar sozinho, vivendo em tranquilidade. É buscar no céu um caminho, se perdendo na imensidade, livre como um passarinho.

Passagem

No frio deste inverno, não consigo derreter o gelo que se formou dentro do meu peito desde o amanhecer. *** A noite cai depressa; sinto o meu corpo frio. – Haverá esperança, ou alguma alegria, após a curva deste rio? *** Somente três certezas tenho neste instante: - o amor é um pavio; - a vida só passagem; - e eu um inconstante. *** Sinto a frialdade de uma leve brisa. Em meio à névoa, vejo ao longe uma nova divisa.

Destino

A flor aos poucos fenece e exala um triste odor; lembranças já esquecidas de quando tinha a viva cor. *** Quereria ser adorada como era antigamente, mas agora, esquecida, decompõe-se murchamente. *** Porém, não se entristece, aceita a sua natureza; servirá de substrato, alcançará a realeza!

Rósea Flor

Rósea flor dos meus sonhos pueris, imagem incrustada no meu peito, oh, doce afã em que me deleito nestas noites tão ardentes e febris! Tu vens insidiosa ao meu leito; vorazmente me beijas e sorris, e, como uma adorável meretriz, subjuga-me sem o menor respeito. E, assim, me abandono à tua vontade, inconsequentemente, loucamente, desrespeitando toda e qualquer moral. Não sou mais apenas uma metade; estás diuturnamente em minha mente, inebriando-me com um eflúvio divinal.

Vida, reflexo e aparência

Ouço a verborragia cretiginosa que ecoa em cada esquina, em cada beco, nos meios ditos sociais. E, diante da insignificância dos nossos atos, percebo a necessidade inconsciente, imprudente, de perpetuar uma imagem que nada diz, muito menos condiz, com a nossa verdadeira realidade.

Fobofobia (Medo de se ter medo)

Aos fobofóbicos de plantão: Ousai! Não vos encarcereis! Que o vosso amor a este pérfido sentimento seja desarraigado e transmutado. Devei temer, sim, mas não desta forma, senão começareis a ter alucinações realísticas, ou, porque não?, consumísticas, que lentamente encobrirão, como uma chuva de cinzas, a vossa existência.

Identidade

Poeta, filósofo, astronauta, um artista no palco da vida; eu sou uma nota fora da pauta, e de Deus a imagem distorcida. Sou alguém que tem tudo e tudo falta; um profeta na cidade vendida. Sou um forte guerreiro que exalta a dor a cada nova ferida. De tanto buscar nem sei mais quem sou; o destino depressa se desfaz, mal chega a fortuna vem a desdita: Esta vida é mesmo louca e bendita! Ser ou não ser – agora tanto faz...        Eis-me aqui, Vida, desfrutar-te eu vou!

Aurea Mediocritas

O que torna a nossa época tão enfadonha é o fato de que todo mundo hoje em dia tem uma opinião (quase sempre genérica e superficial) sobre tudo. A mediocridade disfarçada de discurso inteligente, o otimismo exagerado e falso, e a tentativa de projetar a qualquer custo uma autoimagem de pessoa realizada e decidida transformam o cotidiano num deserto lúgubre e infértil, que apenas serve para a criação de novas ilusões e utopias.

Ressignificar

poesia sem poesia sonhos estilhaçados na crueza singela da vida, homens silenciados. vida sem poesia insípido cotidiano fantasia destruída início de um novo ano.

Chão

Descalço o homem repisa o chão já cansado. Um caminho se lhe apresenta: continuar, - mas como? - se seus pés maltratados imploram por um oásis, um refrigério, um sonho-ilusão, vida-doce-canção. Marginalmente esquecido, necessita reaprender a olhar, desapegar-se da dolce vita que tanto sonhara para poder viver a experiência, ao mesmo tempo aterrorizante e esplêndida, da realidade. Numa confluência inesperada, mundos distintos: - o racionalismo totalizante da vida; - o escapismo transcendente da imaterialidade. Mais do nunca é preciso reinventar-se.

Cosmos

Catapultar-me-ei às estrelas, até o balé infinito das esferas, atravessando nebulosas fabulosas, galáxias turbilhonantes, mundos de sóis e girassóis brilhantes, pulsares, quasares, e tudo o mais que pensares. E quando, ao final desta frenética jornada, já cansado e procurando aconchego, eu finalmente sossegar, quero te reencontrar, lindo e azul, oh, meu doce lar.

Do fim quimérico das ortodoxias

Verdadeiramente mais verdadeiro que todas as verdades absolutas; oh, insânia devoradora de todo crítico pensamento moderno; vívida sombra ruminante a propagar a sua viscosa ideologia.

Fragmentos

Descolo-me desta pintura harmoniosa e precisa, e, em tons de cinza, aprecio a antiga moldura até conseguir reenquadrar o momento presente. Desavisado, tento fotografar a realidade, fazendo desta imagem o meu mundo; um mundo recortado e incompleto – sim, mas subjetivamente meu.

Contemporaneidade

luz, câmera, ação!? inércia, paralisia, entropia fome, descaso, inanição insipiência acachapante teatralismo reinante vida, fosso e indecisão

Omnia Vincit Amor

Meu coração é como um vulcão há muito tempo adormecido, entrando em forte erupção, reclamando todo tempo perdido. Viver sem amor é o pior castigo; melhor seria ser maltratado, preso a grilhões e aniquilado, do que não poder ser um contigo. O Amor, na vida, vence tudo; e, apesar da frieza do mundo, reinará o Amor eternamente. Por isso, quero estar ao teu lado, viver um sonho, inebriado, amando-te de corpo, alma e mente.

Fluxo

Por que abriste as comportas desta torrente impetuosa chamada paixão? Por acaso, não sabes que todo este manancial contido irá, aos poucos, sufocar-te? Sentirás, então, uma pressão insuportável em teu peito; perderás completamente o controle. Tudo por causa de um certo nome murmurado, com todo o carinho e cuidado, por entre as flores.

Efemeridade

Não jures amor eterno, pois, na vida, tudo passa; o amor, que hoje ferve, amanhã será fumaça. *** A chaleira dos amores, em constante ebulição, confunde os sentimentos e enlouquece o coração. *** Porém, nunca te esqueças de que só tens uma chance. O final é sempre o mesmo; a vida não é romance.

Desejo

O meu obscuro desejo aumenta sempre e mais toda vez que eu te vejo. *** Eu quero ser o teu cais, sentir-te em meus braços, ouvir teus gemidos e ais. *** Prender-te-ei em fortes laços de um amor inquebrantável, mais forte que ferros e aços.

Tesouro perdido

Porque tanta superficialidade? Tanto medo de amar ? Permanecemos distantes: não nos entregamos, muito menos criamos laços; é cada um no seu caminho. Vivemos as nossas vidas em solitárias ilhas perdidas no meio do vasto oceano, com medo, olha só, de molharmos os pés!

Fulvescência

Há um brilho fulvescente em cada olhar, em todas as formas vivas, neste nosso novo dia e na semente que germina. Há um brilho fulvescente neste teu sorriso, em todo gesto de carinho, na mão que se estende e na vida que termina. Há um brilho fulvescente envolto no mistério de toda essência que nasce do encanto simples de viver.

Adolescer

Olhares se encontram, e alguma coisa acontece... O coração dispara; o corpo estremece; as mãos se entrelaçam. Enfim, é a vida que floresce.

Entrada franca – Acesso restrito

O Amor bate à porta? Ou será que ele bate a porta na nossa cara? É certo que, muitas vezes, somos nós que entramos pela porta errada, motivados pelas mais diversas razões e circunstâncias. Devemos deixar a nossa porta aberta? E se, de repente, entrar um estranho? Ou devemos sair batendo de porta em porta? (Desespero!) Não há respostas prontas ou fáceis para tais questões. Cada um deve encontrar o seu próprio caminho, sabendo que os desencontros e as desilusões serão constantes. Alguns se perdem, outros se encontram; alguns passam a vida inteira procurando; outros conquistam rapidamente. Mas o mais importante é viver tranquilamente, aproveitando a felicidade, não a que idealizamos, mas a que podemos alcançar.

Paixão

Eu te quero mais do que tudo! Num desejo forte e profundo, te quero sempre ao meu lado para aliviar-me a dor, o fardo. Longe de ti minh’alma morre, morre de tristeza e solidão; o que do meu peito escorre é o fluido rubro da paixão. Os teus beijos me incendeiam, tua pele me enlouquece. – O amor é o que me aquece. Tenho uma febre ardente, padeço de um mal sem cura que levarei à sepultura.

A Estrada e o Violeiro

Eu quero fugir, cair na estrada, desaparecer... Iniciar a caçada voraz e atroz de todo o ser.

Jornada

Eu mergulhei profundamente no mais íntimo do meu ser, e o que encontrei me deixou desolado: uma escuridão intensa tomava conta de tudo, e, por isso, temi continuar a minha jornada. Porém, uma força maior me arrastava; não sei ao certo o que era, a única coisa que sei é que fui perseverando e seguindo uma tênue luz que surgiu repentinamente iluminando o meu caminho, sendo que a cada passo que dava esta luz se tornava mais forte. Quando me dei conta, já estava em um lugar luminoso e lindo. Havia ali muita paz, amor e esperança. E não tinha ido muito longe – eu estava dentro de mim.

A Alberto Caeiro

Toda a ordem, bem como toda a desordem, está unicamente em nossa mente. O mundo não é, em si, ordenado ou caótico. O mundo apenas está aí e se apresenta a nós como uma realidade a ser vista e sentida. Somos nós que ordenamos tudo o que existe, somos nós que classificamos e damos nomes a todas as coisas. Porém, neste processo exaustivo, nos esquecemos de viver e criamos em nossas mentes uma imagem falsa do mundo. O mundo não é bom nem mau, aliás, o mundo não é, o mundo está.

Declaração

A lembrança tua, à noite, me faz de novo existir. Fico sonhando acordado, não consigo mais dormir. *** Não sei o que acontece, espero o dia amanhecer. No coração uma certeza: outra vez eu vou te ver! *** Dentre todas as flores, tu és a mais bela. Mal a vejo ao longe, já suspiro: – É ela! *** Preciso urgente dizer, antes que seja tarde. Confessar o que sinto, mas sem fazer alarde. *** Peço a inspiração de todos os poetas. Escolho as palavras, aparo as arestas. *** Enfim, chegou o momento. Eis o meu louco querer: viver sempre ao teu lado, até o último entardecer.

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