Fulvio Denofre. Tecnologia do Blogger.
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Devaneio e Poesia

Não quero escrever nada muito profundo,
não quero ser tomado por um tolo sentimento
do quanto os oprimidos sofrem,
ou de quanta injustiça há no mundo;
quero apenas viver aquilo que pode ser vivido.
No prosaísmo do cotidiano, papo furado entre amigos,
boa comida, um bom vinho,
trabalho – dia após dia, descanso, família.
Sempre contra um mundo melhor,
contra um novo homem,
mas com posturas e valores, é claro;
só os chatos e entediados já acordam pensando em revolução. 



agosto 06, 2018 No Comments
No altar do Nada,
em meio a corpos e coisas,
contemplo a deterioração constante de tudo.
Uma piada sobre algo do cotidiano;
um cão que ladra;
uma mulher que passa.
Dias, semanas, meses, anos...
A imagem que vejo no espelho não é mais radiante.
Sempre uma única direção, sempre o mesmo acre sabor.
...
Deleito-me, enquanto posso.



julho 17, 2018 No Comments
Um brinde à burguesia!
Ela não fede, mas, como todo mundo,
quer também ficar rica.
Não quero aqui fazer poesia,
quero falar mesmo é da vida comezinha;
aluguel, contas, plano de saúde, uma boa escola para os filhos...
Não é nenhum crime querer algo mais!
Vender, comprar; ter princípios e valores;
crescer na vida à custa do próprio labor.
Uma piscina cheia de ratos é própria daqueles que vivem do suor alheio,
daqueles que, por não suportarem a própria mediocridade e incapacidade,
adoram culpabilizar aquilo que chamam genericamente de “O Sistema”.


junho 15, 2018 No Comments
O que nasce, o que medra, o que fenece;
tudo está circunscrito no tempo,
tudo é frágil, limitado, efêmero.
Estações que se sucedem;
precipícios que se avizinham.
O medo da aniquilação, do regresso ao nada,
intensifica os prazeres do agora.
Na natureza selvagem, junto com outros animais,
o animal homem constrói seu refúgio,
cria seu próprio mundo e inventa outras tantas possibilidades.

março 14, 2018 No Comments
Não existe nada mais constante do que a inconstância.
Hoje vejo.
Amanhã não vejo.
O que parecia eterno se dissolve aos poucos.
Eu miro outra vez teu conhecido semblante
e a única coisa que enxergo são lembranças.
Dia após dia...
Ano após ano...
Partidas, encontros; idas e vindas.
Ergo-me mais uma vez e prossigo.


março 10, 2018 No Comments
O açoite da desesperança assola o mundo dos vivos, dilacerando sonhos, fantasias e expectativas.
Cravado no coração das trevas, um mistério sepulcral se esconde.
No umbral último, a seguinte inscrição:
“Abandonai, vós que entrais, aqui toda a esperança.”
Nove círculos de agonia, dor e sofrimento.
A alma como um leito seco de rio
Uma angústia silenciosa e crescente
Um passo em falso
abismo


março 09, 2018 No Comments
Desafiar o canto da sereia do conformismo. Ser aquilo que se é, e não aquilo que os outros gostariam que você fosse. Viver no real, na concretude do cotidiano, por mais tedioso que ele possa muitas vezes ser. Fugir de idealizações e abstrações que não nos levam a nada. Olhar uma árvore e ver uma árvore. Não ir além nem ficar aquém. Despir-se de um eu velho e carcomido. Mirar-se no espelho, sem medo. Ver. Pensar. Ser.

fevereiro 20, 2018 No Comments
Eu sou um epicurista, hedonista, egoísta, materialista, niilista, cético e tudo o mais que você quiser. Não almejo grandes altitudes filosóficas, não busco a verdade, não me preocupo em ser mais virtuoso, quero apenas fruir. Sou pela negação dos grandes sistemas de pensamento, pela negação das grandes doutrinas teológicas e pela não aceitação de tudo aquilo que tenha um caráter pré-cozido. (Seria quase um solipsista, se isso fosse realmente possível.) Não tenho nem quero ter onde repousar a cabeça. Assim como não acredito em um mundo melhor, também não acredito em um homem melhor, um homem que supere a si mesmo. Sou extremante cético quanto ao aprimoramento progressivo do ser; estamos em contínua mudança, é claro, mas nada nos indica que tal movimento siga rumo a algo mais edificante. Sei que a vida é um entreato, um breve e fugidio momento, delimitado por dois grandes abismos. Sigo, abujamramente, caminhando no incerto, nesta causa perdida, provocando e idolatrando a dúvida.


fevereiro 20, 2018 No Comments
Seres insignificantes, sem nenhum propósito, perdidos na imensidão indiferente do Cosmos, buscam algum sentido, mas nunca o encontram. Muitos, desesperados, tentam inventar um; acham que uma ilusão institucionalizada diminuirá de alguma forma a angústia que sentem. Outros, mais sensatos, veem nisso uma oportunidade; se não existe sentido algum, podem então criar um para si mesmos, fazendo de suas vidas aquilo que quiserem – uma obra-prima ou uma garatuja. E há, em um número muito menor, aqueles que abraçam o absurdo da existência ao compreenderem a inutilidade de toda e qualquer tentativa de procurar atribuir sentido ao que quer que seja.




fevereiro 13, 2018 No Comments
Muitos “amam” a diversidade, mas não conseguem conviver com o diferente no seu dia a dia. É crescente, infelizmente, o número de pessoas que desistem do diálogo, que preferem ficar com o monólogo da sua própria verdade pessoal projetada naquilo que chamam de seus interlocutores. Se os outros devem ser apenas um reflexo daquilo que se é ou pensa, então todo debate verdadeiro já se encontra natimorto, pois o que sobrevive daí é apenas uma cópia barata, mera expressão de um autoprazer intelectual.


fevereiro 12, 2018 No Comments
Em minhas veias corre uma incandescência,
um líquido que tende a se solidificar.
Por que continuar falando de amor?
Por que viver buscando a magia?
As desilusões são o que existem de mais constante;
os sonhos nunca se realizam!
Para reacender a chama escondida do ser,
para sentir o afetuoso sabor de lábios ardentes,
para alcançar, enfim, o beijo da vida,
é preciso sempre, por mais inútil que pareça, continuar.



fevereiro 11, 2018 No Comments
Bem-aventurados os que não amam ardentemente, porque viverão uma vida sem grandes desilusões;
Bem-aventurados aqueles que nunca se apaixonam, porque não enfrentarão as tormentas e convulsões de um estado febril;
Bem-aventurados os que nunca sofrem por amor, não porque serão recompensados, mas porque viverão bem melhor assim.

fevereiro 11, 2018 No Comments
Nos confins inexplorados do Universo,
uma improvável lágrima se forma;
a diminuta partícula, ao longo de bilhões e bilhões de anos,
vai agregando massa e adquirindo velocidade.
Muitos veem tal fenômeno como um sinal de esperança:
“Deus finalmente está ouvindo nossas preces!”
Outros, por sua vez, predizem o fim catastrófico da Terra:
“Já era chegada a hora de encerrarmos essa nossa medíocre perambulação.”
Os cientistas, como sempre, não chegam a nenhum consenso.
O anúncio da rápida e eminente aproximação do estranho corpo celeste cria um grande alvoroço.
Todos querem vê-lo.
No entanto, para decepção geral, ele vira à direita em Saturno, perdendo-se distraidamente na escuridão do espaço.



fevereiro 06, 2018 No Comments
Sinto o seu perfume;
passo além do ponto.
Que alguém me ajude,
não aguento mais!
Quero você perto de mim,
fazendo-me gritar,
tirando-me do chão,
levando-me à loucura.
Que seja esta noite,
que seja agora!
Eu mereço mais do que nunca.



fevereiro 04, 2018 No Comments
Só acreditamos naquilo que queremos acreditar. Todo o nosso conhecimento pessoal está calcado nas nossas predisposições pessoais, pois estamos sempre à procura de hipóteses e evidências que confirmem as nossas próprias teorias e conclusões. Achamos que temos uma resposta para tudo e, com isso em mente, tentamos fazer com que o mundo se encaixe dentro do nosso pequeno entendimento das coisas.


janeiro 31, 2018 No Comments
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