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REFLEXOXELFER

Hoje, ao acordar, olhei-me no espelho, e tal foi o meu susto que empalideci; aquela não podia ser a minha imagem, em qual ponto do percurso eu me perdi? Narciso (Caravaggio, 1594-1596)

Encontro

Tal qual um explorador ou aventureiro, adentro com minha tocha flamejante, pouco a pouco, nos escondidos mistérios da gruta obscura e improvável do teu ser. Entre estalactites já sedimentadas, vou percorrendo as fendas várias e as fontes de águas borbulhantes do teu agreste e selvagem ventre. A luz tênue e sinuosa que me acompanha nesta minha viagem rumo ao desconhecido vai lenta mas prontamente se extinguindo, deixando-me só no breu de tuas entranhas. E, ao me ver assim solitário e abandonado, é que te encontro, como num sonho, fiel e casta, envolvendo-me em teus braços docemente, revelando-me, na ardência dos teus beijos, o amor.

Ideologia, eu quero uma para viver!?

Abandonado ao sabor dos ventos, o homem se encontra desolado. Afundando no vazio subatômico que separa a matéria, buscando ouvir a música advinda das esferas celestes, ele tenha ordenar o caos e estabelecer a ordem. A indiferença e a contingência são para ele inaceitáveis. E, nessas condições, qualquer bote salva-vidas é muito bem-vindo.

Sonhos

Nas asas da imaginação, no empíreo céu profundo, neste ou em outro mundo, pulsa um pobre coração, vivendo a eterna incompletude de um amor tão triste e rude que o tempo um dia há de apagar, quando enfim, cansado, descobrir que tudo não passara de um sonho, de uma mera ilusão.

Tempo

A riqueza do momento está na intensidade; se vivido com vontade, eterno há de se tornar. Quem me dera compreender essa contínua passagem, nesta nossa longa e louca viagem, que nos faz sorrir, sofrer e amar.

Proposições

A esperança é improfícua; a fé, alienante; e o amor, uma falácia.

Mulheres...

Mulheres... Muitos são os perfumes e as diferentes cores dessas belas flores! Muitos são os amores, e não menos os dissabores que trazem no coração. Oh, doce ilusão!

Queremos paz!

As escopetas e os traficantes assinalados, que das favelas cariocas se espalham pelos becos nunca d’antes patrulhados, ceifam vidas e famílias estraçalham por balas perdidas, jovens silenciados, e assim nos corações sofridos entalham a marca a ferro e fogo que se perpetua: o crime organizado, a maldade nua e crua.

Mistério

Qual o grande mistério da vida? Qual é a causa primeira de tudo? A força que sustenta o mundo? Quem irá compreender... O que faz germinar a semente? O que faz deste mundo demente? Quem saberá responder...

Ditadura da Felicidade

Se tomarmos por base a seguinte definição para a nossa atual vida moderna: Vida – aquilo que fazemos entre uma obrigação e outra . Teríamos dessa maneira, uma evidenciação do caráter fragmentário que permeia a nossa existência nesta nova era pós-moderna e globalizada. A vida, por assim dizer, deixou de ser um continuum de vivências e aprendizados, para tornar-se um amontoado de pequenos pedaços, tal qual uma colcha de retalhos, onde privilegiamos apenas os momentos prazerosos e felizes, descartando tudo o mais como desnecessário e inútil para as nossas vidas. Neste ponto, nos defrontamos com uma míope valoração da existência apenas de acordo com aquilo que ela pode nos oferecer de melhor. Achamos que a vida possui um valor menos apreciável quando estamos trabalhando, estudando ou fazendo algo que nos é compulsório. Queremos vivenciar somente as experiências obtidas em nossas horas de folga, entretenimento e de descanso. Sonambulamente passamos pelas nossas obrigações e deveres, abri...

Libiamo Ne'lieti Calici

Bebamos do doce cálice do amor que a nós divinamente se derrama. Regozijemo-nos, pois os doces prazeres da vida nos são ofertados a cada dia. Sintamos o eflúvio divinal, o sabor extasiante, a visão entorpecente desta flor que nasce e morre, deste sentimento inominável e, ao mesmo tempo, delicioso. Brindemos ao doce cálice do amor!

Jupiter Optimus Maximus

Oh, Supremo Congregante, eu sei que tudo na vida é vaidade, tudo é efêmero como o vento que passa. Minha vida neste mundo não é nada. Porém, tal como Sísifo, estou condenado; mal sacio o meu desejo, outro surge mais voraz. Quando, após muita labuta, alcanço uma meta, ela me parece pequena e desimportante. E assim prossigo a minha longa jornada, mesmo sabendo que ao fim dela, quando tudo realmente se silenciar, não receberei nenhum prêmio, muito menos consolação alguma, estarei sozinho e isso será tudo.

Pensamentos

Ecos do passado, fragmentos ao luar, lembranças de um tempo a se esfarelar. Vida cumprida ao rigor da estação: hoje, primavera; amanhã, outros dias virão. Lágrimas derramadas, tempo perdido. Sorriso refeito, um dia, um amor, um amigo. Flores, odores, sabores, rancores, tudo ao vivo e em cores. Divagar, devagar, louco cantar.

A Dor de Existir

Sombras, resquícios, fragmentos... O que resta a um homem cansado de tanta labuta e de uma vida vazia, murcha, sem sentido? Este que agora persiste está de mãos vazias, pés descalços, machucados. No coração, ele traz: saudade nenhuma, nem dor, nem mágoa, muito menos tristeza ou alegria, ódio ou rancor; quem sabe talvez, bem lá no fundo, alguma paz.

Crise

De um lado, o secularismo improfícuo de um ocidente desnorteado, e, do outro, um ativismo beligerante e irracional. Sentido – eis a questão essencial na contemporaneidade. Na falta de um, novos caminhos inevitavelmente surgem: - Abraçar velhas concepções ultrapassadas de mundo; - Seguir as novas ilusões que se nos são impostas; Ou, o que me parece mais razoável: - Aceitar que não existe um roteiro ou plano predeterminado, e seguir, potencializando o que temos de melhor, um caminho sóbrio, sensato e, principalmente, autêntico.

Oceano sem fim

Dourados e sedosos sonhos coabitam a minha memória, em meio a um turbulento e poderoso redemoinho que me arrasta até você. Não há fuga possível, não há escapatória, tudo retorna de forma simples, bela e contraditória, rumo ao oceano sem fim de um sentimento inexplicável.

Time After Time

Através do tempo, você vai me encontrar; eu estou a sua espera. Não há como de mim escapar. Pacientemente, era após era, habito este mundo miserável. Eu sei que, desde o início, a cada passo dado, a cada etapa, você se aproxima um pouco mais. E, quando finalmente a hora chegar, você de imediato me reconhecerá. The Doctor:  Everything has its time and everything dies. You think it'll last forever: people and cars and concrete. But it won't. One day it's all gone. Even the sky. (Doctor Who - The End of the World)

Solidão

Hoje entrei em casa, e ela estava vazia, assim como eu. Procurei por algo, revirei as gavetas, tirei todo o pó e fui-me embora. Não fazia mais sentido; não havia mais nada lá.

Para sempre vou te amar

No caminho desta vida, muita gente eu encontrei, mas só você de fato amei. Não foi fácil te encontrar, qual pérola preciosa, você de mim se escondia. Eu não pensava que um dia fosse assim me apaixonar. *** A primeira vez que te vi tive a plena certeza de que a tua beleza mudaria o meu cantar. Felizes foram os dias em tua doce presença, porém a triste sentença veio por fim nos separar. *** Hoje tristes são os dias; vivo apenas por viver e tenho um único querer: outra vez te encontrar. No fundo do meu coração, estará sempre guardado o nosso amor alado: – Para sempre vou te amar!

Mudam-se os tempos...

Quando penso no tempo que já se passou, percebo o quanto eu era ingênuo e, hoje me olhando no espelho, chego à conclusão que ainda o sou. Feliz o tempo em que eu achava que te amava, hoje não sei nem mais dizer o que é o amor. E, apesar desta minha constatação no espelho, sinto que algo em mim mudou, não sei dizer ao certo quando ocorreu tal mudança, mas isso agora pouco importa. Levo comigo apenas uma certeza: nada será como antes. “... vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta...” (Machado de Assis – Dom Casmurrro – Cap. 2)

Nobre Amor

1. Busquei em todos os lugares, profanei todos os altares, singrei todos os mares, na esperança de te encontrar. Amor, por que te escondes atrás dos verdes montes? Sei que estás na alegria que irradia novo sol a cada dia a nos abençoar! 2. Qual é o mistério escondido? Por que tanto amor contido? Ah, esse grito reprimido que me impulsiona a te amar. Procuro em tudo o sentido do que tenho vivido, para que na busca incessante do meu passo errante eu possa te contemplar! 3. Trago no peito um coração cansado de tanta ilusão e da vida sem canção. Quero agora ser o compositor; deixar pra trás a frustração e cair em contemplação diante da vossa grandeza e da vossa realeza, oh, nobre Amor!

Chuva

Cheiro de terra molhada, na tênue luz do anoitecer, impetuosos ventos a nos arrefecer. Calmaria repentina, um desaguar calmo e lento a umedecer o solo seco dos corações. Aos poucos, a água penetra fundo tantas veredas e sertões. Lentamente se infiltrando, buscando o seu caminho, sem pressa e sem objeções.

Contrastes

A vida é um tanto desconcertante: Há o calor, mas também o frio cortante. Há a dor de barriga, e também o laxante. São muitos os contrastes. Há o medroso e o valente, o alegre e o descontente, o germe e o desinfetante, o fedor e o desodorante, Amigos que nos adoram, e os chatos que só amolam. Há o amor e o desamor, encontros e desencontros. E, junto ao meu passo errante, esta minha rima irritante!

Memórias

Circunspecto olhar, vagando através de reticentes reminiscências. Artefatos poeirentos de um sótão soturno, lúgubre, indecifrável. Restos de um passado excessivamente adjetivado. Tudo finalmente finalizado, morto, encerrado. Colore, pois, com as cores que lhe dão.

A Semente do Amor

Só você, na vida, me importa; vivo tão somente o agora, no despertar da nova aurora, que afugenta a noite morta. A esperança enfim aflora, pois o amor me bate à porta, invade a casa e me exorta com voz suave e mui sonora: “– Sigamos juntos a mesma estrada, cultivemos a semente de amor que nos foi no coração plantada!” E num alucinado esplendor, com a alma toda enlevada, não sinto mais fome, medo ou dor.

diálogo cotidiano

Vem aqui, senta-te ao meu lado, por favor, e fala-me a respeito de tuas incoerências. Eu sou uma boa ouvinte, não me escapa uma só palavra. Sei que o que dizes não é bem aquilo que queres dizer, mas por que tantos circunlóquios, tanta hipocrisia... Ah, é tão comovente a falsidade com que nos acariciamos dia após dia. Eu não protesto, tu sabes muito bem, nem ao menos me contraponho à tua iniquidade. Aliás, sou feita da mesma matéria obscena da qual fostes inventado. Eu não te odeio e, no entanto, não aprendi a te amar. Sinto muitas vezes que fomos feitos um para o outro, como se isso fizesse algum sentido. Estou cansada; v ou retirar-me. Não se esqueça de colocar o lixo na rua. Boa noite!

Escrevendo a própria história

Por entre flores e espinhos, seguimos o nosso caminho, quase sempre tão mergulhados na ânsia de completarmos o nosso itinerário e recebermos deste modo as glórias que são devidas àqueles que se esforçaram para conquistar a tão almejada vitória, que acabamos nos esquecendo de algo fundamental: vencer é importante, mas não é tudo. Devemos também aproveitar e desfrutar de cada passo deste longo caminho, desta longa jornada, que é a vida. Os passos muitas vezes justificam toda uma jornada. Do que nos valerá os louros da vitória se nos esquecermos de colher as flores que margeiam a nossa existência, se deixarmos de aproveitar os bons momentos junto daqueles que amamos, se só o que fizermos for buscar o nosso próprio interesse, nos lamentando por causa de “uma pedra no meio do caminho”. Na vida sempre haverá o sofrimento, e diante da dor há duas opções possíveis: amargurar-se, julgando-se vítima das circunstâncias; ou crescer, buscando aprender da vida o seu verdadeiro sentido. O que fazem...

Racionalização

O poeta morreu... Morreu de tanta solidão. Desistiu de amar... E, por isso, hoje não quer mais cantar; o seu canto perdeu a emoção. Ele vive agora contando dinheiro, buscando o melhor negócio, a barganha perfeita, o lucro fácil; tornou-se o homem da lógica e da razão. Não há mais espaços para o sonho, é tudo frio, calculado... Ele só se esqueceu de que, na vida, o amor não tem preço não.

Século XXI

Erigimos um mundo sobre premissas que, à luz deste novo amanhecer, se nos mostraram falsas e equivocadas. Precisamos urgentemente refazer o nosso caminho, procurar a senda perdida no tempo na qual nos desviamos e, com isso, poder reconstruir aquilo que, de fato, sempre foi nosso: a vida autêntica e autônoma, afugentando, de uma vez por todas, os fantasmas do passado que, ainda no início deste novo milênio, nos perseguem. Quem sabe assim, conseguiremos definitivamente edificar uma sociedade pautada em uma nova moral, em novos princípios e em novos relacionamentos. Uma sociedade forte, livre e verdadeiramente humana.

Realidade

Imaginação real ou realidade imaginária? O que se esconde por trás do véu das aparências? Quando a verdade se transmutar em ilusão, e a ilusão em realidade, quando não conseguirdes distinguir a fantasia autêntica da fantasia inventada, quando o chão aos vossos pés se evaporar e pisardes na estrada concreta dos sonhos, reconhecereis a riqueza de vossa própria subjetividade: Complexa, contraditória e, acima de tudo, limitada.

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