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Postagens

Desilusões

Estou sem chão, sem horizontes, em queda livre... Perdido no espaço que nos separa, eu me encontro aturdido, cansado; sou uma sombra, um presságio. O tempo passa apressado, uma casa sem alicerces rapidamente afunda, e eu, dia após dia, arrefeço pouco a pouco. Está tudo diferente, mas também igual. Ainda é dia, mesmo que não haja mais alegria, sonho ou sol.  

Extemporâneo

Fora do tempo Perdido no espaço Homem das cavernas com smartphone Nem tudo evolui no mesmo ritmo Penso que sou grande Moralmente infalível Que meu conhecimento é insuperável Mais uma vez: "Ignorância é força" A cada dia que passa durmo pior Sucessão frenética de fatos desconexos Caos, insipidez e pouco afeto Vida vivida apenas por viver

Palavra-chave

Eu só canto em aflição; meu silêncio é paz, não felicidade. Quando não tenho o que dizer, calo-me; quando tenho, calo-me também. Há muitas palavras no mundo, poucas traduzem realmente aquilo que quero dizer. Um olhar revela muito, e há muita coisa dita no não dito. Atos, palavras e omissões; sou culpado, disso não tenho dúvida. Conjugo o tempo presente, o único que possuo, e arrasto comigo, por onde quer que eu vá, os grilhões da esperança.

Encontros e Despedidas

você veio com o vento chegou de mansinho sem que eu percebesse preencheu os espaços vazios acendeu todas as luzes fez o que queria você sumiu com o vento foi embora de repente sem dizer adeus deixou o que não tinha criou uma lacuna fez nascer um entorpecimento e um não sei quê que me aperta sem cessar o peito (... vidas vividas no silêncio.)

Debacle

Quero escrever algo que soe sincero, que não tenha cara de interpretação, de algo forçado, calculado, ensaiado. Quase posso tocar o fundo, eis a minha queda iminente, eis o momento de tirar a máscara e... perceber que há outra em seu lugar. Descreio da razão, da minha capacidade de tudo compreender. Fiz escolhas relativamente questionáveis; preciso conviver com as consequências. Há certezas por todos os lados; tenho medo do futuro. 

Escriba moderno

Tabuletas de argila, pergaminhos esquecidos, códices medievais, livros impressos, eis um mundo redescoberto. Jornais, revistas, panfletos; uma profusão de palavras e significados. Bits e bytes, blogs e redes – acesso instantâneo; o leitor transubstanciado em autor, uma democracia conturbada. – Como cansa tudo isso! Ah, os clássicos, um acesso ao passado, uma luz para o futuro.

Iminência

Minhas mãos tremem Sinto um suor frio Há um perigo iminente Corro um risco imaginário Sofro por antecipação Desejo ardentemente ter mais do que posso Viver de maneira intensa Gritar, me perder nos teus braços Amar sem fronteiras Frustro-me Tantas limitações e imperfeições Morro hoje, mas acordo vivo amanhã Persigo e não encontro Não desisto, ainda.

Fragmentado

O joelho ralado, merthiolate, um colo acolhedor Me lembro cada vez mais do passado E o futuro envolto em silêncio Perguntas sem respostas Mensagens não respondidas Solidão, amor... desamor Algo se perdeu: Memórias fragmentárias Ser disperso no tempo Caminhos trilhados na desesperança Amigos, sombras, resquícios Lento emudecer.

Na era dos smartphones...

No deserto árido da alma, uma gota de água é oceano. O rastejar entre pestilências transmutou-se no novo andar. Solidão a dois, a três, a quatro… Ah, o contentar-se com aquilo que nos é oferecido de modo tão parco e negligente. Fingir amar quando não se ama; fingir não amar quando se ama; fazer do fingimento uma carapaça. Visualizou, mas não respondeu – eis o novo drama de Dirceu. Enquanto isso,  Marília deleita-se com o seu grande número de matches. – Não, não quero conversar com você! Você está muito perto! Eu prefiro muito mais falar com aqueles que estão em outro continente ou, quiçá, em outro mundo.

Escravo do desejo

Estou preso a uma coleira, a teus pés; sou um escravo do meu desejo por ti. A tua indiferença me consome e ao mesmo tempo me atrai. Vivo me afastando e voltando, odiando e querendo. Anseio pela liberdade, mas sou cativo da tua atenção, do teu carinho, do teu descaso. Sou guiado por uma vontade cega; não consigo não desejar o que desejo. Minha submissão é covarde e ridícula; se fosse mais forte, lutaria, escalaria os montes da minha vontade, limparia os meus pés na soleira da mansão do desencanto. Ah, se tudo fosse diferente, se eu pudesse não desejar mais nada...

Pedacinhos

A taça se estilhaçou, só sobraram palavras vazias, cacos pequeninos de uma história que se desfez. Na pressa de limpar, de virar a página, acabei cortando o dedo em um pedaço de memória; tantos fragmentos: confissões, risos, olhares que valiam por discursos inteiros... Sinto que me despedacei também; me transformei em poeira, fui levado pelo vento. Não tenho mais ilusões; eu sei que me perderei outra vez em outro alguém. 

Um poema quase autobiográfico

Eu tenho um olhar triste, vago, ensimesmado; converso demais comigo mesmo, e às vezes acho até que sou invisível. Tenho um carinho exagerado por pessoas prediletas, o que resulta em pouquíssimos amigos, nenhum amor. Vivo em um mundo com muitas idealizações, mas estas só me fazem sofrer ainda mais. Serenei com o tempo, descobri lacunas na razão, padeci em silêncio. Escrevo versos para não transbordar, para dizer tudo o que sinto e não sinto. Vento, brisa leve da manhã, sopra sobre mim.

Sinestesia

O sabor da tua voz A cor do teu perfume O som da tua pele O cheiro dos teus olhos castanho-esverdeados Mergulho fundo Sinto torrentes, espasmos, trepidações por todo o corpo A brisa reverbera uma suave melodia O Bem-te-vi me dá as boas-vindas Seguro firme a tua mão E as aleias se fecham após a nossa passagem. 

Sobre Contracenar e Contrassensos - Se Drummond vivesse

(Poema de Samuel Rocha) Carolina amava Maria que amava Raimundo que fingia amar Teresa que fingia não amar Pedro que amava Beatriz que não amava ninguém Carolina foi para os Estados Unidos, Maria para o convento, Raimundo morreu de desastre, Teresa ficou para tia, Pedro suicidou-se e Beatriz casou com Fernando que não tinha entrado na história. P.S.: Fernando também não ama ninguém.

De cor

Conheço bem a tua decoração, cada fita, vestido ou penduricalho. Conheço de cor o teu sorriso, o jeito como me olhas, a forma como ajeita as madeixas. Conheço o teu jeito de me repreender, de mostrar que estás zangada. Mas, por mais que tente, só arranho a superfície do que tu és: esfinge amorosa, flor deleitosa, bálsamo, tormenta e orvalho. És arte e música barroca, luz e sombra, harmonia e contraponto, som e fúria. Bem, tu és o que não sei dizer, o que não ouso descrever, aquilo que está para além de minha compreensão. ... Só sei, ainda que imprecisamente, sobre o que sinto: júbilo e lamento de amor.

“A luz dos olhos teus”

Estou diante de ti – um abismo se abre à minha frente –, procuro palavras, mas não as encontro. Diante dos teus olhos, do teu sorriso, o tempo desacelera, percebo então cada nuance, cada gesto, e de repente não te vejo mais; mergulho em mim mesmo, faço de ti o ideal perfeito, pintura renascentista, estátua grega. Estremeço diante dos teus olhos, diante da obra-prima por mim criada; tu continuas a me fitar, sorrindo, e eu não enxergo é mais nada.

Mutações

Não existe em mim um eu verdadeiro. Há aqui uma multidão de vozes, uma miríade de cores, algo indefinido e mutante. São os outros que definem a minha essência, e cada um o faz à sua maneira, sendo que nenhum acerta, pois não há essência alcançável. Há apenas o que sou neste exato momento, e amanhã já não serei mais o mesmo. A mudança não é rápida, isso eu sei, mas é constante, certa e imprevisível.

O outro

Eu não sei quem tu és. Acho que nunca saberei. Eu sei que gosto de ti, que aprecio as tuas virtudes, que percebo os teus defeitos, mas não posso, através do que vejo e sinto, alcançar o âmago do teu ser. Talvez nem você possa. Tu és, para mim, a imagem que faço de ti,  e isso me é suficiente, não que eu fique contente com isso, mas não posso fazer nada para mudar tal realidade. Quero apenas a tua presença aqui, quero que me fales sobre as tuas angústias, sobre o que agita a tua alma, sobre o que aquece o teu coração. Eu estou contigo, e tu comigo estás, mesmo que estejamos apartados, seguindo caminhos opostos. 

Silêncio

Hoje eu acordei com a estranha sensação de que não te amo mais. Levantei da cama, abri a janela, saí pela porta da frente e me deparei com um silêncio, um silêncio tão grande, tão acolhedor, tão exasperante. Qual foi mesmo o sentido disso tudo? Fico sem respostas, não as tenho, decerto, nunca as terei. Há um mergulho profundo no abismo da alma, um não sei quê com o gosto amargo da solidão. Começo a andar, depois correr, passadas largas; quero me distanciar, fugir de mim mesmo. Não há lágrimas visíveis, apenas um mar revolto que se esconde por dentro. Fachadas, tormentas, naufrágios... A rua em que estou continua a mesma rua que passo todos os dias, com os mesmos cães, com as mesmas pessoas, com os mesmos bons-dias; e eu, de certa forma, continuo também o mesmo, apesar de, talvez, já ser outra pessoa. 

Nada nos dobra mais do que a ação do tempo

Tantos gritos em vão, tanto orgulho por nada! Construí em vida um castelo de cartas, carreguei um fardo desnecessário, ambicionei o que não tinha importância alguma, angustiei-me em excesso com coisas banais... Bem, fui o meu próprio algoz, meu pior amigo. Hoje, saúdo o vento, fico grato por qualquer sorriso. –  Ah, como é bom lhe ver de novo, sente aqui comigo! Não nego mais as lágrimas, e guardo com gratidão todo o amor que me é oferecido, e quero apenas aquilo que me for possível. 

A um querido amigo

Gosto tanto de você que até me dói, me dói no coração não ter lhe conhecido antes, me dói saber que tudo isso é passageiro, que um dia não terei mais você aqui comigo. Saiba que há ternura e muito afeto por trás de toda essa sua melancolia. Quereria ser um arauto da felicidade para lhe abrir as portas de tudo o que você sonhou mas nunca teve. No entanto, só posso mesmo lhe dar neste momento aquilo que me agita por dentro: o meu carinho, a minha atenção, a minha consideração, a minha amizade, o meu amor. É tudo fugidio, eu sei, mas é o que tenho. O tempo apagará todas as marcas, todos os vestígios; gerações futuras nunca saberão da nossa existência, da nossa amizade, muito menos terão conhecimento sobre quais eram as nossas verdadeiras preocupações. Não restará mais nada, e isso será tudo. Mesmo assim lhe escrevo estas palavras com o frágil intuito de que algo permaneça, se não no porvir, ao menos agora em seu coração.

Agradecimento

Você me fez enxergar aquilo que eu não conseguia mais ver, me mostrou todas as estrelas do céu; você me fez rememorar coisas que já tinha esquecido, coisas que ficaram abandonadas em caixas empoeiradas nos porões do meu coração; você veio para destruir as bases arcaicas de uma vida desprovida de sentimento; você veio, perdoe-me a expressão, com a força de um furacão, arrebentou cercas, derrubou muros, e, por isso mesmo, muito me ensinou. Aprendi a fazer poemas com as minhas dores, com os meus sofrimentos; edifiquei castelos com as pedras do meu caminho; consertei pontes, refiz aquedutos, pavimentei estradas rumo ao desconhecido eu. Tudo isso, no fundo, uma homenagem a você, um hino à vida, um modo de seguir em frente, um jeitinho meu de fazer com que você se eternize. 

Esgotar-se-ia

(Poema de Samuel Rocha) Cansado do raso que me afoga na agonia banal; cansado da mediocridade diária, do superficial; cansado do não dito, que grito, o não ouvido; da estupidez dos esperançosos, do clichê ridículo. Quero distância desse mar de sorrisos, não tenho causa, não tens motivo. Cansado do que não serve, do que não calça, do que aperta; do que não causa, no coração que congela; cansado da massa, da ideologia fútil, cansado do brega, do apaixonar-se inútil. Nada vale a pena, nada, nem terminar este poema…

Carência

Eu não quero ser um monopolista da sua atenção, do seu afeto. Você sabe que eu exijo pouco, muito pouco, não lhe dou muito trabalho. Você bem que poderia fingir que se importa, demonstrar algum afeto, mesmo que insincero; migalhas são melhores do que nada, pelo menos a princípio. Você me olha, mas não me vê; sou apenas um estereótipo pra você, a imagem idealizada e sintética que facilita a sua falta de vontade de saber quem eu realmente sou. No seu universo umbigocêntrico não há muito espaço para mim; orbito o seu ego por inércia, por medo de perder o que talvez nunca tenha conquistado, por uma falência total do meu suposto amor próprio. E o pior de tudo é olhar para o espelho e notar que não está mais lá a minha face, pois é você neste instante que vejo.

melancolia

Eu sinto que não sinto mais nada, mas eu sei que isso é falso; há uma angústia, um desespero, um não sei quê que ronda silenciosamente, que vasculha, que oprime. Finjo, portanto, que está tudo bem. A vida é isso mesmo, caminho sem volta, algo insípido, doloroso, prolongado. Não há pessoas que gostaria de voltar a ver, e as que vejo não me animam muito. Falta alguma coisa, inteligência talvez, mas não é só isso, falta afeto, falta empatia, falta um olhar que não seja ensimesmado, absorto ou perdido em divagações sobre aquilo que o mundo supostamente nos deve. 

Palavras ao vento

Nada traz mais infelicidade do que a busca incessante pela felicidade. Não quero ser a opção que preenche a sua falta de opções. Por que o seu silêncio é tão cheio de enunciados? Não escolhemos quais desejos teremos, apenas decidimos o que fazer então com tais desejos. Quero deitar, dormir e só acordar no próximo século. É tão dolorido desejar alguém que não nos deseja. Você nunca se cansa de si mesmo!? Filosofias, ideologias, política… Prefiro muito mais o silêncio. Todo mundo está falando ao mesmo tempo, mas ninguém tem o que dizer. Morte: desejo de não desejar mais nada. Você não vale nada, ponto. Não se preocupe, vou continuar falando apenas aquilo que você quer ouvir. E que fique o dito pelo não dito.

Confissões de um homem blasé

Tenho medo de me perder: tudo tem que ser controlado, regrado, sistematizado, elevado à enésima potência. – Mas não há potência alguma! Só mesmo uma vontade de não me afetar nunca, de não demostrar coisa alguma, de ser, aos olhos dos outros, perfeito. Estou à deriva, criando defesas, flanando pelo mundo sem me sentir parte de algo. Tudo vazio, incompleto, desconcertante... Reflexo de mim mesmo, um simulacro, uma cópia barata; ser serviente tentando ressignificar o nada. 

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