Fulvio Denofre. Tecnologia do Blogger.
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Devaneio e Poesia

Hoje eu caminhei pela cidade:

dores escondidas em cada esquina,

solidões anônimas nos bancos da praça,

jardins da vida ressecados,

muros, grades, lanças e portões.

Não quero ser poeta das coisas mortas;

melhor dar mais uma volta.




maio 07, 2021 No Comments

Taça de cristal despedaçada,

flores murchas,

móveis empoeirados,

enfim, imagens do que restou.

***

Eu mal consigo sentir qualquer gosto ou odor,

e o ar ao meu redor parece rarefeito e indiferente;

ah, os pequenos sufocamentos do dia a dia.

***

Tento outra vez atravessar uma parede de ressentimentos e falta de amor.

***

Espero um mais pouco,

olho para todos os lados,

e sinto a brisa suave da manhã em meu rosto,

o cheiro da primavera em flor.

***

O futuro não se mostra excitante,

e o passado ruge como uma fugidia e capciosa lembrança.

Tento não pensar em nada

– sei que sou poeira ao vento –;

quero apenas fincar os meus pés no possível, no palpável. 




maio 02, 2021 No Comments

Eu espero um pouco mais,

tento não me desesperar.

Horas se tornam dias,

dias se tornam anos,

e o silêncio reverbera,

e luzes rarefeitas escoam pelas frestas do tempo.

Lá fora o vento frio do outono sopra indiferente,

já aqui dentro sinto uma solidão dilacerante.

Estou tentando ser mais paciente, menos intransigente, mas não está sendo fácil.

***

Desidealizar o amor, as amizades, a vida;

é preciso ser aquilo que se precisa.




abril 22, 2021 No Comments

Nas asas da loucura,

seguindo na contramão,

eu estou à beira do meu leito,

quase caindo em mim,

quase achando alguma solução.

Todo dia as mesmas notícias:

necrose, ignorância e incivilização.

Tomo mais trago deste mal ardente;

em devaneio, penso no próximo carnaval.

Não quero mais isso

nem quero mais aquilo.

Anacronicamente, e de uma vitrola improvável,

ouço a voz renitente de Sérgio Sampaio:

“silêncio na tarde dos homens, silêncio”




abril 17, 2021 No Comments

Nevoeiro nas mentes:

homens perambulam, perdidos,

exclamando certezas morais,

iluminações políticas;

há algo de muito errado no paraíso outrora tropical.

Eclipse das mentes, endurecimento dos corações,

tudo envolto em trevas, ignorância e medo.

Paira no ar uma vontade de exterminar o diferente,

de acabar com qualquer dissenso,

de ser mais um na multidão.

Cheiro pútrido de glórias passadas,

um misto de estupidez, ressentimento e rancor.

***

Simplesmente, não sonhe nem mesmo um pequeno sonho comigo.

***

Há um quê de fingimento em toda alegria;

há muita sinceridade em cada pequena dor.




fevereiro 27, 2021 No Comments

Caminho para lugar nenhum

Um olhar vazio, distante

Você nunca está lá

Os salões cheios de passageira esperança

Festiva loucura que não termina

A angústia como uma lâmina afiada

Quinquilharias que junto pouco a pouco

Triste, pálido (e contínuo) dia de inverno

O grito não sai

O odor permanece

Só agora começo a entender a sua doce insensibilidade.




janeiro 26, 2021 No Comments

(Para Rebecca Nora Bunch)

 

Apaixonar-se após uma única canção;

tocar, com uma dança coreografada,

um sapateado, um dueto, a alma;

sentir-se em uníssono com a música;

estremecer a cada acorde;

sentir os dedos suaves da beleza,

sem um propósito racional,

deslizar por todo o corpo;

vibrar com a batida rítmica da vida.

 

Vibratos, arranjos e emoções: molto vivace!

E tanta gente que não gosta só porque é “tudo cantadinho”.




dezembro 25, 2020 No Comments

Quero encher o seu cabelo de flores,

fazer do meu empedernido coração

um quê de louvor e prece;

diante da relva molhada,

quem sabe numa manhã emoldurada,

transladar argênteo sonho,

jovial e alvissareiro,

para o mundo cá em baixo;

ouvir sua voz edulcorada,

sentir seus dedos deslizando suavemente,

ousadamente...

***

Uma doce sensação, mistério e paixão;

eco renitente de uma antiga (e sempre nova) rima.




novembro 15, 2020 No Comments

Nos rios da Babilônia,

às margens do Sena,

no Rubicão, Ipiranga,

ou mesmo no córrego aqui da vila,

um sentimento de efêmera eternidade,

de um não retorno: ponto de inflexão.

Eis o fim das grandes ideias,

das grades que ocultam flores,

de um tempo que se apaga pouco a pouco.

A revolução acabou,

o sonho definhou,

(todos já foram guilhotinados)

e no jogo do poder já se entrevê a ascensão de um novo déspota.

Por todos os lados, até onde a vista alcança,

milhares e milhares de estátuas de sal.




novembro 11, 2020 No Comments

Nada tenho que realmente me pertença.

***

Achei, um dia, que nos pertencíamos, inseparáveis,

como um sistema binário em uma eterna dança gravitacional.

O átomo da vida manterá a sua majestosa integridade, eu pensava;

oh, fissão de minhas etéreas certezas.

Dúvidas, dúvidas e dívidas foram o que me restaram...

Na nuvem de gás e poeira que me habita,

sentimentos não revelados e verdades nunca ditas.

***

– inércia –

Zero Absoluto

***

Talvez nas luas de Saturno,

quem sabe para além da nuvem de Oort,

uma supernova,

trazendo a vida por meio da morte,

nos revele o até então desconhecido óbvio.




outubro 02, 2020 No Comments

Vagando entre as criaturas da noite,

com um coração petrificado,

vejo lúgubres figuras,

sonhos terríficos,

o passar dilacerante do tempo.

***

Tento – sem nunca conseguir – acabar com tudo,

com a viscosa esperança que me persegue,

com a consciência de que não há caminho de volta.

Até agora nenhum sintoma aparente, febre ou loucura;

a normalidade se mostra em toda a sua triste magnificência.

***

À sombra de um cipreste,

longe de qualquer presença humana,

contemplo o vasto e indiferente céu outonal.




setembro 28, 2020 No Comments
O cadafalso à espreita
a busca por um sentido
viver é, antes de tudo, impreciso
Uma ponte sobre o rio das lágrimas
um voo cego e cheio de vicissitudes
o luzir da esperança
Torrentes de desejos versus claustro da retidão
perpétua labuta para afastar a entropia
o vil desordenamento
o caos lento e inevitável.


agosto 26, 2020 No Comments
Mesmo nos ares, distraído, sonhando acordado,
eu fito continuamente o abismo.
Dentro da casa do claustrofóbico saber,
um quê de irremediável agonia.
Ah, uma janela, ei-la:
uma abertura para o infinito não-ser.
Debruço-me sobre ela, ébrio,
e pressinto sensações multicolores,
um esmorecimento da lógica e da razão.
Nuvens, luas de Saturno, véus e cristais,
ledos crisântemos e pássaros de fogo,
cataratas, valsas, principados,
amores, fogos-fátuos e fiordes...


agosto 22, 2020 No Comments
O morrer como um viver sem paixão,
um estar no mundo como que em descompasso,
ferido, cambaleante, amargurado.
As mãos quebradas, o coração solitário;
o cansaço das relações fugidias e truncadas.
Ontem mesmo você estava aqui,
e conversávamos sobre a vida;
hoje o silêncio grita exasperado.
Gira, gira mundo em alta velocidade,
derramando em nós uma quantidade infinita de bits e bytes;
informações, no mais das vezes, desnecessárias.
Passagem rápida dos dias, horas, amigos e amores;
sucessão sucessiva de um vazio acachapante.


agosto 17, 2020 No Comments
Nem sou alegre, nem sou triste,
nem sou poeta, nem ouso sê-lo.
Vivo no limbo da desesperança,
em meio a vulcões extintos,
angústia, medo e lama.
Acabo sempre vencido pelo peso do cansaço
e pela força das circunstâncias.
Estou à margem de tudo;
nunca pertenci a uma multidão,
nunca gostei de ideias fatais.
– Nada disso muda o que quer que seja!
E persisto, com o coração nas mãos,
a faca entre os dentes,
escalando o monte sem cume da vida. 


agosto 16, 2020 No Comments
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