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A Dor de Existir

Sombras, resquícios, fragmentos... O que resta a um homem cansado de tanta labuta e de uma vida vazia, murcha, sem sentido? Este que agora persiste está de mãos vazias, pés descalços, machucados. No coração, ele traz: saudade nenhuma, nem dor, nem mágoa, muito menos tristeza ou alegria, ódio ou rancor; quem sabe talvez, bem lá no fundo, alguma paz.

Crise

De um lado, o secularismo improfícuo de um ocidente desnorteado, e, do outro, um ativismo beligerante e irracional. Sentido – eis a questão essencial na contemporaneidade. Na falta de um, novos caminhos inevitavelmente surgem: - Abraçar velhas concepções ultrapassadas de mundo; - Seguir as novas ilusões que se nos são impostas; Ou, o que me parece mais razoável: - Aceitar que não existe um roteiro ou plano predeterminado, e seguir, potencializando o que temos de melhor, um caminho sóbrio, sensato e, principalmente, autêntico.

Oceano sem fim

Dourados e sedosos sonhos coabitam a minha memória, em meio a um turbulento e poderoso redemoinho que me arrasta até você. Não há fuga possível, não há escapatória, tudo retorna de forma simples, bela e contraditória, rumo ao oceano sem fim de um sentimento inexplicável.

Time After Time

Através do tempo, você vai me encontrar; eu estou a sua espera. Não há como de mim escapar. Pacientemente, era após era, habito este mundo miserável. Eu sei que, desde o início, a cada passo dado, a cada etapa, você se aproxima um pouco mais. E, quando finalmente a hora chegar, você de imediato me reconhecerá. The Doctor:  Everything has its time and everything dies. You think it'll last forever: people and cars and concrete. But it won't. One day it's all gone. Even the sky. (Doctor Who - The End of the World)

Solidão

Hoje entrei em casa, e ela estava vazia, assim como eu. Procurei por algo, revirei as gavetas, tirei todo o pó e fui-me embora. Não fazia mais sentido; não havia mais nada lá.

Para sempre vou te amar

No caminho desta vida, muita gente eu encontrei, mas só você de fato amei. Não foi fácil te encontrar, qual pérola preciosa, você de mim se escondia. Eu não pensava que um dia fosse assim me apaixonar. *** A primeira vez que te vi tive a plena certeza de que a tua beleza mudaria o meu cantar. Felizes foram os dias em tua doce presença, porém a triste sentença veio por fim nos separar. *** Hoje tristes são os dias; vivo apenas por viver e tenho um único querer: outra vez te encontrar. No fundo do meu coração, estará sempre guardado o nosso amor alado: – Para sempre vou te amar!

Mudam-se os tempos...

Quando penso no tempo que já se passou, percebo o quanto eu era ingênuo e, hoje me olhando no espelho, chego à conclusão que ainda o sou. Feliz o tempo em que eu achava que te amava, hoje não sei nem mais dizer o que é o amor. E, apesar desta minha constatação no espelho, sinto que algo em mim mudou, não sei dizer ao certo quando ocorreu tal mudança, mas isso agora pouco importa. Levo comigo apenas uma certeza: nada será como antes. “... vida diferente não quer dizer vida pior; é outra coisa. A certos respeitos, aquela vida antiga aparece-me despida de muitos encantos que lhe achei; mas é também exato que perdeu muito espinho que a fez molesta...” (Machado de Assis – Dom Casmurrro – Cap. 2)

Nobre Amor

1. Busquei em todos os lugares, profanei todos os altares, singrei todos os mares, na esperança de te encontrar. Amor, por que te escondes atrás dos verdes montes? Sei que estás na alegria que irradia novo sol a cada dia a nos abençoar! 2. Qual é o mistério escondido? Por que tanto amor contido? Ah, esse grito reprimido que me impulsiona a te amar. Procuro em tudo o sentido do que tenho vivido, para que na busca incessante do meu passo errante eu possa te contemplar! 3. Trago no peito um coração cansado de tanta ilusão e da vida sem canção. Quero agora ser o compositor; deixar pra trás a frustração e cair em contemplação diante da vossa grandeza e da vossa realeza, oh, nobre Amor!

Chuva

Cheiro de terra molhada, na tênue luz do anoitecer, impetuosos ventos a nos arrefecer. Calmaria repentina, um desaguar calmo e lento a umedecer o solo seco dos corações. Aos poucos, a água penetra fundo tantas veredas e sertões. Lentamente se infiltrando, buscando o seu caminho, sem pressa e sem objeções.

Contrastes

A vida é um tanto desconcertante: Há o calor, mas também o frio cortante. Há a dor de barriga, e também o laxante. São muitos os contrastes. Há o medroso e o valente, o alegre e o descontente, o germe e o desinfetante, o fedor e o desodorante, Amigos que nos adoram, e os chatos que só amolam. Há o amor e o desamor, encontros e desencontros. E, junto ao meu passo errante, esta minha rima irritante!

Memórias

Circunspecto olhar, vagando através de reticentes reminiscências. Artefatos poeirentos de um sótão soturno, lúgubre, indecifrável. Restos de um passado excessivamente adjetivado. Tudo finalmente finalizado, morto, encerrado. Colore, pois, com as cores que lhe dão.

A Semente do Amor

Só você, na vida, me importa; vivo tão somente o agora, no despertar da nova aurora, que afugenta a noite morta. A esperança enfim aflora, pois o amor me bate à porta, invade a casa e me exorta com voz suave e mui sonora: “– Sigamos juntos a mesma estrada, cultivemos a semente de amor que nos foi no coração plantada!” E num alucinado esplendor, com a alma toda enlevada, não sinto mais fome, medo ou dor.

diálogo cotidiano

Vem aqui, senta-te ao meu lado, por favor, e fala-me a respeito de tuas incoerências. Eu sou uma boa ouvinte, não me escapa uma só palavra. Sei que o que dizes não é bem aquilo que queres dizer, mas por que tantos circunlóquios, tanta hipocrisia... Ah, é tão comovente a falsidade com que nos acariciamos dia após dia. Eu não protesto, tu sabes muito bem, nem ao menos me contraponho à tua iniquidade. Aliás, sou feita da mesma matéria obscena da qual fostes inventado. Eu não te odeio e, no entanto, não aprendi a te amar. Sinto muitas vezes que fomos feitos um para o outro, como se isso fizesse algum sentido. Estou cansada; v ou retirar-me. Não se esqueça de colocar o lixo na rua. Boa noite!

Escrevendo a própria história

Por entre flores e espinhos, seguimos o nosso caminho, quase sempre tão mergulhados na ânsia de completarmos o nosso itinerário e recebermos deste modo as glórias que são devidas àqueles que se esforçaram para conquistar a tão almejada vitória, que acabamos nos esquecendo de algo fundamental: vencer é importante, mas não é tudo. Devemos também aproveitar e desfrutar de cada passo deste longo caminho, desta longa jornada, que é a vida. Os passos muitas vezes justificam toda uma jornada. Do que nos valerá os louros da vitória se nos esquecermos de colher as flores que margeiam a nossa existência, se deixarmos de aproveitar os bons momentos junto daqueles que amamos, se só o que fizermos for buscar o nosso próprio interesse, nos lamentando por causa de “uma pedra no meio do caminho”. Na vida sempre haverá o sofrimento, e diante da dor há duas opções possíveis: amargurar-se, julgando-se vítima das circunstâncias; ou crescer, buscando aprender da vida o seu verdadeiro sentido. O que fazem...

Racionalização

O poeta morreu... Morreu de tanta solidão. Desistiu de amar... E, por isso, hoje não quer mais cantar; o seu canto perdeu a emoção. Ele vive agora contando dinheiro, buscando o melhor negócio, a barganha perfeita, o lucro fácil; tornou-se o homem da lógica e da razão. Não há mais espaços para o sonho, é tudo frio, calculado... Ele só se esqueceu de que, na vida, o amor não tem preço não.

Século XXI

Erigimos um mundo sobre premissas que, à luz deste novo amanhecer, se nos mostraram falsas e equivocadas. Precisamos urgentemente refazer o nosso caminho, procurar a senda perdida no tempo na qual nos desviamos e, com isso, poder reconstruir aquilo que, de fato, sempre foi nosso: a vida autêntica e autônoma, afugentando, de uma vez por todas, os fantasmas do passado que, ainda no início deste novo milênio, nos perseguem. Quem sabe assim, conseguiremos definitivamente edificar uma sociedade pautada em uma nova moral, em novos princípios e em novos relacionamentos. Uma sociedade forte, livre e verdadeiramente humana.

Realidade

Imaginação real ou realidade imaginária? O que se esconde por trás do véu das aparências? Quando a verdade se transmutar em ilusão, e a ilusão em realidade, quando não conseguirdes distinguir a fantasia autêntica da fantasia inventada, quando o chão aos vossos pés se evaporar e pisardes na estrada concreta dos sonhos, reconhecereis a riqueza de vossa própria subjetividade: Complexa, contraditória e, acima de tudo, limitada.

Rumo

Destino sem rumo sem destino; caminho perdido caminho que me leva ao fundo. Entre olhares, vago pelo mundo. Quem sabe, um dia, eu me aprumo.

Universos Paralelos

Um quarto fechado, duas portas, duas possibilidades. Uma realizar-se-á, a outra – quem saberá.

Romantismo

Se você considera o passado melhor que o presente, se você acha que o homem é essencialmente bom, se você idealiza a mulher perfeita, se você sacraliza a natureza, se você sonha com um mundo melhor, você, infelizmente, é um romântico.

Estrela d'Alva

Oh, Estrela matutina, que tudo descortina, és minha salvação ou és minha sina?

L'amour est un oiseau rebelle

Oh, Musetta, quando você se vai docemente pela vida, sinto em mim um novo alvorecer, como se a noite, clara como o dia à sua passagem, me revelasse algo inominável. Algo que se esconde no brilho dos seus olhos, na sua elegante silhueta, no seu fulgor primaveril. Algo, portanto, que não sei nem ouso dizer, mas que permanece na minha memória, no meu coração, como um etéreo perfume, mesmo que eu fique vários dias sem lhe ver.

Irracionalidade

O desespero espera pacientemente, dia após dia, por uma oportunidade. Almeja emergir do profundo oceano do qual foi colocado. Quebrar o equilíbrio instável e racional do qual, muitas vezes, gostamos de nos vangloriar. O terror nos assola a todo instante. Incerto e exasperante, ele está dentro de cada um de nós. Somos todos uma imagem refletida de nossos maiores e mais latentes medos.

De Natura Hominis

Desejo enfim; satisfeito, por fim; tédio em mim; novo desejo – sim!

Eterno Retorno

Se o sol deixasse de brilhar... Se o mar secasse... Se o tempo parasse... Se você nunca mais voltasse... No entanto, o sol alegremente nasce todos os dias, o mar persiste em seu ritmo ondular, o tempo permanece a devorar, e você de novo ao meu lado aqui está.

Netuno e o Náufrago

Oh, mar revolto, que tanto me agonia, e me leva para longe do meu porto, fazendo-me viver em desconforto, por que me fazes sofrer noite e dia? Sou apenas um náufrago da existência nadando em pensamentos, absorto, triste, alquebrado, mas não morto, buscando a minha própria essência. Por que não me auxilias, Rei do Mar? Torna para mim os ventos favoráveis, liberta-me do perigo de afundar! Netuno: – É muito mais fácil singrar por rotas conhecidas e memoráveis do que sozinho um caminho encontrar.

Tempo

A inexorabilidade do tempo não posso vencer. Tudo se oblitera com o passar dos anos, amores, verdades e tantos desenganos que tanto nos fizeram sofrer. No fim, não restará mais nada, a não ser o vazio preexistente do Cosmos onde tudo começara.

Pecado

Culpa!? Por quê? O que fiz está feito, nada posso mudar; o passado é um quebra-cabeças que tento montar. Porém, inconscientemente persiste uma culpa hereditária, um quê de contrição, eis a nossa precária condição.

Existencialismo

Existo, logo penso: Sou o fruto dos meus atos! – O que me define é aquilo que faço. Tenho a liberdade de viver como quero, de decidir sobre o que é certo ou errado. A única coisa que respeito é a minha própria consciência, esta, sim, suprema, digna, sagrada.

Depoimento

Coloco-me a depor, ou melhor, decompor, se assim é possível, semelhante personalidade, a começar pelos olhos destinados a vibrar chispas de escárnio, juntamente com o sorriso afável, a tez alva e o rosto diáfano, tudo isso envolto em uma aura de lascividade e ternura indescritíveis. De fato, uma mulher encantadora e cativante, cujo gênio é, e para sempre será, indomável, pois não se pode subjugá-la; ela é a Senhora da situação e a Compositora de sua própria história!

Despedida

A vida é amiga, a vida é tirana; às vezes ensina, às vezes engana. *** O tempo não para, eu devo partir; um novo caminho irei descobrir. *** Aberto ao novo eu devo estar; espero um dia te reencontrar.

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