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Ócio de Verão

No silêncio da tarde, o sol a pôr-se no horizonte, eu me deleito no mistério vespertino e flutuo entre agridoces sensações.   O ar está carregado do perfume de flores tardias, e o céu, um alaranjado hipnótico, é um prelúdio para a dança.   Neste ócio de verão, eu me perco em devaneios, e o tempo, um rio moroso, me leva para sítios esquecidos.   Uma brisa sopra suavemente, e eu sinto o meu coração estremecer; o mundo, um lugar distante, e eu, um sonho que se expande.   Inefavelmente, não há nada mais que eu precise além de tua presença, teu convite.

O FIM

Não quero cantar o fim da poesia Meu coração nômade tudo destrói É como uma segunda natureza, algo imprudente e descontrolado Estou cheio de verdades nunca ditas, de fiascos iminentes Há medo e pedras afiadas sob meus pés Cada passo é mais um passo rumo a um lugar sem nome Toda respiração é uma breve subida à superfície sem fim de tudo.

Novo Amor (Para o bebezinho mais lindo desse mundo)

Tão pequeno, tão lindo, tão cheio de vida! És o frescor da manhã, és a vida que se renova. Árvores, céu, pessoas, até mesmo coisas bobas do dia a dia, tudo, absolutamente tudo, se reveste agora de uma aura diferente, de um sentimento de completude.  Teu sorriso é puro amor, é pura magia; alegria que não se explica. Tu és a próxima geração, a semente de um novo tempo, mas também, – lembre-se, meu bem – , és elo, és depositário de histórias, de ensinamentos, de canções e, acima de tudo, do nosso inteiro amor.

Petrichor

Cheiro de terra molhada, de café bem quentinho, de uma vida bem vivida, de ternos e tenros amores. *** Paixões que não se explicam, como flores que apenas desabrocham, secretamente, no bosque dos afetos inconfessos. *** E caminho descalço, sem nenhuma pressa, de volta ao meu lar, sabendo que vicejante é o desejo que nos conduz até a serena idade.

Passo a passo

Eu ainda respiro porque estás aqui. Não sei o que eu… Nem quero pensar nisso. Tudo o que eu preciso é dizer teu nome, ouvir teus passos lentos vindo em minha direção e sentir teu toque delicado em meu rosto.   Penso tão pouco hoje em dia. Não perco mais tempo com discussões inúteis, com argumentações intermináveis. Não quero estar certo o tempo todo, quero apenas ter um pouco de paz e ver todas as coisas como elas realmente são.   Não há muito o que eu possa fazer para resolver todos os problemas do mundo; há tanta indignação e ódio por todos os lados.   Tento sentir de tudo um pouco, tento não ser indiferente, mas parece que me falta alguma coisa, sempre.   A vida é o que é; e que bom que estás aqui.

A Busca

O horizonte além do horizonte; busco aquilo que de mim se esconde.   Não há nada que eu não deseje, mesmo que esteja longe, mesmo que seja inalcançável.   Sei que sou um prisioneiro do Tempo, um refém das adversidades, mas algo me diz, sussurrantemente, que meus grilhões são apenas pretextos, desculpas esfarrapadas para coisas que ainda não posso e nem quero entender.   Por isso, faço barulho e falo amenidades, mas, mesmo com tal falta de franqueza, sigo a minha sina, tendo um novo desejo a cada nova esquina.

Vislumbre

Só tive um vislumbre de você, quando parei de pensar apenas em mim mesmo, quando deixei que a vida me levasse por caminhos que antes nunca trilharia.   Sinto agora em meu peito uma afeição crescente, uma vontade louca de estar sempre ao seu lado e de me perder, de uma vez por todas, no oceano sem fim do desejo.   Não consigo colocar em palavras tudo aquilo que sinto, mas o pouco que consigo pôr no papel me traz tanto alívio.   A sua ausência me corrói, destrói, me tira o chão, me faz em pedaços… E a sua presença me faz existir, resistir.   E tento, mais uma vez, compor um outro final feliz para uma história ainda sem título, para mais um romance de folhetim.

Poesia Indie

É tão difícil expressar aquilo que sinto de forma natural; há sempre um excesso, uma vontade de fingir que estou realmente em casa. Palavras são misteriosas, mágicas, e muitas vezes tendenciosas, eu sei. Mas quero falar agora sem medo, sem rodeios. Bem, faz algum tempo que não lhe vejo, gostaria muito que você estivesse aqui. Os dias continuam iguais, uns mais frios, outros mais quentes, nada fora do normal. Há uma tristeza que me abate em certas horas, uma insônia que me persegue em algumas noites, mas, não se preocupe, não há nada que o tempo não resolva. E como você está? Espero que esteja bem. Lembre-se: um sorriso alivia tanta dor. Beleza no mundo é o que não falta. Talvez falte mesmo é um pouco mais de discernimento, paciência, contemplação. Isso mesmo, observar mais e falar menos, caminhar e estar atento a tudo o que vive e viceja à nossa volta.

Primavera

Tens o aroma amadeirado da paixão, o sabor adocicado de uma carícia de primavera e o brilho inconteste do amor.   És um retrato em chamas na estante. És o vento e o tempo agindo em mim.   À deriva, perdido em pensamentos, contemplo tua geografia; és meu bálsamo e meu encanto, meu devaneio e minha poesia.

A Ilusão da Permanência

Fico irritado sobremaneira, depois a nuvem passa. O problema era outro: não ver além da vidraça. *** Tenho uma doce devoção pela flor que se desfaz; mas queria ser poesia eterna, e não apenas um verso tão fugaz. *** Mesmo sendo nuvens passageiras, ousamos ser mais do que antes; ser a união de corpos e corações, ser o puro delírio dos amantes.

Força vital

Uma febre sem razão, uma oração sussurrada, um delicado desejo de falar e ser finalmente ouvido, de amar e não ser julgado, um não sei quê de força descomunal. *** Estrelas queimando em um cosmos de um vazio infinito; pessoas e planetas vagando, aparentemente, sem nenhuma direção; vidas que se perdem em si mesmas, alheias ao brilho da poesia e da flor. *** Campos vazios e homens calados; tempos de ira, ressentimento e desamor. *** E bem lá no fundo, coberto pelas cinzas do atraso, uma vontade perene, uma chama que não se extingue, um mundo prestes a ser redescoberto.

desleixo

Esqueço as palavras e quase perco os sentidos. Não sei mais o que faço, só sei que vivo nas entrelinhas, perdido, fora de compasso. Trago comigo, simplesmente, esperanças de nanossegundos, náufragos devaneios de éons e o absurdo divino do presente instante. Quero ver através de olhos alheios, quero me perder na infinitude de coisas que desconheço e, mais uma vez, sentir o chão sob meus pés. Não há nada a ser dito, lido ou proclamado, nenhuma canção, ruído, som, apenas o silêncio etéreo de bombas que nunca explodirão.

Sobre as evanescentes convicções

Um dia eu pensei que estava certo. Ledo engano; sempre estive errado, e continuo errado… e errando. Errarei até o fim. Talvez, até mesmo depois.

Imperiosa vontade

Quero ser mais sincero comigo mesmo. Quero começar e terminar muitas coisas. Quero pisar na relva molhada e ter um pouco de paz.  *** Não quero sondar os pensamentos alheios. Não quero viver acorrentado aos desejos de terceiros.  *** Quero estar na fronteira última do mundo, atravessar o fogo que nos separa, flutuar no vazio da infinitude.  *** E, sobretudo, quero um querer que não esfrie.

Maternidade

Bento e abençoado seja o fruto do seu ventre. Materno – e eterno – é a vontade de fazer deste pequeno um mundo formado por um mosaico de memórias passadas e futuras, por cheiros e choros, brincadeiras e descobertas. Longa espera, semana após semana, que logo chegará ao fim. Fim que será começo; eis a renovação da vida, pacote completo de alegrias, anseios e expectativas, tudo envolto na delicadeza de um amor incomparável. Novas preocupações, definitivamente um outro momento; canções de ninar, primeiros passos, vida e celebração.

Felicidade

Tua face dourada ao sol da campina; és remanso, orvalho, neblina. *** No relvado florido de sonhos ilhados, cultivas desejos e jogas os dados. *** Talvez tenhas apenas uma vontade: ser a luz para além da idade.

Multiverso

Universos paralelos em um mesmo universo Retas que nunca se cruzam Crianças do Silêncio Loucura e ressentimento As palavras dos profetas da banalidade O Verso e o Reverso A chegada de Andrômeda Cacofonia e estática O seu vestido branco Sonhos elétricos Desencontros

Tudo e Nada

Você vive em minhas memórias, habita o recôndito sagrado dos meus pensamentos, perscruta o abismo do meu ser. *** Tudo é igual e ao mesmo tempo diferente; é tão difícil agora seguir em frente.  *** Aqui é Tudo; após, o Nada que assombra o Mundo. *** Caminho, desnorteado, por entre narrativas confusas, visões utópicas e mentiras descaradas. Caminho… e descaminho.

Triste Holoceno

Me aventuro em meu próprio jardim tentando todos os dias, e mais uma vez, cumprir a tarefa hercúlea e infrutífera de regar a flor da felicidade alheia.   Estou sempre triste, ou alegre, pelos motivos errados. Demonstro pouco e sinto muito, mas às vezes o contrário também me acontece.   Hoje, a noite está fria, e não há estrelas no céu. Ouço vozes ao meu redor, vejo vultos, gestos e símbolos, mas não consigo captar nenhum significado.   Gritos silenciosos, silenciados, por toda parte; muita informação e pouco conhecimento; e, sobretudo, muito barulho para abafar tudo o que não seja alegria, sucesso e modernidade.

À Beleza

Deuses acima e abaixo mistérios por toda parte infernos pessoais   Colho um fruto da árvore do não-saber, deleito-me na vacuidade de fátuos prazeres, e acabo, por fim, vagando exausto em busca de algo que jamais terei.   Oh, Beleza , transitória e imutável, que me fazes perder o chão, eis-me aqui tremendo feito um homem-menino que nunca sabe dizer não.   Insatisfeito, rarefeito, diluído em uma poça oceânica, jogado aos pés do ocaso e do descaso; preso, acorrentado, sujo e ensanguentado; vivo, triste e contente, olhando o firmamento desolado.

Poética & Imagética

Estrelas em meus olhos, lágrimas nas montanhas e verdades entrecortadas.   Perdido em um cômodo, esquecido, resquícios de uma ansiedade que nunca se desfaz.   Despenco de um desfiladeiro rumo às pedras afiadas da solidão e então flutuo docemente por sobre o jardim das gentis reminiscências.   Nada importa. Nada.   É uma agridoce sensação: uma leveza insustentável, naufrágios adormecidos, fogo que acalma.

Sem nome

Às vezes o silêncio é apenas silêncio, e a inquietação perscruta sorrateiramente os recônditos insalubres da alma.   Lúgubres imagens de outros eus , espectros desfigurados, cacos de esperança que não se sustentam.   Verborragia pura, um niilismo infantil, um andar sem chão.   Eu, simplesmente eu, desconexo, iracundo, obsessivo. Eu, sem você, desnudo.

Me mostre como

Flores que nascem nas criptas do desespero, águas que escorrem pelos pântanos da morte, ventos que não trazem nada de auspicioso.   Me mostre como cair no entorpecimento, como desaparecer em você, como deixar de ser.   Verdades ditas a mesmo, laços rompidos, estranhas histórias de amor.   Em minhas mãos, flores murchas de Maio. No horizonte, o beijo suave do Tempo.

AURORA

Deuses que podemos tocar, mundos que podemos ver, imperfeições que nos fazem humanos: tudo parte da comédia divina e mundana do cotidiano. Sou um pagão, um herege, caminhando entre lobos, entre criaturas que dançam no escuro. Para além do dionisíaco e do apolíneo, do sagrado e do profano, um senso de que só a impermanência realmente permanece, de que o nosso tempo está se esgotando. Prazeres secretos, curas para aquilo que não há cura, sonhos que mais parecem pesadelos; sucessão absurda, poema pretérito.

Foto instantânea

Demorei muito pra chegar até aqui: anos de sofrimento, quedas e silêncio. Posso agora tocar os astros, ouvir o som das esferas, ultrapassar o mar da solidão. Posso olhar para trás sem remorsos e para frente sem ansiedade. Posso, enfim, ceder; ser derrotado mas mesmo assim vencer.

Apatia

Alterno entre a apatia e a irritação, depois varro as migalhas de afeto para debaixo do tapete. Você não está aqui comigo, ninguém está; são apenas telas escuras refletindo pálidos reflexos. É sempre a mesma coisa, dia após dia, um verdadeiro freak show : guerra, pandemia, fake news , ignorância travestida de militância. E eu olho nos seus olhos mais uma vez, mas você não me vê. *** Um silêncio aterrador se esconde por trás do espelho.

Um dia

Um dia sem amor, apenas um... *** Por todos os lados, pessoas que nunca saem do personagem, que nunca abandonam o script ; ficções de uma vida heroica, cheia de valores e virtudes, em um mundo caótico e sem sentido; facções que se digladiam, dia após dia, incessantemente, por um naco qualquer que seja de fama e poder. *** Um dia de loucura e frêmito, um dia de ousadia; bem, quem sabe um dia.

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