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Devaneio e Poesia

Um banco, uma praça,

em uma tarde dourada,

eis que te vejo do nada,

com luz, perfume e graça.

***

Uma memória emoldurada:

uma conversa que enlaça;

pássaros a fazer arruaça;

vida, sinais e uma nova florada.

***

De tudo, o que fica é a saudade,

que cresce sempre à tardinha,

lânguida, contida e evanescente.

***

Cresci nesta simpática cidade,

– com sua grama bem cortadinha –,

contemplando o mesmo sol poente.




maio 16, 2021 No Comments

O inverno chegou,

mas não como prenúncio de morte,

e sim como introspectivo consorte,

taciturno companheiro de clausura.

Eis um tempo de reflexão,

onde o frio nos pega pela mão

e nos leva rumo ao abismo do que somos.

Sim, o inverno chegou,

e aqui chegamos nós também,

cegos diante de tanta luz,

tentando achar alguma resposta,

alguma saída.

E, na transitoriedade de todas as coisas,

para aqueles que não fogem da estação,

o que fica mesmo é um profundo respeito pela vida.




maio 15, 2021 No Comments

Quero escrever um poeminha à toa,

um poeminha vagabundo,

desses que não dizem nada,

que estão aí só por estar,

sem pretensão alguma,

sem razão de ser:

– Que poeminha bom é estar junto a você! –





maio 08, 2021 No Comments

A vida pode ser mais do que isso,

mais do que dores e cansaço,

mais do que política e descaso.

Há de haver um compromisso,

uma vontade de fazer diferente,

de não ser como toda essa gente

que só faz o que é preciso.

Está mais do que na hora

de vivenciar a poesia,

esta linda ave canora,

à luz do dia a dia.

E para além das palavras,

um aroma doce e suave,

uma canção sempiterna

e um desejo de encontro.




maio 08, 2021 No Comments

Hoje eu caminhei pela cidade:

dores escondidas em cada esquina,

solidões anônimas nos bancos da praça,

jardins da vida ressecados,

muros, grades, lanças e portões.

Não quero ser poeta das coisas mortas;

melhor dar mais uma volta.




maio 07, 2021 No Comments

Taça de cristal despedaçada,

flores murchas,

móveis empoeirados,

enfim, imagens do que restou.

***

Eu mal consigo sentir qualquer gosto ou odor,

e o ar ao meu redor parece rarefeito e indiferente;

ah, os pequenos sufocamentos do dia a dia.

***

Tento outra vez atravessar uma parede de ressentimentos e falta de amor.

***

Espero um mais pouco,

olho para todos os lados,

e sinto a brisa suave da manhã em meu rosto,

o cheiro da primavera em flor.

***

O futuro não se mostra excitante,

e o passado ruge como uma fugidia e capciosa lembrança.

Tento não pensar em nada

– sei que sou poeira ao vento –;

quero apenas fincar os meus pés no possível, no palpável. 




maio 02, 2021 No Comments

Eu espero um pouco mais,

tento não me desesperar.

Horas se tornam dias,

dias se tornam anos,

e o silêncio reverbera,

e luzes rarefeitas escoam pelas frestas do tempo.

Lá fora o vento frio do outono sopra indiferente,

já aqui dentro sinto uma solidão dilacerante.

Estou tentando ser mais paciente, menos intransigente, mas não está sendo fácil.

***

Desidealizar o amor, as amizades, a vida;

é preciso ser aquilo que se precisa.




abril 22, 2021 No Comments

Nas asas da loucura,

seguindo na contramão,

eu estou à beira do meu leito,

quase caindo em mim,

quase achando alguma solução.

Todo dia as mesmas notícias:

necrose, ignorância e incivilização.

Tomo mais trago deste mal ardente;

em devaneio, penso no próximo carnaval.

Não quero mais isso

nem quero mais aquilo.

Anacronicamente, e de uma vitrola improvável,

ouço a voz renitente de Sérgio Sampaio:

“silêncio na tarde dos homens, silêncio”




abril 17, 2021 No Comments

Nevoeiro nas mentes:

homens perambulam, perdidos,

exclamando certezas morais,

iluminações políticas;

há algo de muito errado no paraíso outrora tropical.

Eclipse das mentes, endurecimento dos corações,

tudo envolto em trevas, ignorância e medo.

Paira no ar uma vontade de exterminar o diferente,

de acabar com qualquer dissenso,

de ser mais um na multidão.

Cheiro pútrido de glórias passadas,

um misto de estupidez, ressentimento e rancor.

***

Simplesmente, não sonhe nem mesmo um pequeno sonho comigo.

***

Há um quê de fingimento em toda alegria;

há muita sinceridade em cada pequena dor.




fevereiro 27, 2021 No Comments

Caminho para lugar nenhum

Um olhar vazio, distante

Você nunca está lá

Os salões cheios de passageira esperança

Festiva loucura que não termina

A angústia como uma lâmina afiada

Quinquilharias que junto pouco a pouco

Triste, pálido (e contínuo) dia de inverno

O grito não sai

O odor permanece

Só agora começo a entender a sua doce insensibilidade.




janeiro 26, 2021 No Comments

(Para Rebecca Nora Bunch)

 

Apaixonar-se após uma única canção;

tocar, com uma dança coreografada,

um sapateado, um dueto, a alma;

sentir-se em uníssono com a música;

estremecer a cada acorde;

sentir os dedos suaves da beleza,

sem um propósito racional,

deslizar por todo o corpo;

vibrar com a batida rítmica da vida.

 

Vibratos, arranjos e emoções: molto vivace!

E tanta gente que não gosta só porque é “tudo cantadinho”.




dezembro 25, 2020 No Comments

Quero encher o seu cabelo de flores,

fazer do meu empedernido coração

um quê de louvor e prece;

diante da relva molhada,

quem sabe numa manhã emoldurada,

transladar argênteo sonho,

jovial e alvissareiro,

para o mundo cá em baixo;

ouvir sua voz edulcorada,

sentir seus dedos deslizando suavemente,

ousadamente...

***

Uma doce sensação, mistério e paixão;

eco renitente de uma antiga (e sempre nova) rima.




novembro 15, 2020 No Comments

Nos rios da Babilônia,

às margens do Sena,

no Rubicão, Ipiranga,

ou mesmo no córrego aqui da vila,

um sentimento de efêmera eternidade,

de um não retorno: ponto de inflexão.

Eis o fim das grandes ideias,

das grades que ocultam flores,

de um tempo que se apaga pouco a pouco.

A revolução acabou,

o sonho definhou,

(todos já foram guilhotinados)

e no jogo do poder já se entrevê a ascensão de um novo déspota.

Por todos os lados, até onde a vista alcança,

milhares e milhares de estátuas de sal.




novembro 11, 2020 No Comments

Nada tenho que realmente me pertença.

***

Achei, um dia, que nos pertencíamos, inseparáveis,

como um sistema binário em uma eterna dança gravitacional.

O átomo da vida manterá a sua majestosa integridade, eu pensava;

oh, fissão de minhas etéreas certezas.

Dúvidas, dúvidas e dívidas foram o que me restaram...

Na nuvem de gás e poeira que me habita,

sentimentos não revelados e verdades nunca ditas.

***

– inércia –

Zero Absoluto

***

Talvez nas luas de Saturno,

quem sabe para além da nuvem de Oort,

uma supernova,

trazendo a vida por meio da morte,

nos revele o até então desconhecido óbvio.




outubro 02, 2020 No Comments

Vagando entre as criaturas da noite,

com um coração petrificado,

vejo lúgubres figuras,

sonhos terríficos,

o passar dilacerante do tempo.

***

Tento – sem nunca conseguir – acabar com tudo,

com a viscosa esperança que me persegue,

com a consciência de que não há caminho de volta.

Até agora nenhum sintoma aparente, febre ou loucura;

a normalidade se mostra em toda a sua triste magnificência.

***

À sombra de um cipreste,

longe de qualquer presença humana,

contemplo o vasto e indiferente céu outonal.




setembro 28, 2020 No Comments
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