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Poesia Indie

É tão difícil expressar aquilo que sinto de forma natural; há sempre um excesso, uma vontade de fingir que estou realmente em casa. Palavras são misteriosas, mágicas, e muitas vezes tendenciosas, eu sei. Mas quero falar agora sem medo, sem rodeios. Bem, faz algum tempo que não lhe vejo, gostaria muito que você estivesse aqui. Os dias continuam iguais, uns mais frios, outros mais quentes, nada fora do normal. Há uma tristeza que me abate em certas horas, uma insônia que me persegue em algumas noites, mas, não se preocupe, não há nada que o tempo não resolva. E como você está? Espero que esteja bem. Lembre-se: um sorriso alivia tanta dor. Beleza no mundo é o que não falta. Talvez falte mesmo é um pouco mais de discernimento, paciência, contemplação. Isso mesmo, observar mais e falar menos, caminhar e estar atento a tudo o que vive e viceja à nossa volta.

Primavera

Tens o aroma amadeirado da paixão, o sabor adocicado de uma carícia de primavera e o brilho inconteste do amor.   És um retrato em chamas na estante. És o vento e o tempo agindo em mim.   À deriva, perdido em pensamentos, contemplo tua geografia; és meu bálsamo e meu encanto, meu devaneio e minha poesia.

A Ilusão da Permanência

Fico irritado sobremaneira, depois a nuvem passa. O problema era outro: não ver além da vidraça. *** Tenho uma doce devoção pela flor que se desfaz; mas queria ser poesia eterna, e não apenas um verso tão fugaz. *** Mesmo sendo nuvens passageiras, ousamos ser mais do que antes; ser a união de corpos e corações, ser o puro delírio dos amantes.

Força vital

Uma febre sem razão, uma oração sussurrada, um delicado desejo de falar e ser finalmente ouvido, de amar e não ser julgado, um não sei quê de força descomunal. *** Estrelas queimando em um cosmos de um vazio infinito; pessoas e planetas vagando, aparentemente, sem nenhuma direção; vidas que se perdem em si mesmas, alheias ao brilho da poesia e da flor. *** Campos vazios e homens calados; tempos de ira, ressentimento e desamor. *** E bem lá no fundo, coberto pelas cinzas do atraso, uma vontade perene, uma chama que não se extingue, um mundo prestes a ser redescoberto.

desleixo

Esqueço as palavras e quase perco os sentidos. Não sei mais o que faço, só sei que vivo nas entrelinhas, perdido, fora de compasso. Trago comigo, simplesmente, esperanças de nanossegundos, náufragos devaneios de éons e o absurdo divino do presente instante. Quero ver através de olhos alheios, quero me perder na infinitude de coisas que desconheço e, mais uma vez, sentir o chão sob meus pés. Não há nada a ser dito, lido ou proclamado, nenhuma canção, ruído, som, apenas o silêncio etéreo de bombas que nunca explodirão.

Sobre as evanescentes convicções

Um dia eu pensei que estava certo. Ledo engano; sempre estive errado, e continuo errado… e errando. Errarei até o fim. Talvez, até mesmo depois.

Imperiosa vontade

Quero ser mais sincero comigo mesmo. Quero começar e terminar muitas coisas. Quero pisar na relva molhada e ter um pouco de paz.  *** Não quero sondar os pensamentos alheios. Não quero viver acorrentado aos desejos de terceiros.  *** Quero estar na fronteira última do mundo, atravessar o fogo que nos separa, flutuar no vazio da infinitude.  *** E, sobretudo, quero um querer que não esfrie.

Maternidade

Bento e abençoado seja o fruto do seu ventre. Materno – e eterno – é a vontade de fazer deste pequeno um mundo formado por um mosaico de memórias passadas e futuras, por cheiros e choros, brincadeiras e descobertas. Longa espera, semana após semana, que logo chegará ao fim. Fim que será começo; eis a renovação da vida, pacote completo de alegrias, anseios e expectativas, tudo envolto na delicadeza de um amor incomparável. Novas preocupações, definitivamente um outro momento; canções de ninar, primeiros passos, vida e celebração.

Felicidade

Tua face dourada ao sol da campina; és remanso, orvalho, neblina. *** No relvado florido de sonhos ilhados, cultivas desejos e jogas os dados. *** Talvez tenhas apenas uma vontade: ser a luz para além da idade.

Multiverso

Universos paralelos em um mesmo universo Retas que nunca se cruzam Crianças do Silêncio Loucura e ressentimento As palavras dos profetas da banalidade O Verso e o Reverso A chegada de Andrômeda Cacofonia e estática O seu vestido branco Sonhos elétricos Desencontros

Tudo e Nada

Você vive em minhas memórias, habita o recôndito sagrado dos meus pensamentos, perscruta o abismo do meu ser. *** Tudo é igual e ao mesmo tempo diferente; é tão difícil agora seguir em frente.  *** Aqui é Tudo; após, o Nada que assombra o Mundo. *** Caminho, desnorteado, por entre narrativas confusas, visões utópicas e mentiras descaradas. Caminho… e descaminho.

Triste Holoceno

Me aventuro em meu próprio jardim tentando todos os dias, e mais uma vez, cumprir a tarefa hercúlea e infrutífera de regar a flor da felicidade alheia.   Estou sempre triste, ou alegre, pelos motivos errados. Demonstro pouco e sinto muito, mas às vezes o contrário também me acontece.   Hoje, a noite está fria, e não há estrelas no céu. Ouço vozes ao meu redor, vejo vultos, gestos e símbolos, mas não consigo captar nenhum significado.   Gritos silenciosos, silenciados, por toda parte; muita informação e pouco conhecimento; e, sobretudo, muito barulho para abafar tudo o que não seja alegria, sucesso e modernidade.

À Beleza

Deuses acima e abaixo mistérios por toda parte infernos pessoais   Colho um fruto da árvore do não-saber, deleito-me na vacuidade de fátuos prazeres, e acabo, por fim, vagando exausto em busca de algo que jamais terei.   Oh, Beleza , transitória e imutável, que me fazes perder o chão, eis-me aqui tremendo feito um homem-menino que nunca sabe dizer não.   Insatisfeito, rarefeito, diluído em uma poça oceânica, jogado aos pés do ocaso e do descaso; preso, acorrentado, sujo e ensanguentado; vivo, triste e contente, olhando o firmamento desolado.

Poética & Imagética

Estrelas em meus olhos, lágrimas nas montanhas e verdades entrecortadas.   Perdido em um cômodo, esquecido, resquícios de uma ansiedade que nunca se desfaz.   Despenco de um desfiladeiro rumo às pedras afiadas da solidão e então flutuo docemente por sobre o jardim das gentis reminiscências.   Nada importa. Nada.   É uma agridoce sensação: uma leveza insustentável, naufrágios adormecidos, fogo que acalma.

Sem nome

Às vezes o silêncio é apenas silêncio, e a inquietação perscruta sorrateiramente os recônditos insalubres da alma.   Lúgubres imagens de outros eus , espectros desfigurados, cacos de esperança que não se sustentam.   Verborragia pura, um niilismo infantil, um andar sem chão.   Eu, simplesmente eu, desconexo, iracundo, obsessivo. Eu, sem você, desnudo.

Me mostre como

Flores que nascem nas criptas do desespero, águas que escorrem pelos pântanos da morte, ventos que não trazem nada de auspicioso.   Me mostre como cair no entorpecimento, como desaparecer em você, como deixar de ser.   Verdades ditas a mesmo, laços rompidos, estranhas histórias de amor.   Em minhas mãos, flores murchas de Maio. No horizonte, o beijo suave do Tempo.

AURORA

Deuses que podemos tocar, mundos que podemos ver, imperfeições que nos fazem humanos: tudo parte da comédia divina e mundana do cotidiano. Sou um pagão, um herege, caminhando entre lobos, entre criaturas que dançam no escuro. Para além do dionisíaco e do apolíneo, do sagrado e do profano, um senso de que só a impermanência realmente permanece, de que o nosso tempo está se esgotando. Prazeres secretos, curas para aquilo que não há cura, sonhos que mais parecem pesadelos; sucessão absurda, poema pretérito.

Foto instantânea

Demorei muito pra chegar até aqui: anos de sofrimento, quedas e silêncio. Posso agora tocar os astros, ouvir o som das esferas, ultrapassar o mar da solidão. Posso olhar para trás sem remorsos e para frente sem ansiedade. Posso, enfim, ceder; ser derrotado mas mesmo assim vencer.

Apatia

Alterno entre a apatia e a irritação, depois varro as migalhas de afeto para debaixo do tapete. Você não está aqui comigo, ninguém está; são apenas telas escuras refletindo pálidos reflexos. É sempre a mesma coisa, dia após dia, um verdadeiro freak show : guerra, pandemia, fake news , ignorância travestida de militância. E eu olho nos seus olhos mais uma vez, mas você não me vê. *** Um silêncio aterrador se esconde por trás do espelho.

Um dia

Um dia sem amor, apenas um... *** Por todos os lados, pessoas que nunca saem do personagem, que nunca abandonam o script ; ficções de uma vida heroica, cheia de valores e virtudes, em um mundo caótico e sem sentido; facções que se digladiam, dia após dia, incessantemente, por um naco qualquer que seja de fama e poder. *** Um dia de loucura e frêmito, um dia de ousadia; bem, quem sabe um dia.

Cotidiano

Nem tudo é poesia, mas bem que poderia ser, ser diferente, diferente e contagiante. *** Caminhar descalço na grama, e não sair esbravejando discursos de ódio; ser gentil e atencioso, e não ter certezas absolutas; parar, respirar fundo e ver com novos olhos, e não seguir insanamente um ressentimento anacrônico. *** A lua ainda brilha no céu matutino, e o céu está opressivamente azul; tudo parece tão igual na superfície das coisas.

Disparate

Debaixo do sol ofuscante do meio-dia, segredos que não posso ver, verdades que não posso tocar. Nas retas curvilíneas das perguntas sem respostas, fantasmas e sombras, correntes e grilhões. Estilhaços por todos os lados; reflexos de uma existência sem sentido. O absurdo vai crescendo aos poucos, como um musgo, tomando conta de tudo. *** E o caminho está fechado, obliterado, pra nós.

Ouroboros

Para além do mundo físico, deixando para trás traumas e contradições, eu vislumbro vida e destruição, morte e renascimento. Há um oceano dentro de mim, uma natureza cruel e indiferente, um ciclo infinito de caos e ordenamento. Sinto um esvaziamento completo, um silêncio obliterante; tudo parece tão sereno e doloroso, tão puramente apocalíptico. *** Lábios frios, falso horizonte, águas calmas; ah, caro Caronte. ∞

O Fim do Mundo

Crisântemos, Escombros, Estática Nenhuma música no rádio, nenhum reality show na televisão, nem mesmo memes engraçados nas redes sociais ou vídeos de gatinhos fofinhos no Youtube ; nada, nada mais consegue reter minha atenção. Por fora, no mundo exterior, tudo está idêntico ao que sempre foi; as mesmas piadas tristes, os mesmos homens enfadonhos. Já por dentro, no meu mundinho interior, vejo crisântemos em meio aos escombros do caminho, ouço a estática que nada significa, pois simplesmente não precisa significar nada. Estou cansado dos profetas da obviedade, das canções de amor daqueles que não amam, da emotividade incontida que a ninguém comove. *** O fim do mundo pode começar a qualquer momento: pode ser uma nova chance ou apenas dor e lamento.   memento mori

Pequenas Grandes Metas

Livrar-se da feiura e romper toda clausura; seguir os caminhos da beleza e não ter mais qualquer certeza, sobretudo certeza devoradora e absoluta; entrar na ignota gruta e sair de lá diferente; gritar com a atrasada gente e nunca, jamais, em hipótese alguma, nunquinha mesmo, olhar para trás.

Randomicidade

Nada, absolutamente nada, antes ou depois. No meio, dor e amor imensos. Sem pátria nem cátedra, apenas láudano e pântano. Vapores translúcidos e sóis multicolores onde garotos e garotas bonitas vagam, perdidos. Um sulco aberto na alma, um vazio preexistente e, no mais, pura aleatoriedade.

Compondo versos

Aqui está a minha vida, talvez não a vivida, mas a vida inventada, emoldurada, transfigurada.   Busca constante por verossimilhança, tentativa de soar o mais plausível possível, de fazer do falso, verdadeiro, do real, surreal. Comboio de emoções não vividas, mas também de dores excruciantes, de sentimentos extasiantes.   Eu componho versos singelos, escrevo sobre dragões e castelos, sobre a vida e seus flagelos, tudo isso tão somente para fortalecer os elos.

A Estrada da Desolação

O passado parece irrelevante, e a minha mente vaga no além-horizonte. Fragmentos de uma possível existência, caminhos bifurcados e incompreensíveis, ledos enganos que nos empurram para frente, mas nenhuma seta ou indicação. Meus pés sangram à beira do caminho, e mais uma tempestade se aproxima; preciso continuar, não posso desistir, mesmo não tendo para onde ir.

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