Fulvio Denofre. Tecnologia do Blogger.
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Devaneio e Poesia

No deserto árido da alma, uma gota de água é oceano.

O rastejar entre pestilências transmutou-se no novo andar.

Solidão a dois, a três, a quatro…

Ah, o contentar-se com aquilo que nos é oferecido de modo tão parco e negligente.

Fingir amar quando não se ama;
fingir não amar quando se ama;
fazer do fingimento uma carapaça.

Visualizou, mas não respondeu – eis o novo drama de Dirceu.
Enquanto isso, Marília deleita-se com o seu grande número de matches.

– Não, não quero conversar com você! Você está muito perto! Eu prefiro muito mais falar com aqueles que estão em outro continente ou, quiçá, em outro mundo.


novembro 26, 2019 No Comments
Estou preso a uma coleira, a teus pés;
sou um escravo do meu desejo por ti.
A tua indiferença me consome
e ao mesmo tempo me atrai.
Vivo me afastando e voltando,
odiando e querendo.
Anseio pela liberdade,
mas sou cativo da tua atenção,
do teu carinho, do teu descaso.
Sou guiado por uma vontade cega;
não consigo não desejar o que desejo.
Minha submissão é covarde e ridícula;
se fosse mais forte, lutaria,
escalaria os montes da minha vontade,
limparia os meus pés na soleira da mansão do desencanto.
Ah, se tudo fosse diferente,
se eu pudesse não desejar mais nada...


novembro 25, 2019 No Comments
A taça se estilhaçou,
só sobraram palavras vazias,
cacos pequeninos de uma história que se desfez.
Na pressa de limpar, de virar a página,
acabei cortando o dedo em um pedaço de memória;
tantos fragmentos:
confissões, risos, olhares que valiam por discursos inteiros...
Sinto que me despedacei também;
me transformei em poeira,
fui levado pelo vento.

Não tenho mais ilusões;
eu sei que me perderei outra vez em outro alguém. 


novembro 24, 2019 No Comments
Eu tenho um olhar triste,
vago, ensimesmado;
converso demais comigo mesmo,
e às vezes acho até que sou invisível.
Tenho um carinho exagerado por pessoas prediletas,
o que resulta em pouquíssimos amigos,
nenhum amor.
Vivo em um mundo com muitas idealizações,
mas estas só me fazem sofrer ainda mais.
Serenei com o tempo,
descobri lacunas na razão,
padeci em silêncio.
Escrevo versos para não transbordar,
para dizer tudo o que sinto
e não sinto.
Vento, brisa leve da manhã,
sopra sobre mim.


novembro 24, 2019 No Comments
O sabor da tua voz
A cor do teu perfume
O som da tua pele
O cheiro dos teus olhos castanho-esverdeados
Mergulho fundo
Sinto torrentes, espasmos, trepidações por todo o corpo
A brisa reverbera uma suave melodia
O Bem-te-vi me dá as boas-vindas
Seguro firme a tua mão
E as aleias se fecham após a nossa passagem. 



novembro 23, 2019 No Comments
(Poema de Samuel Rocha)

Carolina amava Maria que amava Raimundo
que fingia amar Teresa que fingia não amar Pedro que amava Beatriz
que não amava ninguém

Carolina foi para os Estados Unidos, Maria para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Teresa ficou para tia,
Pedro suicidou-se e Beatriz casou com Fernando
que não tinha entrado na história.

P.S.: Fernando também não ama ninguém.


novembro 23, 2019 No Comments
Conheço bem a tua decoração,
cada fita, vestido ou penduricalho.
Conheço de cor o teu sorriso,
o jeito como me olhas,
a forma como ajeita as madeixas.
Conheço o teu jeito de me repreender,
de mostrar que estás zangada.
Mas, por mais que tente, só arranho a superfície do que tu és:
esfinge amorosa, flor deleitosa,
bálsamo, tormenta e orvalho.
És arte e música barroca,
luz e sombra,
harmonia e contraponto,
som e fúria.
Bem, tu és o que não sei dizer,
o que não ouso descrever,
aquilo que está para além de minha compreensão.
...
Só sei, ainda que imprecisamente, sobre o que sinto:
júbilo e lamento de amor.


novembro 20, 2019 No Comments
Estou diante de ti
– um abismo se abre à minha frente –,
procuro palavras, mas não as encontro.
Diante dos teus olhos, do teu sorriso,
o tempo desacelera,
percebo então cada nuance, cada gesto,
e de repente não te vejo mais;
mergulho em mim mesmo,
faço de ti o ideal perfeito,
pintura renascentista,
estátua grega.
Estremeço diante dos teus olhos,
diante da obra-prima por mim criada;
tu continuas a me fitar, sorrindo,
e eu não enxergo é mais nada.


novembro 18, 2019 No Comments
Não existe em mim um eu verdadeiro.
Há aqui uma multidão de vozes,
uma miríade de cores,
algo indefinido e mutante.
São os outros que definem a minha essência,
e cada um o faz à sua maneira,
sendo que nenhum acerta,
pois não há essência alcançável.
Há apenas o que sou neste exato momento,
e amanhã já não serei mais o mesmo.
A mudança não é rápida, isso eu sei,
mas é constante, certa e imprevisível.


novembro 17, 2019 No Comments
Eu não sei quem tu és.
Acho que nunca saberei.

Eu sei que gosto de ti,
que aprecio as tuas virtudes,
que percebo os teus defeitos,
mas não posso, através do que vejo e sinto,
alcançar o âmago do teu ser.
Talvez nem você possa.

Tu és, para mim, a imagem que faço de ti, e isso me é suficiente,
não que eu fique contente com isso,
mas não posso fazer nada para mudar tal realidade.

Quero apenas a tua presença aqui,
quero que me fales sobre as tuas angústias,
sobre o que agita a tua alma,
sobre o que aquece o teu coração.

Eu estou contigo,
e tu comigo estás,
mesmo que estejamos apartados,
seguindo caminhos opostos. 


novembro 11, 2019 No Comments
Hoje eu acordei com a estranha sensação de que não te amo mais.
Levantei da cama, abri a janela, saí pela porta da frente e me deparei com um silêncio,
um silêncio tão grande, tão acolhedor, tão exasperante.
Qual foi mesmo o sentido disso tudo?
Fico sem respostas, não as tenho, decerto, nunca as terei.
Há um mergulho profundo no abismo da alma,
um não sei quê com o gosto amargo da solidão.
Começo a andar, depois correr, passadas largas;
quero me distanciar, fugir de mim mesmo.
Não há lágrimas visíveis, apenas um mar revolto que se esconde por dentro.
Fachadas, tormentas, naufrágios...
A rua em que estou continua a mesma rua que passo todos os dias,
com os mesmos cães, com as mesmas pessoas, com os mesmos bons-dias;
e eu, de certa forma, continuo também o mesmo,
apesar de, talvez, já ser outra pessoa. 


novembro 11, 2019 No Comments
Tantos gritos em vão,
tanto orgulho por nada!
Construí em vida um castelo de cartas,
carreguei um fardo desnecessário,
ambicionei o que não tinha importância alguma,
angustiei-me em excesso com coisas banais...
Bem, fui o meu próprio algoz,
meu pior amigo.
Hoje, saúdo o vento,
fico grato por qualquer sorriso.
– Ah, como é bom lhe ver de novo,
sente aqui comigo!
Não nego mais as lágrimas,
e guardo com gratidão todo o amor que me é oferecido,
e quero apenas aquilo que me for possível. 


novembro 08, 2019 No Comments
Gosto tanto de você que até me dói, me dói no coração não ter lhe conhecido antes, me dói saber que tudo isso é passageiro, que um dia não terei mais você aqui comigo. Saiba que há ternura e muito afeto por trás de toda essa sua melancolia. Quereria ser um arauto da felicidade para lhe abrir as portas de tudo o que você sonhou mas nunca teve. No entanto, só posso mesmo lhe dar neste momento aquilo que me agita por dentro: o meu carinho, a minha atenção, a minha consideração, a minha amizade, o meu amor. É tudo fugidio, eu sei, mas é o que tenho. O tempo apagará todas as marcas, todos os vestígios; gerações futuras nunca saberão da nossa existência, da nossa amizade, muito menos terão conhecimento sobre quais eram as nossas verdadeiras preocupações. Não restará mais nada, e isso será tudo. Mesmo assim lhe escrevo estas palavras com o frágil intuito de que algo permaneça, se não no porvir, ao menos agora em seu coração.


novembro 03, 2019 No Comments
Você me fez enxergar aquilo que eu não conseguia mais ver, me mostrou todas as estrelas do céu;
você me fez rememorar coisas que já tinha esquecido, coisas que ficaram abandonadas em caixas empoeiradas nos porões do meu coração;
você veio para destruir as bases arcaicas de uma vida desprovida de sentimento;
você veio, perdoe-me a expressão, com a força de um furacão,
arrebentou cercas, derrubou muros,
e, por isso mesmo, muito me ensinou.

Aprendi a fazer poemas com as minhas dores, com os meus sofrimentos;
edifiquei castelos com as pedras do meu caminho;
consertei pontes, refiz aquedutos, pavimentei estradas rumo ao desconhecido eu.
Tudo isso, no fundo, uma homenagem a você, um hino à vida, um modo de seguir em frente, um jeitinho meu de fazer com que você se eternize. 


novembro 03, 2019 No Comments
(Poema de Samuel Rocha)

Cansado do raso que me afoga na agonia banal;
cansado da mediocridade diária, do superficial;
cansado do não dito, que grito, o não ouvido;
da estupidez dos esperançosos, do clichê ridículo.

Quero distância desse mar de sorrisos, não tenho causa, não tens motivo.
Cansado do que não serve, do que não calça, do que aperta;
do que não causa, no coração que congela;
cansado da massa, da ideologia fútil, cansado do brega, do apaixonar-se inútil.

Nada vale a pena,
nada,
nem terminar este poema…


novembro 03, 2019 No Comments
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