Fulvio Denofre. Tecnologia do Blogger.
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Devaneio e Poesia

Se eu não amasse tanto a vida,

já teria partido sem destino,

fincado minha bandeira no solo infértil da amargura,

abandonado de uma vez toda e qualquer canção de amor.

Ah, se eu não amasse,

se de tudo eu duvidasse,

quão mísera seria a minha existência,

quão patéticos seriam os meus dias.

Há algo de muito leve, transbordante,

no ato de doar-se;

sair de si mesmo é como abrir asas e voar,

é descobrir o encanto ao redor.

Doce pode ser a vida para além dos muros,

grades e cercas de arame farpado

que muitas vezes edificamos para nos proteger.




julho 03, 2021 No Comments

É o fim. É o fim de tudo, eu sei.

Quando eu voltar, você não estará mais lá;

casa vazia, coração em pranto,

e nas mãos o açoite da realidade.

Eu me arrastarei por entre cômodos e incômodos,

calado, ouvindo palavras que você nunca disse,

tentando, em vão, me iludir.

Nas estantes, livros cheios de traços e traças;

nas paredes, fotografias em preto e branco.

As gavetas estarão vazias,

a cama estará desarrumada,

minha vida, desaprumada.

O tempo começará a desmoronar,

e eu me sentirei despatriado,

perdido dentro de mim,

caminhando rumo a lugar nenhum.




junho 13, 2021 No Comments

Rosas desvairadas,

crisântemos tristonhos,

lírios orgulhosos,

gerânios obstinados;

sim, o teu jardim tem muitas flores.

***

Por alamedas bem cuidadas,

por campos de amoras silvestres,

vou djavaneando o meu amor,

desaguando o que sinto

no oceano sem fim da insensatez,

cantando as glórias de um céu azulzinho,

de uma correnteza lilás e outras cores.

***

Vejo uma semente crescer no meu coração,

pressinto no ar, mesmo neste dia frio,

uma força singela, coisa mais bela:

uma vida ao teu lado cheia de novos sabores.




junho 12, 2021 No Comments

Às vezes rimo, às vezes não rimo,

e logo depois me vejo correndo descalço pelos campos da meninice,

afagando sonhos e versos,

polinizando amorosas flores.

Aos meus pés, uma planta pequenina,

frágil como tudo aquilo que há de mais bonito nesta vida,

que cresce, cresce, cresce

e se torna árvore sem medo,

em cuja sombra me calo e envelheço.

À noite, quando os pássaros voltam aos seus ninhos,

quando frio se faz presente,

tento recordar uma velha cantiga de viver;

e eis que o tempo, a vida, tudo, de repente, se transforma em água,

salobra, calma, lúcida;

e eu, pobre criança mergulhada no mistério,

me transubstancio também em Mar Absoluto.




maio 28, 2021 No Comments

Palavras ao vento, perdidas no tempo;

resquícios e relíquias

de almas que não se encontram,

de vidas que não se cruzam.

Palavras de desalento e desencanto,

ferinas, amargas,

sinônimas de cicatriz, dor e pranto.

Palavras sussurradas ao pé do ouvido,

com carinho e cuidado,

que reverberam nos sedentos corações.

Palavras secretas, inconfessáveis,

guardadas a sete chaves.

Palavras de gratidão e prece,

inaudíveis, transcendentes.

Palavras e seus significados semânticos

e românticos.

Palavras: Caos e Silêncio.




maio 26, 2021 No Comments

Não há mais o que dizer, fazer;

dor, saudade e luto se misturam

com a perplexidade deste momento.

Mês de maio, frio, chuva, silêncio...

Ainda ontem você estava aqui,

simples e amável,

me ensinando as coisas da vida.

Ainda ontem você me embalava

com canções de carinho e aconchego.

Hoje meus olhos estão embaçados,

meus dedos, trêmulos,

minha vida, triste.

***

O vento da estação sopra mais uma vez,

e tudo parece tão igual – quase normal –,

as mesmas pessoas, as mesmas ruas,

e as mesmas conversas.

Tudo tão igual...




maio 26, 2021 No Comments

Minhas palavras se evaporam

Meus pensamentos se diluem

Mergulho cada vez mais fundo

Miro a última ilusão desfeita

Maldigo paixões arrefecidas

Mastros e velas destruídas

Naufrágio além do horizonte

Nebulosas memórias e tempestades

Nítidas angústias ao vento do norte

Nada, porém, que me faça desistir

Ondas, fluxo, vida e calmaria

O tempo e amor restantes.




maio 22, 2021 No Comments

Eras tu ontem

– não poderia ser mais ninguém –,

seguindo os meus passos,

revolucionando a minha realidade.

***

Estás nos devaneios que tenho,

nos pobres versos que aqui despejo,

nas alamedas e canteiros do meu labiríntico coração.

Vejo-te em tudo, mas nunca diretamente,

nunca tête-à-tête.

***

És a folha ao vento no outono,

o canto da ave liberta na primavera,

o brilho de um olhar que transcende qualquer estação.

És ritmo, passagem, tempo:

aurora e crepúsculo.

som e silêncio.




maio 21, 2021 No Comments

Versos que componho,

decomponho,

e que me rasgam a pele.

Versos, sim, dilacerantes,

delirantes,

que brotam dos rochedos,

dos ermos sítios da solidão.

Versos que gritam e se evaporam

na noite silenciosa do mundo.

E no baço espelho da vida,

uma estranha face,

uma quimérica imagem,

um vulto desesperançado.

Seja na frente ou no verso:

páginas e páginas cobertas por uma prosa antipoética cheia de rabiscos, vozes e palavras desconexas.




maio 18, 2021 No Comments

Um banco, uma praça,

em uma tarde dourada,

eis que te vejo do nada,

com luz, perfume e graça.

***

Uma memória emoldurada:

uma conversa que enlaça;

pássaros a fazer arruaça;

vida, sinais e uma nova florada.

***

De tudo, o que fica é a saudade,

que cresce sempre à tardinha,

lânguida, contida e evanescente.

***

Cresci nesta simpática cidade,

– com sua grama bem cortadinha –,

contemplando o mesmo sol poente.




maio 16, 2021 No Comments

O inverno chegou,

mas não como prenúncio de morte,

e sim como introspectivo consorte,

taciturno companheiro de clausura.

Eis um tempo de reflexão,

onde o frio nos pega pela mão

e nos leva rumo ao abismo do que somos.

Sim, o inverno chegou,

e aqui chegamos nós também,

cegos diante de tanta luz,

tentando achar alguma resposta,

alguma saída.

E, na transitoriedade de todas as coisas,

para aqueles que não fogem da estação,

o que fica mesmo é um profundo respeito pela vida.




maio 15, 2021 No Comments

Quero escrever um poeminha à toa,

um poeminha vagabundo,

desses que não dizem nada,

que estão aí só por estar,

sem pretensão alguma,

sem razão de ser:

– Que poeminha bom é estar junto a você! –





maio 08, 2021 No Comments

A vida pode ser mais do que isso,

mais do que dores e cansaço,

mais do que política e descaso.

Há de haver um compromisso,

uma vontade de fazer diferente,

de não ser como toda essa gente

que só faz o que é preciso.

Está mais do que na hora

de vivenciar a poesia,

esta linda ave canora,

à luz do dia a dia.

E para além das palavras,

um aroma doce e suave,

uma canção sempiterna

e um desejo de encontro.




maio 08, 2021 No Comments

Hoje eu caminhei pela cidade:

dores escondidas em cada esquina,

solidões anônimas nos bancos da praça,

jardins da vida ressecados,

muros, grades, lanças e portões.

Não quero ser poeta das coisas mortas;

melhor dar mais uma volta.




maio 07, 2021 No Comments

Taça de cristal despedaçada,

flores murchas,

móveis empoeirados,

enfim, imagens do que restou.

***

Eu mal consigo sentir qualquer gosto ou odor,

e o ar ao meu redor parece rarefeito e indiferente;

ah, os pequenos sufocamentos do dia a dia.

***

Tento outra vez atravessar uma parede de ressentimentos e falta de amor.

***

Espero um mais pouco,

olho para todos os lados,

e sinto a brisa suave da manhã em meu rosto,

o cheiro da primavera em flor.

***

O futuro não se mostra excitante,

e o passado ruge como uma fugidia e capciosa lembrança.

Tento não pensar em nada

– sei que sou poeira ao vento –;

quero apenas fincar os meus pés no possível, no palpável. 




maio 02, 2021 No Comments
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