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O poema que me escreve

Sobre escrever poemas, eu destacaria três pontos — embora nenhum deles sozinho explique completamente tal entrega: muita leitura — leia de tudo, poesia, prosa, contos e biografias; muita prática — muita escrita e reescrita, até a exaustão; e muita revisão. Algumas vezes o poema vem sem pedir passagem, na sua forma bruta, sem precisar de nenhuma lapidação, mas isso é raro. Na maioria das vezes, trata-se de um trabalho árduo, de artesão das palavras mesmo: ler e reler, analisar qual palavra soa melhor no contexto, qual tem o melhor encaixe e a precisão desejada; rever a sintaxe, repensar a pontuação (ou a ausência dela); acrescentar versos, modificá-los ou mesmo riscá-los sem piedade.

Muitas vezes me vi às voltas com um poema, digladiando com ele, tentando vencê-lo para, no final, perceber que sairia derrotado mais uma vez. É uma confecção demorada, cheia de remendos e retalhos, mas, quando tudo se ajeita, é muito gratificante, pois se trata de um pouco de si no papel, em versos.

E é aí que o processo muda de cor.

O poema não é exatamente um reflexo fidedigno do que somos — afinal, como diria Pessoa, “o poeta é um fingidor” —, mas é uma experiência de doação: compartilho um pouco da minha história, dos meus caminhos, do meu sentir no mundo, e o leitor acolhe tudo isso e o ressignifica, deixando que ressoe de acordo com seus saberes, vivências e trajetórias.




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