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Mente

Silêncio... Uma casa vazia... Vários cômodos inexplorados... Algumas luzes atravessam estreitas janelas; ouço alguns ruídos esparsos. Não há nenhuma porta. Tento descobrir o que se passa lá fora, e, com as poucas informações que obtenho, rascunho o meu próprio universo.

Conhecer alguém...

Se eu for muito profundo e sincero, eu te assustarei. Se eu for superficial, nunca nos conheceremos. O melhor caminho é o progressivo e paulatino; um segredo de cada vez, uma revelação após a outra. Assim o encanto da descoberta durará mais, e os sustos, evidentemente, serão menores. Sempre, por mais que desvelemos o próximo, haverá uma zona impermeável e desconhecida, um recôndito lugar onde nunca poderemos adentrar; o outro continuará a ser para nós um eterno e fascinante mistério.

Passione

A garota do colégio... A moça do supermercado... A estagiária no Japão... Poderia ser qualquer pessoa. De repente, como num passe de mágica, alguém se destaca na multidão, e o ordinário se torna especial, vital até. Entretanto, neste caso, não foi o outro que mudou, mas sim o nosso olhar.

Marília de si mesma

Nem de Dirceu, nem de Tomás, nem du Bocage … Marília mudou; os tempos mudaram. Ela pode agora fazer suas próprias escolhas, ser aquilo que quiser. Marília é um universo; Marília é independente; Marília é uma mulher. Despida do ideal e dos devaneios da paixão, ela é um ser que possui vícios e virtudes, que comete erros e acertos, que se apaixona, sofre e se arrepende. ... Marília – agora e para sempre – de si mesma, e de mais ninguém.

Ode à Solidão

De tudo, de todas as coisas da vida, me restou apenas você, oh, minha inseparável e agridoce amiga. Você sempre esteve ao meu lado nos bons e nos maus momentos. A nossa relação, que a princípio foi marcada por um forte sentimento de repulsa, agora se reveste de uma cumplicidade diáfana; hoje em dia, nos entendemos tão bem. Somos indissociáveis, reflexos de um mesmo ser; você está em mim, e um dia – num futuro quiçá distante – eu estarei inteiramente com você.

Depuração

O tempo depura o olhar, aclara a razão, ameniza as tempestades. Aquilo que parecia complicado mostra-se simples; o que parecia espinhoso se suaviza. O desespero passa; a calmaria abraça; o amor abrasa; a jornada continua. O mundo aos nossos olhos, aos poucos, se transforma. A vida não se torna nem pior nem melhor, apenas um pouco mais suportável.

Amada, Amante – Amaro Amor

Que esse terno eterno momento nunca se apague de minha memória: uma voz maviosa, um jeito gentil, um ser de encanto, e o meu coração a mil! Seu falar me arrebata, seu silêncio me inebria; vivo sob esta nova chibata dia e noite, noite e dia. Dos sofrimentos do amor pensei já estar curado... Ledo engano meu, a magia mora ao lado.

Fênix

A paixão arrefece; o sentimento esmorece. Aquele ar essencial, único, sem o qual, tempos atrás, não conseguiríamos viver, torna-se sufocante, asfixiante até. A indiferença cresce par a par com o esquecimento. Chega-se então o dia em que, por mais que nos esforcemos, não conseguimos recuperar o brilho primeiro, o entusiasmo de outrora. O outro mudou; nós não somos mais os mesmos. Tudo agora é diferente; a vida toma outro rumo. E das cinzas nasce um novo mundo.

Ser

Sê-lo-ia, se possível fosse, da alvorada da vida à undécima hora, o sonho outrora sonhado por todo aquele que, algures, um dia, na névoa temporal, tenha loucamente se desesperado. Ser e Tempo Realidade e Magia Vida e expectativas

Abismo

Eu te falo sobre muitas coisas, mas tu não me respondes. Tu queres que eu te compreenda totalmente, que compartilhe de teus sonhos, porém, infelizmente, por mais que eu me esforce, não consigo desvendar os mistérios do teu sensível universo. A reciprocidade tão almejada pouco alcança; vivemos separados por uma cortina tênue e instransponível. Eu procuro o meu reflexo em ti, e tu procuras a tua essência em mim. Separados porém unidos, vivemos eternamente equidistantes. No entanto, no silêncio amoroso, na magia inexplicável da vida, sempre nos encontramos.

As batalhas napoleônicas do dia a dia

A cada dia que passa, eu sobrevivo; com as minhas contradições, meus sonhos e minhas mentiras, prossigo. Busco conquistar o glorioso Austerlitz, evitando a todo custo o Waterloo fatídico, sem nunca pensar em Santa Helena. Coragem, medo, perigo, superação, tudo se mistura no tédio cotidiano; o inverno se acentua com o passar dos anos. O vencedor sempre fica com tudo; a derrota pode ser honrosa; a vida é o que fazemos no agora.

Norte

Sem um norte, sem uma direção, sem um sentido, a nossa vida já é morte, morte em vida.

Em busca do tempo perdido

No retrovisor da memória, vejo fragmentos, vestígios, tristes sombras de outrora. Sinto o arrefecimento progressivo das partes que não conseguem mais formar um todo; percebo, a contragosto, o lento desmoronamento daquilo que julgava um grande arcabouço. Busco reconstituir imagens e lembranças, reviver sentimentos, sabores e sensações... Tudo rapidamente se desmancha ao meu toque; a fumaça do chá quente, afetos, reminiscências e norte.

Hiato

Átomos, matéria, vácuo, planetas, sóis, galáxias... Uma eternidade transcorre sem que ninguém perceba nada. Piscadelas rápidas de seres sencientes; um brilho pálido de inteligência. Brevemente, neste ledo instante, um universo de possibilidades incríveis se descortina para logo depois se esconder em outra eternidade. Átomos, matéria, vácuo, planetas, sóis, galáxias...

O que queremos?

Queremos nos apaixonar. Queremos viver para sempre. Queremos, sobretudo, ser felizes. Queremos evitar os sofrimentos, as dores e as doenças. Queremos ter sempre aqueles que amamos ao nosso lado. Queremos que todas as nossas vontades sejam satisfeitas. Queremos os nossos amigos sempre por perto. Queremos um mundo melhor... Queremos tudo; no entanto, obtemos tão pouco. Entre sonhos fugidios e desilusões, diante da fugacidade da vida, precisamos rever nossos conceitos, aceitar nossas limitações. É valorizando aquilo que temos, lutando honestamente por aquilo que sonhamos, que encontraremos a felicidade possível.

O Homem Sem Convicções

Evolução, involução, degenerescência; eis que surge uma nova espécie: o Homo camaleonicus. Descendente direto do Homo politicus, ele se adapta facilmente a quase todos os habitats , principalmente os mais moralmente insalubres. Homem de variadas cores e matizes; homem sem escrúpulos nem pudores; homem sem virtudes, valores e princípios. Alguns alegam que tal espécie de homem sempre existiu; no entanto, esse não é o problema essencial, o mais preocupante é a sua altíssima taxa de reprodução.

Normalissimamente

Fora das normas e dos padrões, invento a minha própria normatividade. Sou um insensato entre os sãos, e um são entre os insensatos. Sou um expatriado de pátria alguma; um viandante sincero, caminhando rumo ao ermo descampado; alguém que procura aquilo que nunca será encontrado.

Valparaíso

Sentir pela última vez o pacífico oceano; alcançar, desta feita, a ilha pascoal; mirar o vasto, infinito horizonte. Muitos caminhos, muitas possibilidades; tantas agruras e desventuras; esperanças, amizades, amores e desencontros. O nosso tempo é finito; nossa jornada, efêmera. Contemplando o inominável, sob uma brisa suave, descanso despreocupadamente.

Dualismos

A dúvida é desconcertante; a certeza, reconfortante. O caos é insuportável; a ordem, indispensável. A fé é desmedida; a razão, sempre contida. A ilusão é benfazeja; a realidade ninguém deseja! A morte é prorrogada; a vida, prolongada.

Caixa de Pandora

Ruas desertas; casas destruídas; lixo, entulho e desolação. Cães esfomeados; esperança perdida; caos, morte e destruição. O que fazer quando tudo foi consumido? Como recomeçar? Quando sorrir parece um sacrilégio, quando o luto é maior que tudo, quando o normal nos parece estranho, nestes tristes momentos, como não naufragar? É preciso ouvir o som do silêncio, a voz muda que, dentro de cada um de nós, grita: “Continua! Continua!”

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