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Apatia

Alterno entre a apatia e a irritação, depois varro as migalhas de afeto para debaixo do tapete. Você não está aqui comigo, ninguém está; são apenas telas escuras refletindo pálidos reflexos. É sempre a mesma coisa, dia após dia, um verdadeiro freak show : guerra, pandemia, fake news , ignorância travestida de militância. E eu olho nos seus olhos mais uma vez, mas você não me vê. *** Um silêncio aterrador se esconde por trás do espelho.

Um dia

Um dia sem amor, apenas um... *** Por todos os lados, pessoas que nunca saem do personagem, que nunca abandonam o script ; ficções de uma vida heroica, cheia de valores e virtudes, em um mundo caótico e sem sentido; facções que se digladiam, dia após dia, incessantemente, por um naco qualquer que seja de fama e poder. *** Um dia de loucura e frêmito, um dia de ousadia; bem, quem sabe um dia.

Cotidiano

Nem tudo é poesia, mas bem que poderia ser, ser diferente, diferente e contagiante. *** Caminhar descalço na grama, e não sair esbravejando discursos de ódio; ser gentil e atencioso, e não ter certezas absolutas; parar, respirar fundo e ver com novos olhos, e não seguir insanamente um ressentimento anacrônico. *** A lua ainda brilha no céu matutino, e o céu está opressivamente azul; tudo parece tão igual na superfície das coisas.

Disparate

Debaixo do sol ofuscante do meio-dia, segredos que não posso ver, verdades que não posso tocar. Nas retas curvilíneas das perguntas sem respostas, fantasmas e sombras, correntes e grilhões. Estilhaços por todos os lados; reflexos de uma existência sem sentido. O absurdo vai crescendo aos poucos, como um musgo, tomando conta de tudo. *** E o caminho está fechado, obliterado, pra nós.

Ouroboros

Para além do mundo físico, deixando para trás traumas e contradições, eu vislumbro vida e destruição, morte e renascimento. Há um oceano dentro de mim, uma natureza cruel e indiferente, um ciclo infinito de caos e ordenamento. Sinto um esvaziamento completo, um silêncio obliterante; tudo parece tão sereno e doloroso, tão puramente apocalíptico. *** Lábios frios, falso horizonte, águas calmas; ah, caro Caronte. ∞

O Fim do Mundo

Crisântemos, Escombros, Estática Nenhuma música no rádio, nenhum reality show na televisão, nem mesmo memes engraçados nas redes sociais ou vídeos de gatinhos fofinhos no Youtube ; nada, nada mais consegue reter minha atenção. Por fora, no mundo exterior, tudo está idêntico ao que sempre foi; as mesmas piadas tristes, os mesmos homens enfadonhos. Já por dentro, no meu mundinho interior, vejo crisântemos em meio aos escombros do caminho, ouço a estática que nada significa, pois simplesmente não precisa significar nada. Estou cansado dos profetas da obviedade, das canções de amor daqueles que não amam, da emotividade incontida que a ninguém comove. *** O fim do mundo pode começar a qualquer momento: pode ser uma nova chance ou apenas dor e lamento.   memento mori

Pequenas Grandes Metas

Livrar-se da feiura e romper toda clausura; seguir os caminhos da beleza e não ter mais qualquer certeza, sobretudo certeza devoradora e absoluta; entrar na ignota gruta e sair de lá diferente; gritar com a atrasada gente e nunca, jamais, em hipótese alguma, nunquinha mesmo, olhar para trás.

Randomicidade

Nada, absolutamente nada, antes ou depois. No meio, dor e amor imensos. Sem pátria nem cátedra, apenas láudano e pântano. Vapores translúcidos e sóis multicolores onde garotos e garotas bonitas vagam, perdidos. Um sulco aberto na alma, um vazio preexistente e, no mais, pura aleatoriedade.

Compondo versos

Aqui está a minha vida, talvez não a vivida, mas a vida inventada, emoldurada, transfigurada.   Busca constante por verossimilhança, tentativa de soar o mais plausível possível, de fazer do falso, verdadeiro, do real, surreal. Comboio de emoções não vividas, mas também de dores excruciantes, de sentimentos extasiantes.   Eu componho versos singelos, escrevo sobre dragões e castelos, sobre a vida e seus flagelos, tudo isso tão somente para fortalecer os elos.

A Estrada da Desolação

O passado parece irrelevante, e a minha mente vaga no além-horizonte. Fragmentos de uma possível existência, caminhos bifurcados e incompreensíveis, ledos enganos que nos empurram para frente, mas nenhuma seta ou indicação. Meus pés sangram à beira do caminho, e mais uma tempestade se aproxima; preciso continuar, não posso desistir, mesmo não tendo para onde ir.

Janeiro

Janeiro – quente e chuvoso –, que sempre quer mais, que nunca se satisfaz. Lânguidas tardes que não terminam; pessoas que não dizem nada de interessante. Tédio nas noites modorrentas. O céu está mais uma vez carregado de nuvens escuras, e aqui dentro também está escuro. Chuvas torrenciais, alagamentos, dilúvio.

Selvagem até o âmago

Uma delicadeza transgressora Uma carícia displicente A Flama, a Lama, o Medo Solo agreste da Alma *** Muitas vezes a poesia não flui, e as musas se calam: insipidez e escuridão *** Sofrimento, cinzas, mais sofrimento Palavras em um dialeto estranho Flores murchas no canto da sala Imagens, sons, cheiros – inquietude – *** sonhos dispersos e papéis avulsos

guerras secretas

Vestida para matar, ela cultiva a melancolia, a loucura, a ira, a Esperança Radioativa. Mesmo vagando por um mundo de conformismo e falta de imaginação, nada a impede de fazer o que quer, de ser simplesmente sonho, desejo, realidade.

Bossa...

Eu canto um canto triste, cheio de saudade. Não tenho um cantinho que seja só meu nem mesmo tenho um violão; só o que me resta são os meus versos. *** Carrego comigo um sentimento sem nome, um aperto, um descontentamento, uma devoção perpétua aos Filósofos e Poetas nascidos para cantar a tragédia da condição humana. *** Eu desafino ao ver o sonho dilacerado, desafino ao sentir a relva molhada, o musgo frio, a lua, o abismo, o Nada. *** Palpitações, euforia, desejo, loucura e estranhamento; efêmeros cânticos que me levam à eternidade.

Oblívio

Há um tênue fio que une todas as coisas vivas, e há também um quê de empatia e amor que facilmente se dissolve, seja por pura inconsistência humana ou pela simples ação do tempo; transformações contínuas que nos levam para longe de nós mesmos, que nos fazem estranhos, loucos, habitando um velho e mesmo invólucro. Aquilo que parecia ser feito para durar por toda uma vida, aquilo que nunca se dissiparia – nem mesmo quando os últimos poetas caminhassem por ruas desertas –, mostra-se falível, frágil e evanescente. Muitas vezes uma sensação absurda começa a crescer dentro do peito, uma vontade de acabar com tudo, um desejo secreto de esquecer e ser esquecido; e outras tantas vezes uma estranha vontade de resistir, de dançar descalço à beira do abismo, brota com uma força imensa, incontrolável.

Del Rey

Stradivarius, Fabergé eu e você Ultraviolência nascidos para morrer Um coração selvagem ecos de uma tristeza profunda   No verão, sob um céu azul imenso, vejo rastros de aviões perdidos, trilhas de condensação que me revelam a evanescente concretude do mundo.   Cinzas, Amor, Arte... da ilusão um desejo insano pela vida Paraíso, Sol, pó da Estrada caminhos incertos que me destroem   A migração dos flamingos natureza incongruente das coisas E uma antiga canção você e eu

Ciclos

Silêncio. Eu tentei, juro que tentei, mas você não me ouviu, nem mesmo disfarçou a sua indiferença.   Desespero. Nas tristes horas da noite, eu vislumbro o açoite da desesperança, dilacerando sonhos e expectativas.   Solidão. As cortinas estão fechadas, e meu corpo, definhando, angustia-se com o nada que me consome.   Aurora. São tantas as portas, tantos os caminhos da solidão, ou do coração; tento apenas quebrar o ciclo uma última vez.

Sem sinal

Desconectado, fora de área, sem serviço... Na noite, incomunicável, ouço apenas silêncio, dor e pranto. Você não está mais aqui. Na verdade, quase todos já foram embora. E, por incrível que pareça, o desespero ainda não tomou conta de mim. Não vivo uma vida cor-de-rosa, não fico cantarolando canções de amor e ódio, mas nem por isso desmereço o pouco que tenho; há certas coisas que não eram mesmo para ser. Bem, sei lá. Tento mais uma vez ligar pra você, mandar uma mensagem, um áudio... (Sim, eu sei: Pura incongruência!) E continuo desconectado, fora de área, sem serviço...

Amor & Sentido

Se eu não amasse tanto a vida, já teria partido sem destino, fincado minha bandeira no solo infértil da amargura, abandonado de uma vez toda e qualquer canção de amor. Ah, se eu não amasse, se de tudo eu duvidasse, quão mísera seria a minha existência, quão patéticos seriam os meus dias. Há algo de muito leve, transbordante, no ato de doar-se; sair de si mesmo é como abrir asas e voar, é descobrir o encanto ao redor. Doce pode ser a vida para além dos muros, grades e cercas de arame farpado que muitas vezes edificamos para nos proteger.

Casa vazia

É o fim. É o fim de tudo, eu sei. Quando eu voltar, você não estará mais lá; casa vazia, coração em pranto, e nas mãos o açoite da realidade. Eu me arrastarei por entre cômodos e incômodos, calado, ouvindo palavras que você nunca disse, tentando, em vão, me iludir. Nas estantes, livros cheios de traços e traças; nas paredes, fotografias em preto e branco. As gavetas estarão vazias, a cama estará desarrumada, minha vida, desaprumada. O tempo começará a desmoronar, e eu me sentirei despatriado, perdido dentro de mim, caminhando rumo a lugar nenhum.

Jardim das Acácias

Rosas desvairadas, crisântemos tristonhos, lírios orgulhosos, gerânios obstinados; sim, o teu jardim tem muitas flores. *** Por alamedas bem cuidadas, por campos de amoras silvestres, vou djavaneando o meu amor, desaguando o que sinto no oceano sem fim da insensatez, cantando as glórias de um céu azulzinho, de uma correnteza lilás e outras cores. *** Vejo uma semente crescer no meu coração, pressinto no ar, mesmo neste dia frio, uma força singela, coisa mais bela: uma vida ao teu lado cheia de novos sabores.

À procura de um poema

Às vezes rimo, às vezes não rimo, e logo depois me vejo correndo descalço pelos campos da meninice, afagando sonhos e versos, polinizando amorosas flores. Aos meus pés, uma planta pequenina, frágil como tudo aquilo que há de mais bonito nesta vida, que cresce, cresce, cresce e se torna árvore sem medo, em cuja sombra me calo e envelheço. À noite, quando os pássaros voltam aos seus ninhos, quando frio se faz presente, tento recordar uma velha cantiga de viver; e eis que o tempo, a vida, tudo, de repente, se transforma em água, salobra, calma, lúcida; e eu, pobre criança mergulhada no mistério, me transubstancio também em Mar Absoluto.

Relicário

Palavras ao vento, perdidas no tempo; resquícios e relíquias de almas que não se encontram, de vidas que não se cruzam. Palavras de desalento e desencanto, ferinas, amargas, sinônimas de cicatriz, dor e pranto. Palavras sussurradas ao pé do ouvido, com carinho e cuidado, que reverberam nos sedentos corações. Palavras secretas, inconfessáveis, guardadas a sete chaves. Palavras de gratidão e prece, inaudíveis, transcendentes. Palavras e seus significados semânticos e românticos. Palavras: Caos e Silêncio.

Saudade

Não há mais o que dizer, fazer; dor, saudade e luto se misturam com a perplexidade deste momento. Mês de maio, frio, chuva, silêncio... Ainda ontem você estava aqui, simples e amável, me ensinando as coisas da vida. Ainda ontem você me embalava com canções de carinho e aconchego. Hoje meus olhos estão embaçados, meus dedos, trêmulos, minha vida, triste. *** O vento da estação sopra mais uma vez, e tudo parece tão igual – quase normal –, as mesmas pessoas, as mesmas ruas, e as mesmas conversas. Tudo tão igual...

As marés da vida

Minhas palavras se evaporam Meus pensamentos se diluem Mergulho cada vez mais fundo Miro a última ilusão desfeita Maldigo paixões arrefecidas Mastros e velas destruídas Naufrágio além do horizonte Nebulosas memórias e tempestades Nítidas angústias ao vento do norte Nada, porém, que me faça desistir Ondas, fluxo, vida e calmaria O tempo e amor restantes.

Canteiros

Eras tu ontem – não poderia ser mais ninguém –, seguindo os meus passos, revolucionando a minha realidade. *** Estás nos devaneios que tenho, nos pobres versos que aqui despejo, nas alamedas e canteiros do meu labiríntico coração. Vejo-te em tudo, mas nunca diretamente, nunca tête-à-tête. *** És a folha ao vento no outono, o canto da ave liberta na primavera, o brilho de um olhar que transcende qualquer estação. És ritmo, passagem, tempo: aurora e crepúsculo. som e silêncio.

Frente e Verso

Versos que componho, decomponho, e que me rasgam a pele. Versos, sim, dilacerantes, delirantes, que brotam dos rochedos, dos ermos sítios da solidão. Versos que gritam e se evaporam na noite silenciosa do mundo. E no baço espelho da vida, uma estranha face, uma quimérica imagem, um vulto desesperançado. Seja na frente ou no verso: páginas e páginas cobertas por uma prosa antipoética cheia de rabiscos, vozes e palavras desconexas.

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