Pular para o conteúdo principal

Postagens

O degelo do Tempo

Gota a gota e calmamente, um iceberg de potencialidades perde a sua suposta solidez, liquefazendo-se no presente. Nada é capaz de deter tal processo; o aquecimento é inevitável. Fica então aqui a nossa única certeza: o líquido que aos poucos se derrama deve ser muito bem aproveitado; a água do degelo formará um rio, e este rio, por consequência, desaguará na vastidão oceânica.

Os bons costumes morreram... de anemia.

O que nos diferencia dos outros animais não é somente a nossa habilidade cognitiva, a nossa racionalidade, mas também – e principalmente – a capacidade que temos de fazer coisas que vão na direção contrária de nossos impulsos naturais mais básicos e primitivos. É muito importante que as pessoas sejam boas, contudo, como bem sabemos, essa não é a regra; sucumbimos muitas vezes a instintos nada civilizados. Precisamos, portanto, de um conjunto de valores nos quais possamos nos orientar. Precisamos saber que existem limites. Precisamos valorizar os bons costumes e também a boa educação, que, assim como as virtudes, não nos são inatas; devemos continuamente reforçá-las em nossa rotina diária para que nos tornemos, com a prática, pessoas melhores. No entanto, há aqui uma obviedade: tudo aquilo que não é ensinado não nasce, tudo aquilo que não é cuidado não cresce, não se desenvolve. E assim de anemia morre o rebento moral que, infelizmente, mesmo que não definhe no nascedouro, poucas chan...

Monarca

Repleta de letícia plena, em meio a um jardim de flores caprichosas, ela borboleteia serena entre lírios e rosas, gerânios e begônias, hortênsias e bromélias, violetas e tulipas, cravos e orquídeas. No Jardim da Criação, ela é a Monarca, aquela das majestosas asas douradas. Borboleta-monarca (Danaus plexippus)

Liberdade

O passarinho voa, atravessa porteira, riacho, estrada e monte, chegando onde bem queira, sem ter quem o confronte. Livre, seu canto entoa, e despreocupado rápido anuncia, no belo verde prado, majestosa alegria. Longe, numa lagoa, descansa calmamente; precisa forte estar: quer mostrar o que sente, quer alcançar o mar.

Lastro

Homero, Safo, Anacreonte, Virgílio, Horácio, Ovídio, Dante, Petrarca e o grã Camões, Juntos, cantando edificaram, Com engenho e arte, novo Reino Que pioneira senda abriu Aos que, seguindo sumo exemplo, Nobre arte ao mundo anunciaram. Tal legado só foi possível Porque não perderam o lastro; Só se pode o novo singrar Com um bom, velho e firme mastro. “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” (Isaac Newton)

O Sagrado e o Profano

Profanar é um verbo que, hoje em dia, está muito em voga. No entanto, acautelemo-nos. Quando retiramos o sagrado de seu devido lugar, tornando tudo mundano, perdemos a noção da necessidade de uma hierarquia de valores. Quando tudo é importante, quando tudo está no mesmo patamar, nada é verdadeiramente importante. Desta maneira, a banalização se infiltra por todos os poros da vida.

A Morte da Arte!?

Tolos! Eis o que vós sois: Engodo artístico, decomposição e nada. Esqueceram-se da tradição e destruíram tudo o que encontraram; mergulhados em um luto permanente, abandonaram de uma vez o culto ao belo. Artistas infantilizados produzem a sua arte “inovadora”: transgredir por transgredir, desconstruir por desconstruir. Conservar é, para eles, um verbo abominável. Porém, muito mais abominável ainda é “arte” que produzem.

Moralis

Agir conforme as próprias vontades não requer esforço; reprimir essas vontades, sim. O mal se prolifera nos pântanos da leniência e da tibieza, enquanto que, para se fazer o bem, é necessário muita labuta, muitos esforços, muita dedicação. Deixado em seu estado natural, o homem não é belo nem justo; da destruição total do passado não surgirá um futuro augusto. Uma reengenharia social que desconheça completamente a nossa íntima natureza só piorará tudo. A nossa luta deve ser constante! Devemos buscar a perfeição, mesmo estando cientes de nossas imperfeições, mesmo sabendo que se trata, no fim das contas, de uma missão impossível.

Chronos

Tudo se perde com o tempo: perde-se a vergonha, perde-se a fantasia, perde-se a alegria, perde-se a vitalidade, perde-se, aos poucos, a esperança. Alguns perdem até os cabelos, mas não a barriga. E, se longeva a vida for, perdemos, inclusive, as pessoas que mais amamos. Tal processo, apesar de doloroso, é imprescindível; perder é, antes de tudo, amadurecer. É preciso deixar para trás toda a carga inútil, todo o peso morto; seguir em frente, até que não reste mais nada; só assim conseguiremos chegar, com altivez, ao fim desta jornada.

Cachoeira

Aos borbotões, o rio caudaloso da vida, de forma repentina e abrupta, tem o seu calmo curso interrompido por uma queda inesperada. Ao longe, ouve-se o fragor desesperado das águas agitadas. Porém, aos poucos, tudo volta ao normal. O Mar, este destino último, aguarda impassivelmente.

La Vie En Rose

Oh, Edith, não, eu não me arrependo de nada. A vida, esta belle chanson , fugidia e efêmera, não deve ser preenchida por lamentos daquilo que poderia ter sido e não foi . A hora da estrela sempre chega um dia... Melhor olvidar as mágoas, viver plenamente, sem histeria. Nem tudo podemos consertar. O Destino é cego. C'est la vie!

Alfarrábio

Verborragia, altercação, tergiversação... Impropério, invectiva, vitupério... Lúgubre, soturno, tétrico... Fescenino, lascivo, libidinoso... Hodierno, arcaico, ubíquo... Delir, obliterar, esmaecer... “... que estranha potência, a vossa!”

Vicissitudes

A certeza de que não há certeza alguma, juntamente com o temor da contingência e o pavor de que o acaso resulte em ocaso, acaba paralisando e engessando nossas vidas. Obstáculos são feitos para serem superados, eis uma frase pra lá de clichê, mas a vida, não nos enganemos, é um grande clichê. Não é fácil transmutar o velho em novo a cada dia; encontrar subterfúgios para contornar o tédio cotidiano. Realmente, não há nada novo debaixo do sol , por isso é preciso ter coragem e lutar até o fim.

Desvanecer

Foi o desejo que me guiou até aqui. Sinto-me liberado de toda uma carga, tiraram-me os grilhões que me prendiam, mas a sensação que sinto neste momento é muito mais do que de liberdade. Na realidade, o que sinto é um grande vazio. Tenho a impressão de que algo grandioso esteve próximo de acontecer. Não consegui nada do que queria, tudo falhou. Minha existência quase... No entanto, não tenho mais o que esperar, cheguei ao fim.

Sublimação

A única coisa que posso fazer é sublimar a dor que sinto em meu peito, fazer com que esta angústia incessante, que me persegue continuamente, seja expurgada através desta minha medíocre expressão. O mundo parece que vai me esmagar, porém, não me esmaga, e, desta forma, me destrói lentamente, fazendo-me afundar em meu mundo particular. Estou sufocado por meus próprios pensamentos e por minha própria dor existencial. Não aguento mais, estou louco, busco desesperadamente uma saída, mas nada encontro; não tenho onde me segurar, estou afundando e, aos poucos, desaparecendo... Para sempre vivo emudecido e esquecido por todos aqueles que, um dia, disseram me amar. Viver é, antes de tudo, um ato de puro masoquismo, porém, mesmo na dor, há neste processo uma beleza indizível e majestosa.

Poeira das Estrelas

Vida: Partícula infinitesimal suspensa no oceano do espaço-tempo, sofrendo variações quânticas em nível subatômico, regida por forças ainda desconhecidas pela ciência; eterno mistério patente e, ao mesmo tempo, latente. Na vastidão incomensurável do Universo, seguimos a nossa estrela. No pálido ponto azul, nos alegramos e nos aborrecemos, aprendemos e brigamos, crescemos e morremos. Relembrando um antigo filósofo, apesar de tudo, ainda somos a medida de todas as coisas. Parêntese: Realidade objetiva realmente existe, mas preferimos muito mais nadar nas águas da subjetividade.

Criticidade, sim; cretinice, não!

Na era do conhecimento wikipédico, sabe-se de tudo um pouco, e tão pouco de tudo! Vivemos num mundo repleto de informações isoladas e desfragmentadas que, no mais das vezes, acabam nunca se agregando em um corpo maior de saberes. A superficialidade ganhou ares de totalidade; ninguém mais quer mergulhar em águas mais profundas. Todos estão satisfeitos com o pouco que compreendem do mundo. Filosofia, ciência, política, economia, história, artes, tudo agora está coberto por uma espessa camada de poeira.   "A Primavera" de Sandro Botticelli

Finitude

averno, inverno, ocaso efêmera jornada entre dois abismos luta desenfreada por mais vida despedida sem aviso-prévio sonhos, suor e lágrimas imanência e transcendência História, ciência, arte, amor, tudo em busca da imortalidade.

Demagogia, eu não quero uma pra viver!

No mundo em que vivemos (e a História não se esforça em me desmentir), parece que aqueles que discursam sobre a paz são quase sempre os primeiros a se armarem para a guerra; que aqueles que defendem a liberdade são, notadamente, os mais opressores; que aqueles que se autointitulam portadores únicos da virtude e de uma suposta superioridade moral são impreterivelmente os mais execráveis.

Passado

Memória e imaginação. Ilusão e realidade. Uma construção narrativa, um vívido simulacro formado por quiméricas e reais lembranças. Criamos sempre um mundo à parte... Todas as nossas tentativas de reviver o passado provocam uma fratura no tecido do real, gerando, desta forma, uma nova história, uma nova interpretação, que é pautada por sentimentos e emoções, alegrias e lágrimas, e, principalmente, por uma vontade inexorável de preservação.

Compartilhe: