Aquilo
que éramos no verão passado já não nos pertence mais; o eu de agora não é o
mesmo de outrora. Eis que nos deparamos com o paradoxal mistério de sermos aquela
velha pessoa de sempre, sendo que, na realidade, tal pessoa já não existe mais.
Bem, aconteceu o que acontece com todo mundo, a vida; traumas, sonhos
desfeitos, separações e reencontros, idas e vindas, muitas decepções. Não é
fácil acostumar-se, sentimos que há algo estranho no ar, alguma coisa fora do
lugar, nada parece normal, até que, com o tempo, temos que aceitar que tudo
isso acaba produzindo em nós uma nova normalidade, um novo jeito de ser no
mundo. Tudo muda, nós mudamos também. A vida toma novos contornos, passamos a
ver, sentir e pensar de um modo diferente, e isso necessariamente não é ruim,
pois o que importa é manter um caminhar firme e decidido, continuar tentando viver
da melhor maneira que pudermos; há sempre algo a ser descoberto, novos amigos a
serem feitos, uma vida de possibilidades que se renova a cada passo a nos surpreender
constantemente.
A vida pode ser mais do que isso, mais do que dores e cansaço, mais do que política e descaso. Há de haver um compromisso, uma vontade de fazer diferente, de não ser como toda essa gente que só faz o que é preciso. Está mais do que na hora de vivenciar a poesia, esta linda ave canora , à luz do dia a dia. E para além das palavras, um aroma doce e suave, uma canção sempiterna e um desejo de encontro.
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